Crítica: Karen Carpenter - Starving for Perfection, de Randy Martin

Documentário assistido no In-Edit Brasil 2024, marcado para acontecer de 12 a 23/06

“Agnes [mãe de Richard e Karen Carpenter] só queria proteger a imagem da família perfeita que eles tinham. Eles só queriam um fim normal, mas acabaram ganhando um fim de Hollywood”, disse Barry Morrow, roteirista do filme “A História de Karen Carpenter”, lançado em 1989. Ele, amigos, colegas de trabalho e gente que conviveu com os Carpenters contam a trágica história da cantora e baterista no documentário “Karen Carpenter - Starving for Perfection”, dirigido por Randy Martin e de nome certeiro, apoiados por áudios inéditos de entrevistas dela nunca publicadas.

Logo nos primeiros minutos, o espectador já precisa lidar com a morte de Karen, ocorrida em 4 de fevereiro de 1983, quando ela tinha apenas 32 anos. E com Cynthia Gibb, a atriz interpretou Karen no filme, revelando que não conseguiu vestir a última roupa usada por ela, de tão pequena. A partir desse ponto, colocado de lado até a segunda metade do documentário, podemos conhecer um pouco mais da vida dela, de como ela foi preterida pela própria mãe em detrimento do irmão Richard, quem a família apostava no talento para se tornar um grande músico.

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Quando eles se mudam para Los Angeles em busca de uma oportunidade para o filho pródigo, Karen se interessa por bateria e acaba conseguindo um contrato solo, barrado pela mãe. Ela só aceitava se os dois fossem contratados. E assim foi feito. Após tentativas frustradas de conjuntos, os irmãos uniram forças no duo Carpenters. Começava ali uma das grandes trajetórias da música americana ainda no final dos anos 1960, com um passo ousado: o primeiro single foi uma versão totalmente nova para “Ticket to Ride”, dos Beatles. Na época, o álbum de estreia não fez sucesso, mas deu o tom das futuras produções da dupla.

Aos poucos, quem via Karen não acreditava naquela voz e talento tão precoces na bateria. Ela começou a crescer, ao mesmo tempo que ainda mantinha fortes laços com a mãe controladora, responsável pela demissão da figurinista da cantora, então namorada de Richard. Os depoimentos deixam claro: nada acontecia na família sem aprovação de Agnes, que se mostrava cada vez mais incrédula com a atenção recebida pela filha em detrimento do filho pródigo e treinado para ser melhor músico. Esse ponto do documentário tem um incômodo por parte de todo mundo com essa relação estranha e controladora. A ruína de Karen começa com essa busca insana para agradar aos outros Carpenters e se sentir minimamente aceita entre eles. De abdicar da bateria para ficar na frente do palco a não questionar as escolhas do irmão, ela fez de tudo para agradar.

Um dia, ela se achou gorda ao ver imagens de uma participação em um especial de TV em 1973. Decidiu que deveria perder 5 kg. E ela passou a próxima década eliminando esse peso com o uso indiscriminado de remédios, laxantes e técnicas para causar o vômito. Cada vez mais magra, era impossível não notar a diferença de alguém que saiu de próximo dos 50 kg para 35 kg em pouquíssimo tempo. Um dos depoimentos mais fortes e tristes é da ex-atriz Cherry Boone O'Neill, uma sobrevivente da anorexia nervosa e pessoa que Karen pediu ajuda no início dos anos 1980, que viu no polêmico curta “Superstar: The Karen Carpenter Story”, de 1987, dirigido pelo então estudante Todd Haynes, um retrato perfeito da situação de Karen nos anos finais.

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Com os dois biógrafos se completando, depoimentos de gente como Belinda Carlisle e Carol Burnett, a presença da melhor amiga Olivia Newton-John (1948-2022) e outras pessoas próximas, o declínio físico de Karen é relatado com tristeza, quando a busca por uma perfeição utópica a levaram a uma morte lenta. A cada queda na vida pessoal, uma recaída pesada. E a cada não da família dentro e fora dos palcos, vários dias sem comer. O fim soava cada vez mais inevitável.

“Karen Carpenter - Starving for Perfection” é um documentário simples de maneira geral, mas que ganha força com as falas de artistas que enfrentaram os mesmos problemas e com pessoas dispostas a falar dos bastidores da família, como o caso do vício em remédios de Richard nunca relatados pela imprensa na época do auge da dupla. Um imenso talento se foi de maneira trágica em uma das histórias mais tristes da música dos últimos 40 anos, mas com um legado imenso até hoje. O consolo é saber que a voz de Karen nunca se calará.

Avaliação: muito bom

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