Resenha: Listening to Kenny G, de Penny Lane

Os anos 1980 foram muito loucos em diversos aspectos da sociedade. Na música não foi diferente. Após uma era de gravadoras e empresários tentando encontrar artistas para satisfazer cada nicho e, assim, encher os próprios bolsos de dinheiro na década de 1970, a coisa mudou na seguinte: começou a busca por grandes astros e estrelas de sucesso em todas as classes sociais, para abocanhar uma enorme fatia das vendas de discos.

É aí que entra Kenny G.

Em "Listening to Kenny G", parte da primeira leva da série Music Box, do HBO Max, a diretora Penny Lane não faz um documentário sobre a vida e obra do saxofonista, mas abre o leque ao colocá-lo em várias discussões sobre a indústria da música, qualidade musical, ser ou não ser um produto, as motivações dele, o ódio de músicos e críticos, e o amor do público, que garantiu a ele ser um dos maiores vendedores de discos de todos os tempos.

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Kenny G começou tocando saxofone na escola e logo foi visto pelo professor como alguém que iria além de tocar em bares ou fazer parte de uma banda. Após alguma insistência, e com uma ajuda do superprodutor e dono de gravadora Clive Davis, ele gravou o primeiro disco sem muita repercussão. Mas, em um golpe de mestre, trocou a música que deveria apresentar no The Tonight Show Starring Johnny Carson e apresentou uma da própria autoria: "Songbird".

Para quem não se lembra, "Songbird" é um dos grandes sucessos dos anos 1980, fruto de duas coisas: a primeira foi a insistência de Davis, em cartas de próprio punho, para os DJs das rádios tocarem a música. A segunda foi a aceitação do público que, ao ouvi-la na volta para casa, gostou de dirigir ouvindo uma canção tranquila e relaxante. Disso, ele começou uma subida nas paradas em quase uma década de sucesso ininterrupto. Ele estava em todos os lugares: escritórios, salas de espera, casamentos, batizados, formaturas e até mesmo na China, onde o dia de trabalho é encerrado com uma canção dele. Onde houvesse uma festa ou um momento para relaxar, a música de Kenny G estava presente.

A busca por esse público, pessoas acima dos 35 anos, geralmente com família e em busca de uma música mais tranquila, gerou a criação de rádios específicas e até mesmo um gênero próprio: o smooth jazz. Claro que tanto sucesso veio com uma chuva de críticas pesadas, de jornalistas e de músicos de jazz, presentes até hoje na análise histórica da carreira de Kenny G. Um comentário diz que ele é como se os Globetrotters fossem basquete de verdade, enquanto Michael Jordan e LeBron James passam fome.

Entre o contexto histórico de mais de cem anos do jazz, os anos 1980 e entrevistas de arquivo, é claro que Kenny G é distante da pureza da música ao ponto de não se importar muito com os clássicos e demonstrar mais interesse nas pessoas e na maneira bem particular de fazer música. Ele não é nada distante quando o assunto é competição e trabalho duro, quando não entra para perder em nada — é um golfista de mão-cheia, aliás.

"Listening to Kenny G" apresenta um agradável Kenny G pronto para discutir a própria carreira em comentários animados e cheios de sinceridade para falar da indústria da música dos anos 1980, da disputa sempre existente entre público e crítica, e como ele admite ser um produto para viver da imagem construída ao longo dos anos em alguns processos duvidosos e nada ortodoxos. No fim, ele está feliz em deixar quem gosta dele feliz.

Avaliação: muito bom

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