Resenha: Belchior - Apenas um Coração Selvagem, de Natália Dias e Camilo Cavalcanti


Antes mesmo de "desaparecer", Belchior passava por uma revisão da carreira por uma nova leva de críticos e fãs, levando a discos-homenagens, regravações, livros e exaltação de várias músicas da longa discografia do cantor nascido em Sobral, no Ceará. Quando ele morreu, em abril de 2017, a comoção foi enorme em todo Brasil.

Dentre os muitos materiais surgidos naquela época e depois, o mais novo é "Belchior - Apenas um Coração Selvagem", documentário dirigido por Natália Dias e Camilo Cavalcanti, que traz uma aposta em um formato até certo ponto simples, mas de difícil execução: imagens de arquivo do próprio cantor falando sobre si mesmo em várias entrevistas e shows ao longo dos anos.

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Difícil porque, no Brasil, o senso de preservação da nossa própria história é praticamente nulo. Salvo algum ou outro completo sem juízo que, muitas vezes, banca do próprio bolso a aquisição desses materiais, é raro ter algum artista com tanta coisa da própria história para ser contada. Belchior é um desses sortudos. Em uma lista imensa de agradecimentos no final, é possível ver como o trabalho de pesquisa foi longo.

A apresentação leve dos primeiros minutos contrasta com os minutos finais sombrios e, até hoje, pouco esclarecedores sobre o que o levou a abandonar a carreira no final dos anos 2000. Ao longo do documentário, podemos ouvir toda carga poética, literária, política e pessoal das letras e poemas escritos desde a juventude até chamar a atenção de Elis Regina, primeira a gravar "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida", dois clássicos hoje imortais.

Até por isso tudo, a participação especial do ótimo ator Silvero Pereira interpretando poemas e letras de Belchior soa deslocada, sem propósito e acaba quebrando o ritmo da obra que, por ter o próprio cantor falando sobre si, não precisava de alguém em tela as reinterpretando. A obra por si só é forte o suficiente e fala por ela mesma.

Do sucesso até virar sexy simbol de um país nos momentos finais da ditadura, quando foi um participante ativo das Diretas Já, até o questionamento sobre o esquecimento por parte do público e do lançamento de discos duvidosos, é possível sair do longa admirando ainda mais o trabalho de Belchior e o papel fundamental de questionador do que era considerado o normal na música e na vida dos brasileiros.

"Belchior - Apenas um Coração Selvagem" é mais uma obra para ajudar a entender o compositor sem especular sobre as motivações que o levaram a abandonar tudo. Sem a quebra de ritmo, talvez fosse um trabalho ainda melhor.

Avaliação: muito bom

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