Crítica: Adrianne Lenker - Bright Future

Para muitos, Adrianne Lenker ficou conhecida recentemente como a vocalista do Big Thief, principalmente com os lançamentos de “U.F.O.F.” e “Two Hands”, ambos de 2019, e “Dragon New Warm Mountain I Believe in You”, em 2022. Porém, ela já vinha de uma carreira solo longa, com o primeiro trabalho de 2006. Desde então, ela vem refinando o repertório em trabalhos muito bons, chegando ao melhor momento da vida profissional em “Bright Future”, sexto disco.

Lenker usa as letras como crônicas pessoais sobre vários assuntos importantes para ela. Na delicada “Real House”, aborda o fato de sempre se mudar na infância, até que tudo ganha nova perspectiva quando os pais compram uma casa pela primeira vez. E tudo muda mais uma vez quando percebe que o verdadeiro lar não é o espaço físico em si, mas um lugar onde você se sente bem (“We moved into a real house/ A wild field behind it/ I wanted to be an inventor/ Collected scraps to make a portal/ I wanted so much for magic to be real”).

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A força do country aparece na melancólica “Sadness as a Gift”, com o violão e o violino dando o tom do início do fim, e “Fool” é quase uma comédia romântica musicada, contando a história de um casal a partir de momentos bobinhos e importante na construção da intimidade. E se “No Machine” mostra uma forte influência de Joni Mitchell no arranjo para falar sobre como as máquinas estão comendo nossa personalidade, “Free Treasure” é o oposto disso, de como a graça da vida está nas coisas simples (“You show me/ Understanding/ Patience and pleasure/ Time and attention/ Love without measure (x2)”).

A espetacular “Vampire Empire” usa elementos do skiffle para contar de ardente paixão com toques de Bob Dylan em um ritmo acelerado e de refrão contagiante (“You give me chills, I've had it with the drills/ I am nothing, you are nothing, we are nothing with the pills/ I am empty 'til she fills, alive until she kills/ In her vampire empire, I'm the fish and she's my gills”).

Ao brincar com palíndromos, “Evol” traz uma melancolia difícil de não emocionar até mesmo o mais brutamonte dos homens e “Candleflame” coloca a inspiração gospel para trabalhar em uma canção delicada, com destaque para o uso econômico e eficiente do piano. Em “Already Lost”, o coro dá força e levantar o refrão com ajuda do banjo e serve de introdução para a bonita “Cell Phone Says” (“Cell phone says your name/ But I don't even hear it ring/ The July in winter and September spring/ Where way up north is the warmer weather”).

Viver ao máximo, apesar de todo sofrimento terreno, é o tema da filosófica “Donut Seam”. E o encerramento fica com a ótima “Ruined”, uma das melhores músicas do primeiro semestre, ao falar sobre algo maior do que a própria vida com o uso preciso de uma melodia de fazer chorar mais uma vez (“So much coming through, every hour too/ Can't get enough of you/ You come around, I'm ruined (x2)/ So much coming through, every hour too/ Can't get enough of you/ You come around, I'm ruined (x2)”).

Adrianne Lenker faz de “Bright Future” uma carta crua sobre a vida e usa das próprias histórias para buscar pequenas conexões com assuntos mais abrangentes, essas coisas que qualquer um tem facilidade em se conectar instantaneamente. Quase como uma grande demo, com pessoas ao fundo lavando a louça e conversando, o grau de intimidade é alto em um repertório honesto e brutalmente sincero. É um dos melhores álbuns do ano.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Real House”
2 - “Sadness as a Gift”
3 - “Fool”
4 - “No Machine”
5 - “Free Treasure”
6 - “Vampire Empire”
7 - “Evol”
8 - “Candleflame”
9 - “Already Lost”
10 - “Cell Phone Says”
11 - “Donut Seam”
12 - “Ruined”

Gravadora: 4AD
Produção: Philip Weinrobe/ Adrianne Lenker
Duração: 43min31

Avaliação: excelente

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