Discos para história: The Smiths, dos Smiths (1984)


A 72ª edição do Discos para história desta semana fala sobre a estreia dos Smiths em estúdio que completou 30 anos recentemente. Formado por Morrissey, Johnny Marr, Andy Rouke e Mike Joyce, o grupo de Manchester foi um dos mais importantes dos anos 1980 com sua incrivelmente fiel base de fãs. E ainda influencia uma centena de jovens todos os anos.

História do disco

Depois do fim do Nosebleeds, uma das muitas bandas punk que surgiram nos anos 1970, Steven Patrick Morrissey estava com várias letras de músicas prontas, mas não tinha mais um grupo para ser o vocalista. Então, um dia, aconteceu o encontro que ajudou a mudar a cara dos anos 1980. Morrissey conheceu John Martin Maher, um conhecido guitarrista da cena de Manchester que circulava no meio desde os 13 anos.

Juntos, a dupla com ajuda do baterista Simon Wolstencroft, eles gravaram algumas demos, mas, em 1982, Morrissey convidou Mike Joyce para ser o baterista oficial do grupo. Nisso, Dale Hibbert já estava como baixista e cedia o estúdio caseiro que tinha para o quarteto gravar. No período em que ficaram juntos, Hibbert não agradou Marr, que alegou falta de personalidade para não mantê-lo. Ele foi substituído por Andy Rouke. Pronto, a formação original dos Smiths estava pronta. Aliás, o nome era uma provocação aos nomes de bandas synthpop e pós-punk surgidas entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1980.

Não demorou muito para chamar atenção de uma gravadora e a banda fechou com a Rough Trade para lançar o primeiro single, "Hand in Glove", em maio de 1983. Apresentado pelo DJ da BBC John Peel, a faixa não chegou aos lugares mais altos das paradas, mas "This Charming Man" e "What Difference Does It Make?", as canções posteriores, conseguiram posições melhores e chamaram atenção da mídia para o talentoso grupo.


Mas um pouco antes disso, eles tiveram que gravar o primeiro álbum de estúdio. Claro, por pura estratégia, dar o nome da banda ao álbum é uma boa maneira de chamar atenção. Chefe da Rough Trade, Geoff Travis sugeriu que Troy Tate fosse o produtor de The Smiths. Contrato assinado, eles trabalharam durante um mês nas canções que entrariam no trabalho.

Porém nem tudo correu as mil maravilhas, e Travis estava muito insatisfeito com o trabalho de Tate como produtor. Sentindo que o trabalho não renderia o esperado, discretamente, Travis sugeriu a regravação do material com John Porter, conhecido produtor, como uma espécie de observador/olheiro/ajudante da banda. Morrissey aceitou de imediato, mas Marr teve mais trabalho para aceitar. Mesmo relutante, o guitarrista topou mudar o viés do álbum.

Com uma turnê em vias de acontece, as novas gravações aconteceram no espaço entre um show e outro e foram finalizadas apenas em novembro de 1983. Mesmo não achando o disco excelente, a banda acabou sendo forçado a lançá-lo do jeito que estava. Segundo o cantor, “pelo custo de seis mil libras, o LP tinha que ser lançado de um jeito ou de outro”.

Já fazendo enorme sucesso no Reino Unido, The Smiths bateu no número dois das paradas na semana de seu lançamento. A capa, uma das mais icônicas do rock, tem Joe Dallesandro em um desenho feito por Andy Warhol e foi inteiramente pensada por Morrissey. O legado desse álbum não está na quantidade de vendas, mas nas pessoas que ouviram suas músicas e tiveram seus corações tocados. Não é de graça que, 30 anos depois de seu lançamento, ainda seja um LP cultuado pela geração que está batendo na casa dos 40 anos neste século 21. O Smiths fez muito mais por eles nos anos 1980 do que qualquer adulto.



