Crítica: DEVO, de Chris Smith

Documentário assistido no In-Edit Brasil 2024, marcado para acontecer de 12 a 23/06

Chris Smith não é um diretor novato quando o assunto são documentários. Ele lançou um sobre os bastidores do fracasso Fyre Festival, um sobre Robert Downey Sr., pai de Robert Downey Jr., e outro sobre a dupla Wham!, todos de qualidade indiscutível e disponíveis na Netflix. Mais uma vez no mundo da música, a nova empreitada dele é falar do DEVO, grupo formado em Akron, Ohio, que ganhou o mundo ao longo de 50 anos de carreira.

Um dos méritos de Smith na direção é conseguir reunir todos os integrantes para falar sobre a banda. Por exemplo, eu duvido que a maioria das pessoas saiba que o grupo pré-DEVO nasceu como uma espécie de resposta ao Massacre de Ken State, vitimando quatro estudantes que protestavam ao lado de muitos outros pelo fim da Guerra do Vietnã. Ou ainda que o nome vem ‘de-evolution’, um conceito cientifico e social da evolução humana através dos tempos. Essas são duas coisas importantes na formação e no caráter do grupo, pilares carregados até hoje por Mark Mothersbaugh e Gerald Casale em qualquer trabalho — dentro ou fora da música.

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O segundo mérito do documentário está na edição esperta. Quando se trata de histórias de bandas ou artistas, é necessário encontrar o ritmo certo para desenvolver o material e conquistar o público. Mesmo com passagens incríveis ou momentos inesquecíveis pelos fãs, o editor pode estragar tudo se não conseguiu fazer uma montagem adequada. Joey Scoma faz isso muito bem e, com músicas da banda ao fundo, ajuda a fazer quase um enorme Greatest Hits para mostrar as referências artísticas, literárias e musicais.

Contextualizar o DEVO é importante, principalmente pelo fato de as pessoas não entenderem as músicas até hoje. A arte, ironia e sátira são coisas cada vez mais perdidas pela sociedade ao longo dos anos, com eles sendo a prova concreta disso em cinco décadas. As músicas dançantes trazem mensagens sociais importantes sobre determinado período, quase uma crônica completa e recheada de comentários sociais. Mas insistiam, ou insistem, em focar no capacete estranho, no cabelo falso ou no clipe estranho do hit inesperado “Whip It”, responsável por catapultá-los ao massacrante mainstream e fazer a gravadora sempre esperar por um novo hit — o que nunca aconteceu novamente, atendendo as expectativas da banda sobre eles mesmos.

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As imagens de arquivo ao longo dos anos e de diversos outros artistas, como Brian Eno, Iggy Pop e David Bowie, complementam muito bem com os depoimentos dos integrantes ainda vivos. As histórias recheadas de um bom-humor irresistível trazem insistência em uma carreira condenada ao fracasso desde o primeiro dia, mas que, com uma vontade de se expressar após um terrível acontecimento, ganhou força quando as coisas começaram a dar certo.

O DEVO, com as músicas ousadas, clipes quando ainda não existia MTV e shows interativos quando nada disso era realidade, foi condenado no tribunal da música ao fim por inanição ao não atender determinados parâmetros de uma época. Em 90 minutos, Chris Smith mostra que fazer sucesso e fazer história, salvo aquelas exceções conhecidas mundialmente, caminham em lados opostos o tempo inteiro na música. Cinco décadas depois, são considerados inovadores e donos de uma estética única e impossível de ser copiada sem soar uma paródia. Apesar de tudo, eles cumpriram a missão, podem estrelar o próprio documentário e viver dessas ótimas anedotas contadas de um jeito muito DEVO de ser.

Avaliação: ótimo

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