Resenha: Studio 17 - The Lost Reggae Tapes, de Mark James

Assistido na 14ª edição do In-Edit Brasil, festival de documentários musicais, realizado dos dias 15 a 26 de junho

Duração: 85 min. Elenco: Ali Campbell, Clive Chin, Patricia Chin, Jimmy Cliff, Sly Dunbar, King Jammy, Brian Jobson, Wayne Jobson, Carl Malcolm, Kentrick Patrick, Lee 'Scratch' Perry, Maxi Priest, Ernest Ranglin e David A. Stewart. País: Reino Unido.

O reggae é um dos gêneros musicais mais populares dos últimos 50 anos. Ao atrair os jovens com o discurso de luta por direitos e paz, músicos importantes, como Bob Marley e Jimmy Cliff, fizeram — e ainda fazem — história. E é o começo disso que "Studio 17 - The Lost Reggae Tapes" conta.

Dirigido por Mark James, o longa conta como um casal de ascendência chinesa fez do Randy's, inicialmente uma loja de discos, um estúdio fundamental para o reggae. Basicamente, o local deu voz a alguns dos futuramente nomes de sucesso do gênero.

Veja também:
Resenha: Delia Derbyshire - The Myths and the Legendary Tapes, de Caroline Catz
Resenha: Anonymous Club, de Danny Cohen
Resenha: Listening to Kenny G, de Penny Lane
Resenha: Dolly Parton - Here I Am, de Francis Whately
Resenha: Fama e Tragédia de um Astro Colombiano, de Jaime Barbosa e Jorge Durán
Resenha: Belchior - Apenas um Coração Selvagem, de Natália Dias e Camilo Cavalcanti

Estou no Twitter e no Instagram. Ouça o podcast, compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Randy começou a vida consertando jukeboxes e pegando compactos e vinis com defeito para vender pela metade do preço. Assim, acabou fundando com a mulher, Patricia, uma loja de discos. O negócio evoluiu para um estúdio no andar de cima do prédio alugado, local de gravação de algumas das músicas mais importantes da história da Jamaica, como "Independent Jamaica", de Lord Creator, um dos cantores mais importantes desses primeiros dias.

O personagem mais importante do filme é Clive Chin, filho de Randy e Patricia. Ele começou a trabalhar como assistente no estúdio e aprendeu tudo ainda muito jovem. Ele pôde ver de perto os primeiros dias de Bob Marley, Jimmy Cliif e o estilo peculiar de trabalho de Lee 'Scratch' Perry e, com toda essa experiência, foi produtor do hit "Fattie Bum Bum", oitavo lugar na parada do Reino Unido em 1975. Mas a coisa na Jamaica ficou muito violenta em meados dos anos 1970, quando Marley leva uum tiro dentro da própria casa, e eles literalmente abandonam tudo e foram para os Estados Unidos. No novo país, eles prosperam a abrem uma gravadora, a VP, para lançar álbuns de reggae e música caribenha.

Essa é a história da primeira metade do documentário. A partir disso, o trabalho fica muito imediatista, principalmente quando Clive, após vários anos e uma tragédia pessoal, deseja mexer nas fitas abandonadas nos anos 1970 no Randy's. São centenas de arquivos originais empoeirados e intocados há anos. A família não gosta, processos são movidos e o foco da história se perde um pouco. E não ajuda quando aparece uma cantora novata para fazer um dueto com uma gravação nunca finalizada de Dennis Brown, conhecido como "Príncipe do Reggae".

Um momento importante, ainda que não completamente explorado, é o fato de muitos músicos de sucesso da época não conseguiram viver de música. O exemplo mostrado é de Lord Creator. Muito famoso nos anos 1960, só conseguiu ganhar dinheiro quando o UB40 regravou um de seus sucessos já nos anos 1990. Com o dinheiro dos royalties, enfim, ele pôde ter uma vida minimamente confortável. Um sortudo em meio a outros que não tiveram a mesma sorte.

Ainda que a segunda parte do trabalho não mantenha o nível da primeira, "Studio 17 - The Lost Reggae Tapes" é muito importante para entender como o reggae nasceu. Em entrevistas de arquivo, Marley e Cliff sempre soaram músicos maduros e decididos com o repertório. Ao ver esse documentário, é possível saber o motivo. Eles tiveram uma bela escola.

Avaliação: bom

Comentários