Resenha de The Smiths

Logo no início de "Reel Around the Fountain", é possível detectar o uso da bateria eletrônica com efeitos. Outra facilmente perceptível nas letras de Morrissey é o tom poético delas com uma tendência ao romantismo adolescente. Se formos pensar bem, é algo normal. Ele só tinha 25 anos quando gravou o primeiro disco dos Smiths, e as letras são reflexos de sua vida e de determinados momentos. É assim, autobiográfico, que os Smiths começaram sua trajetória na música. Uma letra que reflete o momento de crise que a Inglaterra viveu nos anos 1980 é "You've Got Everything Now" ao falar sobre desemprego e momentos de incertezas misturados com sentimentos fortes por outra pessoa.

Uma coisa que chama muito atenção nos Smiths é a capacidade melódica da banda. Letra a parte, o trio formado por Johnny Marr, Andy Rouke e Mike Joyce consegue dar ainda mais peso e envolvimento do ouvinte nas músicas. A chamada ‘cozinha’ musical é precisa. Claro que não poderia faltar uma canção reclamando do amor não correspondido, com "Miserable Lie" cumprindo muito bem esse papel, assim como "Pretty Girls Make Graves", que trabalha bem o uso das metáforas e do jogo de palavras. Aqui, vemos uma música em que não há idas e vindas, tampouco há refrão. Ela é corrida e termina com uma boa parte instrumental. Fechando o lado A do LP, "The Hand That Rocks the Cradle" é outra que apela ao ar poético-romântico de Morrissey.



"Still Ill" abre o lado B e mostra a vertente mais pop do grupo, servindo de parâmetro para outros grupos que vieram no futuro. Primeiro single dos Smiths a entrar no mercado, "Hand in Glove" só foi bem na parada indie, não fazendo nem cócegas na parada pop. Falando sobre a solidão completa do ser humano, a faixa foi uma das muitas que foram refeitas com a nova produção, ganhando outra cara – uma cara mais Smiths, diga-se.

O riff de "What Difference Does It Make?" mostra como Marr já tinha um potencial enorme para ser um dos grandes guitarristas de sua época. O refrão So, what difference does it make?/ So, what difference does it make?/ It makes none/ But now you have gone/ And you must be looking/ Very old tonight é cantado com todos os floreios que deixaram Morrissey conhecido pelo mundo. É outra faixa tipicamente Smiths. Mais uma vez, Morrissey conquista o ouvinte com sua poesia em "I Don't Owe You Anything", uma faixa para ser ouvida sozinho enquanto pensa na pessoa amada.



Por fim, inspirada no famoso Moors murders ocorrido em Manchester antes de os membros da banda nascerem, "Suffer Little Children" quase não apareceu nos relançamentos seguintes. A família dos envolvidos nos assassinatos chegou a entrar na justiça para tirar a canção de circulação, mas a banda conseguiu convencê-los das boas intenções ao lançar a letra – Moz até ficou amigo da mãe das vítimas – e tudo ficou esclarecido.

Os Smiths, logo nesse primeiro disco, mostraram ao mundo que a Inglaterra é um verdadeiro berço de novidades musicais. E Manchester também provaria ao mundo que, assim como Liverpool, também é um ótimo lugar para o nascimento de bandas de sucesso.



Ficha técnica:

Tracklist*:

Lado A

1 - "Reel Around the Fountain"
2 - "You've Got Everything Now"
3 - "Miserable Lie"
4 - "Pretty Girls Make Graves"
5 - "The Hand That Rocks the Cradle"

Lado B

6 - "Still Ill"
7 - "Hand in Glove"
8 - "What Difference Does It Make?"
9 - "I Don't Owe You Anything"
10 - "Suffer Little Children"

Todas as canções foram escritas por Morrissey e Johnny Marr.

*”This Charming Man” apareceu apenas nas versões americana do disco e no K7 da versão inglesa no ano de seu lançamento. Apenas em 1993, no primeiro relançamento, foi colocada no álbum no Reino Unido e faz parte de todos os relançamentos até hoje. É uma das melhores músicas lançadas pela banda.

Gravadora: Rough Trade
Produção: John Porter e The Smiths
Tempo: 40min

Morrissey: vocais
Johnny Marr: guitarra e gaita
Andy Rourke: baixo
Mike Joyce: bateria

Convidados:

Paul Carrack: teclado em "Reel Around the Fountain" e "I Don't Owe You Anything"
Annalisa Jablonska: vocais em "Pretty Girls Make Graves" e "Suffer Little Children"

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