Discos para história: Blizzard of Ozz, de Ozzy Osbourne (1980)


A 71ª edição do Discos para história é sobre Blizzard of Ozz, primeiro álbum solo de Ozzy Osbourne. Recém-expulso do Black Sabbath, Ozzy passava seus dias bebendo, cheirando cocaína e pensando em se matar. Mas Sharon Arden, a atual Sra. Osbourne, apareceu em sua miserável vida e mudou o rumo das coisas.

História do disco

No final dos anos 1970, o Black Sabbath já não era mais tão empolgante como em seus primeiros anos de atividade. Envoltos em um emaranhado de drogas, bebidas e farras épicas, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward não conseguiram fazer bons discos de em Technical Ecstasy, de 1976, e Never Say Die!, de 1978. Durante a década, eles aproveitaram bastante o sucesso, mas as tensões foram crescendo e crescendo ao longo do período de convivência.

De volta ao estúdio depois de mais uma turnê, o grupo se reuniu, porém não havia mais a menor sintonia entre os membros. Um Ozzy bêbado perambulava pelo estúdio fazendo um trabalho porco. Os outros não estavam em uma situação muito diferente, mas o vocalista acabou sendo escolhido como bode expiatório dos problemas e acabou sendo demitido pelo guitarrista Tony Iommi, apoiado por Butler e Ward. Ronnie James Dio, do Rainbow, foi escolhido como vocalista substituto.

O velho Ozzy ficou devastado. Pela primeira vez em mais de uma década, ele estava desempregado e sem perspectiva – exatamente o que ele passou no período em que saiu da escola e arrumou vários empregos em Birmingham, sua cidade natal. Com depressão, o então ex-vocalista do Sabbath ocupava seus dias comendo pizza e bebendo cerveja. Então Sharon Arden apareceu.


Filha de Don Arden, um dos empresários mais conhecidos da história do rock, ela salvou Osbourne de morrer. E não é exagero. Acima do peso, longe da mulher e dos filhos e cheirando mais cocaína do que nunca, sua perspectiva de vida era nula. Um dia, ela o encontrou dormindo em uma poça de urina no hotel em que estava hospedado – a futura mulher de Ozzy foi a única pessoa que o colocou na linha. Nessa época, Sharon topou ser a empresária dele, mas só se o cantor entrasse em forma e topasse gravar um disco solo, que viria a ser Blizzard of Ozz.

Em uma das audições organizadas pela empresária para achar uma banda para gravar o álbum, eles acharam o jovem Randy Rhoads. Um gênio da guitarra aos 22 anos, ele seria fundamental na reconstrução de Ozzy na música. O baixista Bob Daisley, o baterista Lee Kerslake e o tecladista Don Airey completaram a formação da primeira banda que o acompanharia nas gravações do disco e nas turnês.

Claro que existia uma competição entre o vocalista e sua ex-banda. O disco com Dio nos vocais foi muito bem recebido pelos fãs e pela crítica, enquanto Osbourne juntou uma trupe de desconhecidos para gravar Blizzard of Ozz. O mérito desse primeiro trabalho solo está na competência de todos os envolvidos, da composição até a produção e divulgação. A junção do tino empresarial de Sharon mais a vontade de Ozzy em mostrar que era capaz de fazer algo realmente bom foram determinantes para o sucesso dele na carreira solo. Claro, o ótimo material contribuiu. O álbum chegou ao sétimo posto nas paradas do Reino Unido e a 21ª posição nos Estados Unidos. Por muitos anos, foi a melhor posição de Ozzy nas paradas.



Resenha de Blizzard of Ozz

O maravilhoso riff inicial de "I Don't Know" já era melhor do que qualquer coisa que Ozzy Osbourne havia feito com o Black Sabbath em muitos anos. Se não estava sóbrio, ao menos estava dedicado e decidido a fazer algo realmente bom. Com contribuição do guitarrista Randy Rhoads, a primeira faixa de Blizzard of Ozz é um dos marcos do heavy metal – o solo na parte final é um absurdo de tão bom. E o renascimento do vocalista como um dos grandes de sua geração.

