Resenha: No Ordinary Man, de Aisling Chin-Yee e Chase Joy

Assistido na 14ª edição do In-Edit Brasil, festival de documentários musicais, realizado dos dias 15 a 26 de junho

Duração: 85 min. Elenco: Billy Tipton Jr., Holden Bernstein, Kate Bornstein, Ryan Cassata, Tyler DiChiara, Zackary Drucker, Jamison Green, Kitty Kelly, Amos Mac. País: Canadá.

Billy Tipton foi um pianista e saxofonista bastante respeitado nos anos 1940 até meados dos anos 1970, quando encerrou a carreira por problemas de artrite. Um dia, já bem doente, passou muito mal a ponto de vomitar sangue. O filho chamou uma ambulância e, para surpresa dele e dos paramédicos, Tipton tinha seios e genitália feminina.

Por quase 50 anos, Billy Tipton escondeu de todos que havia nascido Dorothy Lucille Tipton, em 29 de dezembro de 1914, em Oklahoma. Foi um choque para a sociedade da época e para a própria família, que desconhecia totalmente esse segredo. "No Ordinary Man", de Aisling Chin-Yee e Chase Joy, apresenta esse personagem da história da música dos Estados Unidos com uma sensibilidade que poucos documentaristas têm.

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Para começar, apenas pessoas trans são entrevistadas para falar: desde admiradores de Tipton até estudiosos sobre o músico, a história trans no mundo, sociedade e mais. E isso é bem importante porque mostra que elas não são apenas as próprias identidades, mas têm profissões e não merecem ser apenas chamadas quando algo de ruim acontece e precisa de um comentário.

A partir disso, vemos discussões bem profundas sobre identidade, sexualidade, sentimentos, pertencimento, solidão e como essa história foi explorada pela mídia de maneira sempre para polemizar a chamar atenção pelo choque, nunca pela perspectiva de alguém que precisou apagar o próprio passado, criar uma identidade do zero e esconder de todos unicamente pelo sonho de tocar em uma banda de jazz dos anos 1940, quando a presença de uma mulher não era aceita.

Um dos momentos mais tocantes do longa é quando Billy Tipton Jr., o filho que estava com Tipton no último suspiro, vai descobrindo que o pai é considerado um ídolo na comunidade trans por coisas que ele evitou falar a vida inteira. Solitário e carregando um fardo tremendo por anos, ele mostra-se um tanto aliviado por não estar completamente sozinho.

Sensível, político e uma aula sobre a comunidade trans, "No Ordinary Man" joga luz em uma história que o mundo deveria conhecer. E agora que esse documentário existe, tomara que o próximo seja sobre a música de Tipton e como era ser um músico de jazz naquela época.

Avaliação: muito bom

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