Resenha: American Rapstar, de Justin Staple


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Assistido na 13ª edição do In-Edit Brasil, festival de documentários musicais, realizado dos dias 16 a 27 de junho

O avanço da tecnologia fez com que a indústria da música sofresse um grande processo de descentralização nunca visto. Sem o controle de quem vai fazer sucesso, figurões assistem de camarote novos fenômenos nascerem e correm para contratá-los o mais rápido possível. Mas o problema disso é que perder o controle é muito fácil, principalmente quando falamos de jovens sem experiência, vivência e cheios de dinheiro.

"American Rapstar" foi um dos documentários mais marcantes da última edição do In-Edit Brasil, realizada em meados de junho. O longa de Justin Staple usa personagens para mostrar como a indústria do hip-hop viu jovens usando independência da internet para colocar suas músicas e fazer muito, muito sucesso. Ao mesmo tempo, sem qualquer controle dos pais ou qualquer responsável, eles caem no uso pesado de drogas e entram em um caminho descendente antes mesmo dos 20 anos -- o fim da linha é rápido para alguns.

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Com os pais como meras figuras decorativas e incentivados pelo algoritmo das redes sociais, esses adolescentes veem a fama como algo fácil e possível, já que o próprio conceito de fama mudou ao longo dos anos. Para mim, famoso era o Bono, do U2, o Tony Ramos ou a Aracy Balabanian. Hoje, é alguém que viraliza no TikTok, no Instagram ou é participante de algum reality show. Ou tudo isso ao mesmo tempo.

Sem papas na língua, esses adolescentes dão fortes declarações sobre o uso de drogas pesadas normalizado, sobre vida e morte, idas e vindas em casas de reabilitação e sobre pessoas da mesma idade mortas em consequência dessa vida louca e sem limites. É claro que isso inspira jovens a fazer o mesmo, gerando uma bola de neve quase incontrolável. Afinal, é praticamente impossível supervisionar o que os filhos veem e ouvem na internet, esse campo aberto cheio de coisas boas e ruins, mas, fundamentalmente, dependente do algoritmo manipulado para gerar vício em acessos diários em busca de algo.

É tudo muito, muito assustador, ainda mais quando o jornalista do New York Times, escolhido para contar a história que acompanha desde o início, dá detalhes sombrios à medida que a história vai avançando. E tudo fica ainda pior quando a morte do rapper XXXTentacion mobiliza centenas de milhares de jovens nas ruas, mostrando ao mundo como fenômenos nascem sem a necessidade de todos conhecê-lo.

Com imagens de arquivo e personagens bem escolhidos, "American Rapstar" é um documentário sobre como adolescentes viram na música uma maneira de desabafar sobre os problemas da vida, mas acabaram perdendo o controle sobre si mesmos.

Avaliação: muito bom

(infelizmente, o documentário não está disponível em nenhuma plataforma até o momento da publicação desse texto)

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