Quando a abertura oficial da Disney para filmes e animações próprias aparece logo nos primeiros segundos de “The Beach Boys”, a confiança por um bom documentário começa, lentamente, a escorrer pela tela. Em um estúdio mundialmente conhecido por não entrar em controversas e ceder às pressões do público, realizadores e personagens, esperar polêmicas ou qualquer coisa do tipo é como esperar a presença de Paulo Maluf no show do Interpol.
Dirigido por Frank Marshall, o longa apresenta todos os integrantes ainda vivos, com uma breve aparição de Brian Wilson no começo e no final — recentemente, os filhos concordaram em deixar a empresária e a relações-públicas como tutores oficiais, além de concordarem com tratamento médico em tempo integral, já que ele não consegue mais fazer determinadas coisas sozinho.
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O Beach Boys foi o caso de uma banda que estava na hora certa, no momento certo e com as músicas certas para aproveitar a moda do surfe na Califórnia. O grupo, formado inicialmente pelos irmãos Brian, Carl e Dennis, o primo Al Jardine e o amigo Mike Love, estourou logo no primeiro single e rapidamente conseguiu uma gravadora,através do insistente do patriarca dos Wilson, o músico e empresário Murry, um carrasco com ciúmes do sucesso dos filhos e autor de uma manobra que acabou com qualquer relacionamento entre eles. Entre trocas de integrantes, incluindo uma rápida participação de Glen Campbell, eles embalaram sucesso atrás de sucesso.
O início soa promissor, principalmente ao explicar como eles se juntaram para formar a banda e, diferentemente do alardeado ao longo dos anos, Wilson, logo após o primeiro hit, não queria fazer turnês e preferia o papel de produtor e compositor das músicas. E assim foi feito. À medida que o tempo passa, principalmente quando o papel de Wilson ganha cada vez mais destaque como uma espécie de regente em estúdio com ajuda da ótima banda de estúdio Wrecking Crew para “concorrer” com os Beatles, Love claramente fica desconfortável e evita qualquer manifestação mais fervorosa.
É nessa falta de manifestação um dos pontos ruins do documentário. O incômodo está presente até hoje, mas todo mundo ali evita falar mal uns dos outros, como se a relação fosse sempre ótima. Love processou Wilson diversas vezes, por royalties ou pela marca Beach Boys, e deve ter demitido Jardine da banda umas quatro vezes em busca de controle e minimizar danos para si. As histórias são públicas e escondê-las só deixa o documentário com cara de uma longa propaganda.
Para não falar apenas de coisas ruins, os problemas de saúde mental de Brial Wilson são abordados sob uma ótica muito interessante: no começo, esse turbilhão veio com a mudança de pensamento reinante da época, com a música de protesto surgindo com força e com a psicodelia começando a ocupar um espaço nos ouvidos e na mente das pessoas. Na pressa em tentar alcançar os outros, ele se perdeu sem conseguir fazer a transição adequada das músicas “bobinhas” para algo adulto. Os fãs estranharam e muito, fazendo de “Pet Sounds” um fracasso e engavetando o projeto “Smile”.
Quando os problemas aumentam, de relacionamento, de drogas, o envolvimento de Dennis com Charles Manson, a falta de hits e apresentações para públicos paupérrimos, o longa fica uma correria danada. Alguns assuntos são atropelados sem mais nem menos até o ressurgimento do sucesso, graças ao lançamento de uma coletânea, porta de entrada de uma nova geração de fãs para a música feita por eles no início dos anos 1960.
Veja também:
Crítica: Thank You, Goodnight - A História de Bon Jovi, de Gotham Chopra
Crítica: The Beatles - Let It Be, de Michael Lindsay-Hogg
Crítica: Hallelujah - Leonard Cohen, Uma Jornada, Uma Canção, de Daniel Geller e Dayna Goldfine
Crítica: A Noite que Mudou o Pop, de Bao Nguyen
Crítica: A Última Loja de Consertos, de Ben Proudfoot e Kris Bowers
Crítica: Jon Batiste - American Symphony, de Matthew Heineman
“The Beach Boys” tinha tudo para ser um ótimo documentário, mas é uma decepção por uma série de motivos, sendo o principal deles não mostrar os reais problemas por trás da decadência da banda no final dos anos 1960. É uma parte importante para entendermos não apenas as brigas, mas como uma geração de fãs conseguiu fazer de “Pet Sounds” um sucesso ao apontar as qualidades não vistas pela crítica época.
Com um legado enorme e cheio de boas histórias, banda e admiradores mereciam algo melhor, não um material apenas exaltando os grandes momentos e jogando uma luz muito fraca nas coisas ruins. Artistas desse tamanho são desse tamanho justamente pela união de erros e acertos e merecem mais do que algo esquecível.
Avaliação: ruim
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