Outra canção muito marcante desse disco é "Crazy Train", com a introdução do baixo de Bob Daisley automaticamente lembrando que ela é de Ozzy. Batendo o sétimo lugar quando lançada em single, acabou virando um dos clássicos dos shows e dos anos 1980. O refrão Mental wounds not healing/ Who and what's to blame/ I'm going off the rails on a crazy train/ I'm going off the rails on a crazy train é matador. Mudando drasticamente, a balada "Goodbye to Romance" é sobre sua demissão do Black Sabbath meses antes. O verso I've been the king/ I've been the clown/ No broken wings can hold me down/ I'm free again diz muito sobre isso.



A instrumental “Dee” faz a ponte entre esse começo cheio de mágoa e desabafo para a segunda metade do disco, com cinco músicas. Duas polêmicas envolvem a letra de "Suicide Solution". A primeira é que Bob Daisley alega que a escreveu junto com Roads, e que Ozzy não teve envolvimento – o vocalista desmente e afirma que ela é sobre a morte de Bon Scott, vocalista do AC/DC, morto em 1980. Segundo, em 1986, John McCollum se suicidou, e os pais dele processaram os Osbourne e a gravadora por “incentivar as pessoas ao suicídio”. A justiça indeferiu o processo alegando que a “primeira emenda garante o direito de liberdade à expressão”.

Osbourne achou um baralho de tarô e um livro sobre o mago e ocultista Aleister Crowley e resolveu escrever "Mr. Crowley", que lembra bastante o estilo de música feito nos primórdios do Sabbath. A introdução foi escrita pelo tecladista Don Airey, mas ele nunca foi creditado. "No Bone Movies" não era para aparecer no álbum e ficou fechado que ela seria o lado B de algum single. Por ser a única canção com contribuição de Lee Kerslake, último a de juntar ao grupo, ela entrou para dar a ele o gosto de ter seu nome creditado nas composições.



Mais longa de todo álbum, "Revelation (Mother Earth)" parece uma peça de ópera de tão bem elaborada. É o melhor de dois mundos com instrumentistas da mais alta qualidade acompanhando um Ozzy vivendo grande fase. Ela emenda com "Steal Away (The Night)", que soa como uma declaração de amor à Sharon (Can it be a dream come true/ Now that I am here with you/ Tearful eyes of joy is something new/ Runaway with me tonight/ Dream the dream/ Light the light/ Happiness is what you give to me dá uma ideia melhor sobre isso).

Ozzy voltou com tudo. Depois de ser jogado na rua como Jazz em Um Maluco no Pedaço, o cantor conseguiu reunir músicos talentosos e inspirados para fazer seu melhor disco solo logo em sua estreia. Os anos seguintes foram difíceis para ele, mas hoje Osbourne é aclamado por seus fãs. E é isso que importa.



Ficha técnica:

Tracklist:

1 - "I Don't Know"
2 - "Crazy Train"
3 - "Goodbye to Romance"
4 - "Dee" (Rhoads)
5 - "Suicide Solution"
6 - "Mr. Crowley"
7 - "No Bone Movies" (Osbourne, Rhoads, Daisley e Lee Kerslake)
8 - "Revelation (Mother Earth)"
9 - "Steal Away (The Night)"

Todas as canções foram escritas por Ozzy Osbourne, Randy Rhoads e Bob Daisley, exceto as marcadas

Gravadora: Jet
Produção: Ozzy Osbourne, Randy Rhoads, Bob Daisley e Lee Kerslake
Tempo: 39min31s

Ozzy Osbourne: vocais
Randy Rhoads: guitarras
Bob Daisley: baixo e vocais de apoio
Lee Kerslake: bateria e percussão
Don Airey: teclado

Veja também:
Discos para história: Horses, de Patti Smith (1975)
Discos para história: 461 Ocean Boulevard, de Eric Clapton (1974)
Discos para história: Ramones, dos Ramones (1976)
Discos para história: Trompe Le Monde, do Pixies (1991)
Discos para história: Badmotorfinger, do Soundgarden (1991)
Discos para história: Ten, do Pearl Jam (1991)

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