Crítica: Vampire Weekend - Only God Was Above Us

Os últimos três discos do Vampire Weekend levaram tempo até o lançamento. Tudo bem que enfrentamos uma pandemia recentemente, mas de “Modern Vampires of the City” até “Father of the Bride” foram seis anos, ainda mais se lembramos de três álbuns em cinco anos (de 2008 a 2013) quando ainda podia falar de uma banda em início de carreira. E foram cinco anos até “Only God Was Above Us” ficar pronto e ser disponibilizado em todas as plataformas digitais.

Escritas por Ezra Koenig entre 2019 e 2020, as músicas do novo trabalho de estúdio foram inspiradas pela Nova York dos anos 1980 e pela frase do título, retirada do depoimento de um passageiro presente no voo 243 da Aloha Airlines — quando uma falha estrutural fez com que o teto da aeronave fosse arrancado. “Ice Cream Piano” abre o álbum de maneira pessimista até virar uma canção agitada e com viradas para deixar qualquer um bem animado para falar sobre os problemas de comunicação entre as pessoas em plena era das redes sociais e respostas instantâneas.

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Apesar de ter experimentos no arranjo, “Classical” apresentar um ar pop, de refrão instrumental grudento em um andamento pouco usual na discografia da banda em uma grata surpresa (“I know that walls fall, shacks shake/ Bridges burn and bodies break/ It's clear something's gonna change/ And when it does, which classical remains?”) e a lenta “Capricorn” faz o ouvinte refletir em uma faixa que também usa e abusa de elementos musicais não convencionais.

Inspirada pelo jazz com certo toque experimental, “Connect” traz um momento cheio de criatividade, desses quase impossíveis de esquecer no curto prazo (“I know once it's lost it's never found/ I need it now/ The grid is buried in the ground/ Hopelessly down”), diferentemente de “Prep-School Gangsters”, essa com arranjo mais delicado para abordar o problema com drogas que invadiu Nova York nos anos 1980 — na época, as crianças ricas começaram a comprar drogas nos bairros mais pobres para revender nas escolas de alto padrão.

Com ares de Cypress Hill e Wu-Tang Clan, “The Surfer” aposta nas cordas e em uma guitarra bem anos 1970 para criar um clima ainda mais jazz do que as anteriores. E a geração millennial não fica de fora do álbum ao ser contemplada por “Gen-X Cops”, quando a banda aborda os problemas socio-econômicos dessa geração, mais livre, independente, mais vocal e mais ouvida em outros assuntos (“It wasn't built for me/ It's your academy/ But in my time, you taught me how to see/ Each generation makes its own apology”).

A banda subverte a ordem as coisas em “Mary Boone”, uma homenagem para negociante de arte e também fala sobre a vida ser uma tela em branco e como a ambição de sair de uma cidade pequena para uma grande é ótimo para qualquer geração. Em“Pravda”, eles abordam o desejo de ir embora de qualquer imigrante quando as coisas não dão certo, e “Hope” fecha com a mensagem: tem hora que é melhor simplesmente deixar para lá e seguir.

Inspirado do início ao fim, “Only God Was Above Us” é desses álbuns que merecerá mais audições porque, como ver filmes ótimos mais de uma vez, fica melhor a cada audição por perceber algo novo. Se é possível dividir o Vampire Weekend em duas fases, certamente a mais recente é a melhor pelo alto nível musical e um repertório praticamente imbatível.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Ice Cream Piano”
2 - “Classical”
3 - “Capricorn”
4 - “Connect”
5 - “Prep-School Gangsters”
6 - “The Surfer”
7 - “Gen-X Cops”
8 - “Mary Boone”
9 - “Pravda”
10 - “Hope”

Gravadora: Columbia
Produção: Ariel Rechtshaid, Ezra Koenig, Rostam Batmanglij e Chris Tomson
Duração: 47min15

Avaliação: ótimo

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