Crítica: Taylor Swift - The Tortured Poets Department

Taylor Swift vem embalada pelos sucessos dos relançamentos de antigos álbuns de estúdio e dos inéditos “Folklore” (2020), “Evermore” (2020) e “Midnights (2022), colossos que renderam a lucrativa e, por que não, histórica ‘The Eras Tour’ — disponível no Disney+. Os passos dela são seguidos de perto de fãs e pela imprensa, que passaram até a acompanhar jogos de futebol americano por conta do mais novo namorado. Então, a pergunta sempre a ser feita é: o que vem por aí?

A resposta chegou com “The Tortured Poets Department”, 11º álbum de estúdio, novamente com Jack Antonoff na produção e colaboração de Aaron Dessner, guitarrista e produtor do The National. “Fortnight”, com participação de Post Malone, abre apostando no sintetizador, na bateria eletrônica e em um vocal delicado a ponto de ser quase falado. A faixa-título funciona bem por conta do refrão e da levada simples da bateria eletrônica, com a voz da cantora sendo o destaque do início ao fim (“Who's gonna hold you? (Who?)/ Me/ Who's gonna know you?/ (Who?)/ Me/ And you're not Dylan Thomas, I'm not Patti Smith/ This ain't the Chelsea Hotel, we're two idiots/ Who's gonna hold you?”) e a sequência formada por “My Boy Only Breaks His Favorite Toys” e “Down Bad” soa sem inspiração e como se ela estivesse apenas repetindo coisas já ditas anteriormente.

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Uma das coisas notáveis é perceber como o ritmo muda quando Dessner aparece como creditado na produção. Começando com “So Long, London”, essa mais ousada do que as anteriores pelo tom meio raivoso e melancólico, quase como se o abandono fosse o nome do meio da cantora. E ao apelar ao lado pop para criticar o escrutínio público da vida privada — muitas vezes alimentado por ela mesmo —, “But Daddy I Love Him” traz o lado pop tão aclamado pelos fãs na última década. É dessas certeiras. O embalo é mantido na simples “Fresh Out the Slammer” e na participação do Florence and the Machine em “Florida!!!”, mas é perdido em “Guilty as Sin?”, quando a produção abafada não ajuda a colocar para fora todo potencial da faixa — era para ser um desses momentos épicos, não essa coisa morna. Sabe quando carro fica pedindo para passar a marcha na pista livre? Essa música é isso: fica na segunda o tempo inteiro.

Em “Who's Afraid of Little Old Me?”, ela solta voz em uma faixa crescente, mais uma vez prejudicada pela mão segurando o uso de mais elementos para criar o ambiente e deixar a canção florescer. Mais uma que o minimalismo mais atrapalha do que ajuda. O ar de mistério em “I Can Fix Him (No Really I Can)” ajuda a alimentar as teorias dos fãs, mas parece faltar alguma coisa para avançar e ganhar corpo. Quem tem corpo e floresce é a balada “Loml”, essa certeira e na medida certa — produção de Dessner, é claro.

A inspiração dos anos 1980 aparece em “I Can Do It with a Broken Heart”, de refrão dançante e grudento o suficiente para não sair da cabeça (“I'm so depressed, I act like it's my birthday every day/ I'm so obsessed with him, but he avoids me (He avoids me), like the plague/ I cry a lot, but I am so productive, it's an art/ You know you're good when you can even do it with a broken heart”). E a raiva é motivadora para outra música, “The Smallest Man Who Ever Lived”, quando Dessner consegue tirar o melhor da cantora em um momento de puro desabafo. A esquecível “The Alchemy” contrasta com a grandiosa “Clara Bow”, um bom encerramento para o trabalho.

Não dá para saber até que a ponto a pressa em lançar um novo trabalho para manter os fãs motivados levou a cantora a apostar no synth-pop e em uma parede sonora que preenche os espaços e, em vários momentos, sufoca as letras. Outro ponto negativo de “The Tortured Poets Department” é a tendência em lançar discos com muitas músicas, uma artimanha que funciona desde sempre na indústria e chegou ao auge na época do CD. Aqui, dez músicas, no máximo 11, eram suficientes para deixar tudo mais enxuto e melhor digerível — ao menos por enquanto, não vou passar perto da versão dupla.

Todo artista tem uma tendência a perder fôlego em determinado momento na carreira, exceto se tudo acabar no auge. Talvez, Taylor Swift tenha chegado nesse momento, em que o lançamento de novo material mais prejudica do que mantém o crescimento dos últimos anos. O trabalho não é ruim, mas, como bem sabemos, ela pode muito mais. Jack Antonoff pode mais. E Aaron Dessner vai bem, obrigado.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Fortnight” (featuring Post Malone)
2 - “The Tortured Poets Department”
3 - “My Boy Only Breaks His Favorite Toys”
4 - “Down Bad”
5 - “So Long, London”
6 - “But Daddy I Love Him”
7 - “Fresh Out the Slammer”
8 - “Florida!!!” (featuring Florence and the Machine)
9 - “Guilty as Sin?”
10 - “Who's Afraid of Little Old Me?”
11 - “I Can Fix Him (No Really I Can)”
12 - “Loml”
13 - “I Can Do It with a Broken Heart”
14 - “The Smallest Man Who Ever Lived”
15 - “The Alchemy”
16 - “Clara Bow”

Gravadora: Republic
Produção: Taylor Swift, Jack Antonoff, Aaron Dessner e Patrik Berger
Duração: 65min08

Avaliação: bom

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