Discos para história: Harvest, de Neil Young (1972)


A 53ª edição do Discos para história falará sobre o disco que catapultou Neil Young para o mundo. Desacreditado como cantor, ele persistiu e foi valorizado não só como líder de uma banda, mas como um dos futuros grandes guitarristas e compositores da música americana.

História do disco

O fim da Buffalo Springfield e de sua participação no Crosby, Stills, Nash & Young colocaram Neil Young em um novo caminho: o de gravar seu quarto disco solo. Ele queria algo mais country no que viria a ser Harvest. A ideia de fazer um disco assim surgiu um ano antes, quando ele participou do programa comandado pro Johnny Cash e viu que era possível fazer um novo trabalho, mesclando folk e rock.

Em Nashville mesmo, local do programa, as gravações começaram e foram pautadas pela espontaneidade dos participantes, que tinham total liberdade para improvisar e acrescentar partes que julgavam importantes na melodia. O álbum também foi importante por reunir Ben Keith, David Crosby, Stephen Stills, Graham Nash, a Crazy Horse e Linda Ronstadt, dentre outros.

Como todos tinham compromissos, as gravações aconteceram em períodos separados entre janeiro e setembro de 1971 em diversos lugares. Por exemplo, se Young gravava sua voz em seu rancho na Califórnia em maio, Crosby, Stills e Nash só gravariam os vocais de apoio em agosto, em um estúdio em Nova Iorque. Já afeito à tecnologia, o álbum foi feito e trabalhado para ter o melhor amplificador, a melhor guitarra, a melhor mesa de gravação, o melhor estúdio... Enfim, o cantor e compositor queria um disco impecável.


Lançado dia 14 de fevereiro de 1972, Harvest lançou Neil Young ao estrelato na carreira solo, igualando os feitos de seus antigos companheiros de banda. O single “Heart of Gold” foi carro-chefe das vendas, mesmo sem agradar aos críticos. À época, a Rolling Stone EUA (sempre ela) soltou uma resenha bem negativa – a bem da verdade, não foi só a revista que fez isso, mas ela acabou marcada. O quarto álbum de estúdio só foi reconhecido como um dos grandes dos anos 1970 muito tempo depois de seu lançamento.



Resenha de Harvest

Começando com uma gaita bem calma, "Out on the Weekend" fala sobre aquele amor que acabou, uma letra tão autobiográfica que é impossível não se identificar pela tristeza do acontecido. Impossível não lembrar como isso é doloroso em qualquer idade. Perder um grande amor não é fácil. A melodia é preenchida por uma bateria etérea e uma guitarra slide poderosa. No embalo do violão, a lindíssima "Harvest" fala sobre sonho em meio à realidade – é difícil até mesmo controlar a emoção ao ouvi-la atentamente. Além dos instrumentos já citados anteriormente, um piano ajuda na condução desse country-folk que chamou atenção de milhões de pessoas pelo mundo para atentar ao fato de que mudar não significa deixar de sonhar, mesmo que a realidade não seja aquilo que você planejou.

O piano e o uso de instrumentos de corda e percussão deram uma cara de história, com início, meio e fim, para "A Man Needs a Maid". O primeiro verso, My life is changing in so many ways/ I don't know who to trust anymore/ There's a shadow running thru my days/ Like a beggar going from door to door, dá todo tom da faixa. A próxima canção é apenas o single de maior sucesso da carreira de Young e mais vendido da história do cantor.



"Heart of Gold" foi tocada para o público antes mesma de ser gravada, aumentando sua importância a quem ouvia. Ela é simples no geral, porém é bela exatamente por isso. O trecho I've been to Hollywood, I've been to redwood/ I've crossed the ocean for a heart of gold/ I've been in my mind, its such a fine line/ That keeps me searching for a heart of gold/ And I'm getting old/ It keeps me searching for a heart of gold/ And I'm getting old é biográfico, então é possível saber como estava a vida do cantor nesse período. A faixa conta com James Taylor e Linda Ronstadt nos vocais de apoio.

O lado A termina com a animada "Are You Ready for the Country?", que, pela primeira vez, convida o ouvinte para relaxar um pouco, já o lado B traz a reflexão novamente em “Old Man”, que o cantor já atentava para quando fosse ficar mais velho ao dialogar com uma pessoa mais velha, inspirado no momento em que precisou vendeu seu primeiro rancho. O tom, uma mistura entre leve e forte, impressiona – o refrão é muito poderoso.

"There's a World" tem um arranjo que impressiona por não ser nada country. Ela tem um quê de filme de suspense em que você prende a respiração até o próximo take, bem diferente de “Alabama, essa, sim, uma canção que lembra Neil Young. Vocais de apoio, uma banda atuante, um cantor empunhando sua guitarra, riffs precisos ao fundo. Enfim, voltamos ao básico.



Única canção ao vivo do disco, "The Needle and the Damage Done" é uma homenagem ao guitarrista da Crazy Horse Danny Whitten. Viciado em heroína, ele estava se matando aos poucos, segundo Young disse anos depois. A letra era uma tentativa de chamar a atenção dele, porém sem sucesso. Ele morreria em novembro de 1972. Ao melhor estilo ‘poesia musicada cheia de improvisos’, "Words (Between the Lines of Age)" encerra Harvest muito bem.

Desacreditado por diretores de gravadoras, ele não desistiu; marcado por não ter uma boa voz, ele não desistiu; grande guitarrista que era, treinou ainda mais e se aperfeiçoou; letrista do mais alto nível, sempre conseguiu passar suas emoções como poucos. Todos esses fatores fizeram de Neil Young um dos grandes de seu tempo. E esse disco é a cara dele.

Tracklist:

Lado A

1 - "Out on the Weekend"
2 - "Harvest"
3 - "A Man Needs a Maid"
4 - "Heart of Gold"
5 - "Are You Ready for the Country?"

Lado B

1 - "Old Man"
2 - "There's a World"
3 - "Alabama"
4 - "The Needle and the Damage Done" (gravada ao vivo em janeiro de 1971)
5 - "Words (Between the Lines of Age)"

Todas as canções são creditadas para Neil Young.

Ficha Técnica

Gravadora: Reprise
Produção: Neil Young, Elliot Mazer, Henry Lewy e Jack Nitzsche
Tempo: 37min11s

Neil Young: guitarra, piano, gaita e vocais
Ben Keith: guitarra slide
Tim Drummond: baixo
Kenny Buttrey: bateria



Convidados

Jack Nitzsche: piano, guitarra slide e arranjos em "A Man Needs A Maid” e "There's A World"
John Harris: piano em "Harvest"
Teddy Irwin: guitarra em "Heart of Gold"
James McMahon: piano em "Old Man"
James Taylor: banjo e vocais de apoio em "Heart of Gold" e "Old Man"
Linda Ronstadt: vocais de apoio em "Heart of Gold” e "Old Man"
David Crosby: vocais de apoios em "Are You Ready for the Country" e "Alabama"
Stephen Stills: vocais de apoio em "Alabama" e "Words"
Graham Nash: vocais de apoio em "Are You Ready for the Country" e "Words"
London Symphony Orchestra: percussão e cordas em "A Man Needs A Maid" e "There's A World"

Veja também:
Discos para história: Traveling Wilburys Vol. 1, do Traveling Wilburys (1988)
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