Crítica: Ride - Interplay

Existem muitas bandas no mundo ouvidas por um grupo muito específico de pessoas. São artistas produtores de um tipo de música que não agrada todo mundo e, de alguma forma, conseguiram ter uma base suficiente de fãs para não depender de ninguém a não ser deles próprios. É o caso do Ride. Em atividade de 1988 a 1996, voltaram em 2014 e seguem por aí, agora um pouco mais valorizados pelos festivais e pela crítica. Liderados por Andy Bell, baixista do Oasis por pouco mais de uma década, o grupo disponibilizou recentemente “Interplay” nos serviços de streaming.

Dividir o Ride em antes e depois do retorno é fundamental para entender esse sétimo álbum de estúdio. Para começar, a influência do shoegaze e do dream pop na música atual é maior do que em qualquer momento do passado, uma vitória deles e outros tão influentes ao longo dos anos para adolescentes do passado e artistas do presente. Esse trabalho soa fresco, como se o Ride abandonasse qualquer pressão e se entregasse ao duro trabalho de refinamento de cada faixa, escrita durante a pandemia da COVID-19. O início com a potente “Peace Sign”, inspirada no escalador Marc-André Leclerc (1992-2018), e o pós-punk de “Last Frontier” são pequenas mostras disso, como a liberdade criativa saiu vencedora por quase uma hora.

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O retorno ao passado acontece em “Light in a Quiet Room”, quando o momento final é marcado por uma longa parte instrumental, sendo seguida de perto pelo apelo pop dançante de “Monaco” e pelo ar de mistério de “I Came to See the Wreck” (“I thought I heard a voice cry, now we're here/ To bе forgotten/ To be forgotten/ I thought I hеard a voice cry, now we're here/ Some people can't be forgotten/ Some words can't be forgotten”).

O ritmo diminui na balada etérea “Stay Free” e na comovente “Last Night I Went Somewhere to Dream”, de refrão grudento e certeiro (“Last night I went, yeah/ I went somewhere, yeah/ I went somewhere to dream”). A banda experimenta um pouco mais em “Sunrise Chaser”, usa o shoegaze como base para “Midnight Rider” e usam o pop mais uma vez, com a guitarra bem marcante, na ótima “Portland Rocks”.

Os últimos minutos do álbum entregam “Essaouira”, faixa com ares psicodélicos, cheia de efeitos e pronta para ser um dos melhores momentos nas apresentações (“As the possible explodes/ Now the song's gone forever/ Now the song's gone forever/ As the possiblе explodes/ No soul will be lеft alone/ No soul will be left alone”) e a reflexiva “Yesterday Is Just a Song” (“Time runs and passes/ Good times come in flashes/ Sadness seeps in slow/ Weighs you down, gets in your bones/ But nothing's as it seems/ And you'll never know what is/ But you can change a feeling/ In a moment just like this”).

O retorno do Ride trouxe uma banda mais madura e ainda melhor do que antes, refletindo isso nessa nova fase. “Interplay” os coloca em um patamar de visibilidade, com esse novo ciclo ganhando impulso pela qualidade acima da média em canções que não abandonam a autorreferência sem soar uma caricatura de si. É difícil parar de ouvir, como sempre foi, agora com um toque especial.

Tracklist:

1 - “Peace Sign”
2 - “Last Frontier”
3 - “Light in a Quiet Room”
4 - “Monaco”
5 - “I Came to See the Wreck”
6 - “Stay Free”
7 - “Last Night I Went Somewhere to Dream”
8 - “Sunrise Chaser”
9 - “Midnight Rider”
10 - “Portland Rocks”
11 - “Essaouira”
12 - “Yesterday Is Just a Song”

Avaliação: ótimo

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