Crítica: A Última Loja de Consertos, de Ben Proudfoot e Kris Bowers

A relação de uma pessoa com um instrumento musical começa muito cedo. Devido à curiosidade e a inocência infantis, bater em todas as teclas do piano, em todas as cordas do violão ou sair batucando em um tambor faz parte do aprendizado e do enlouquecimento de pais e vizinhos durante determinado período da vida da criança. Em “A Última Loja de Consertos”, curta que concorre ao Oscar na categoria em 2024, podemos conhecer parte fundamental dessa engrenagem: quem conserta esses instrumentos.

Em Los Angeles, os grandes estúdios de gravação têm acordos com escolas e centros de música para doar os instrumentos usados ou precisando de reparos. É nisso que entra um pequeno grupo de pessoas, cada qual responsável por um instrumento específico, fundamental para ajudar cada aluno a não ficar muito tempo sem tocar. Eles consertam os instrumentos, basicamente. 

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Quando o curta começa, parece praticamente certo que os diretores Ben Proudfoot e Kris Bowers, esse último compositor de trilhas sonoras para séries como “Bridgerton”, vão explorar a relação das crianças com cada instrumento. E isso acontece, mas em menor medida. A dupla, de forma muito inteligente e genuína, opta por contar as histórias de quem conserta os instrumentos. E foi assim que descobri ser possível chorar muito em pouco mais de 40 minutos, tempo de duração do filme.

A primeira história apresenta um homem gay que pensou em se matar por não conseguir ser ele mesmo em determinado período da vida. A seguinte traz uma imigrante mexicana, que mal tinha o que dar de comer aos filhos, que conseguiu esse emprego há quase 15 anos sem colocar muita fé nisso. E também apresenta o responsável pelo local, um imigrante do Azerbaijão que mal sabia falar inglês e, por pura sorte, contou com ajuda de um homem responsável por consertar pianos e pôde ter a chance de aprender tudo com ele. O personagem mais “fraco” é um ex-músico profissional que, ao conhecer Coronel Tom Parker — empresário de Elvis Presley —, enquanto fazia uma apresentação na calçada com a antiga banda, pôde rodar o mundo em quase 40 anos de carreira.

A inteligência da dupla de diretores está em humanizar ao máximo essas histórias, essas pessoas por trás de cada conjunto de adolescentes, de cada aula de música em algum lugar de Los Angeles. Ao fazer isso, entende-se que existe uma engrenagem por trás disso, uma pessoa cuidadosa com cada violino, com cada instrumento de sopro, com cada piano, que chega com algum pequeno defeito ou precisando ser praticamente reconstruído.

O tempo é ideal para mostrar essas pessoas. E o final, com um número musical com todo mundo em estúdio, é a maneira ideal de celebrar todos eles e o amor pela música, algo inabalável que faz de todos nós um pouquinho melhores em um mundo tão ruim e mesquinho.

Avaliação: ótimo

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