Crítica: Pearl Jam - Dark Matter

Se você foi adolescente entre 1991 a 2001, o Pearl Jam fez parte da sua vida de alguma maneira. Direta ou indiretamente, a banda está por aí há quase 40 anos sem desistir de si e dos fãs, um esforço admirável de seguir sempre frente, parar sempre quando necessário e evitar a inevitável fadiga das turnês e deles mesmos. Quatro anos após o lançamento do esquecível “Gigaton”, eles retornam com “Dark Matter”, o 12º disco de inéditas, o primeiro com Andrew Watt na produção.

Pelos dois trabalhos anteriores e uma notável falta de fôlego em conseguir elaborar melhor o material de estúdio, o novo trabalho foi lançado sob enorme desconfiança dos fãs e da crítica. Isso começa a se dissipar em “Scared of Fear” que, logo de cara, apresenta um refrão potente, em falta na banda desde o final da década retrasada (“You're hurting yourself, it's plain to see/ I think you're hurting yourself just to hurt me/ We used to laugh, we used to sing/ We used to dance, we were our own scene/ Hurting yourself, nothing to tell/ Your secret is well and safe with me/ We used to laugh, we used to sing/ We used to crash, we used to believe”).

Veja também:
Crítica: Adrianne Lenker - Bright Future
Crítica: METZ - Up on Gravity Hill
Crítica: Vampire Weekend - Only God Was Above Us
Crítica: Ride - Interplay
Crítica: The Black Keys - Ohio Players
Crítica: The Jesus and Mary Chain - Glasgow Eyes

Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos

Outros pontos positivos de “Dark Matter” são as guitarras inspiradas de Stone Gossard e Mike McCready, pontos fundamentais da construção da identidade da banda ainda no início. Aliados com a potência do baixo de Jeff Ament e a bateria de Matt Cameron, eles soam quase invencíveis em “React, Respond”, tamanha força juvenil desses senhores de quase 60 anos. E ainda abordando temas atuais, “Wreckage” fala sobre o cretino do Donald Trump e como ainda ter esperança de dias melhores é fundamental para não enlouquecermos completamente em um mundo cheio de manipulações e mentiras.

A faixa-título mantém o ritmo da anterior, no quesito temática, ao abordar como as coisas estão, no mínimo, confusas lá fora (“It's strange these days/ When everybody else pays for someone else's mistake/ This blame takes shape/ Still everybody else pays for someone else's mistake”). E se as baladas “Won't Tell” e “Upper Hand” mostram o lado melódico do grupo, sempre uma ótima notícia quando ele estão inspirados, a melancólica “Waiting For Stevie” também traz um dos pontos fortes deles: a honestidade brutal ao homenagear alguém (“Oh, you can be loved by everyone/ And not feel, feel love/ You can be told to not give up/ And still not hear a word from above/ You can't take or give what you got/ Dissolve the fear you are what you're not, no/ You can be loved by everyone/ And not feel, feel love”).

Guitarras altas, bateria sendo espancada, baixo ditando o ritmo e um vocal quase gritado: esse é o Pearl Jam que o povo ama, exemplificado na inspirada “Running”, música com potencial para deixar a maioria do público com dores no joelho no dia seguinte aos shows. O coro e o violão surgem com força na balada “Something Special”, composta para homenagear as filhas de Eddie Vedder, já “Got To Give” e “Setting Sun” fecham o álbum e resumem o trabalho até aqui (“Had dreams to you I would belong/ Had the dream you would stay with me till kingdom come/ Turns out forever has come and gone/ Am I the only one hanging on?”).

Surpreendentemente, o Pearl Jam tomou fôlego e conseguiu fazer de “Dark Matter” um dos melhores discos lançados por eles na última década. Sem pensar em repetir o sucesso juvenil, eles apostaram no melhor deles mesmos nesse momento da vida e conseguiram entregar algo acima do esperado ao conseguir equilibrar temas atuais e desabafos pessoais inspirados. É isso que os fãs querem.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Scared of Fear”
2 - “React, Respond”
3 - “Wreckage”
4 - “Dark Matter”
5 - “Won't Tell”
6 - “Upper Hand”
7 - “Waiting For Stevie”
8 - “Running”
9 - “Something Special”
10 - “Got To Give”
11 - “Setting Sun”

Gravadora: Monkeywrench/Republic
Produção: Andrew Watt
Duração: 48min21

Avaliação: muito bom

Comentários