Resenha: Bob Dylan - Rough and Rowdy Ways


Talvez muita gente saiba que Bob Dylan é um dos músicos mais importantes do século 20. Também muita gente deve saber que, após um período para lá de (no mínimo) duvidoso nos anos 1980, ele voltou com tudo em 1997 em "Time Out of Mind". Talvez todo mundo saiba que, desde então, o compositor vive um segundo auge na carreira com o lançamento de trabalhos fantásticos (gosto até dos discos dele cantando Frank Sinatra, me deixa). E ele ainda ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2016, coroando não apenas a si próprio, mas a música como forma de literatura.

Dylan pode não querer, pode renegar, pode espernear, pode fazer o que quiser, mas é fato que as letras dele geram quase uma identificação imediata por conta da temática. Ele geralmente escreve sobre coisas do cotidiano daquele momento em que o disco está sendo trabalhado. Então faixas como "I Contain Multitudes" ou "False Prophet" apresentam muito bem, ao seu melhor estilo, os últimis acontecimentos da humanidade. É como se ele fosse uma espécie de biógrafo oficial das nossas tragédias e poucas alegrias. E faz isso sem pedir autorização a ninguém.

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Aliás, a segunda faixa do trabalho é um perfeito resumo da humanidade de maneira geral no sentido em ser mais fácil aceitar qualquer falso profeta com soluções milagrosas como fazer os Estados Unidos grande novamente ou Brasil acima de tudo ao invés do trabalho. É esse tipo de arruinador profissional que finda com pessoas, esperanças e democracias pelo mundo.

Ao longo do trabalho, Dylan não se furta em usar velhos artifícios. A música gospel está lá ("My Own Version of You" e "I've Made Up My Mind to Give Myself to You"), assim como os arranjos que só ele saber fazer para adaptar ao conteúdo da letra -- nunca ao contrário. Sua voz está mais velha do que nunca, mas isso nunca importou, falando a real.

Esse segundo auge de Dylan deu ao mundo a chance de ouvir ótimos discos dele. Para falar no último antes desse, "Tempest" (2012) é uma obra-prima que será reavaliada com o passar dos anos. Diferente de "Rough and Rowdy Ways", essa já uma obra-prima consagrada antes mesmo de o trabalho estar disponibilizado para o público. Não apenas é o primeiro trabalho de inéditas em oito anos, como mostra que o compositor ainda está em forma e em cima dos assuntos do mundo na última década.

O 39º álbum encerra com "Murder Most Foul", uma retrospectiva sobre a cultura pop usando o assassinato do então presidente John F. Kennedy como pano de fundo. A canção é a mais longa lançada por ele e os quase 17 minutos cobrem todos os mais variados aspectos dos últimos 60 anos. Difícil querer ou pedir mais nesse 2020 tão complicado para todos nós.

"Rough and Rowdy Ways" não precisava consagrar Dylan em absolutamente nada, mas o faz com maestria. Quase 60 anos após a estreia, ele ainda é capaz de surpreender o mundo com um trabalho tão brilhante quanto sua carreira. E perto de fazer 80 anos, parece não querer parar de trabalhar. Tomara que o próximo álbum de inéditas não demore quase uma década.

Mais:
Bob Dylan - "Murder Most Foul" (Áudio)
Bob Dylan - "I Contain Multitudes" (Áudio)
Bob Dylan - "False Prophet" (Áudio)


Tracklist:

1 - "I Contain Multitudes"
2 - "False Prophet"
3 - "My Own Version of You"
4 - "I've Made Up My Mind to Give Myself to You"
5 - "Black Rider"
6 - "Goodbye Jimmy Reed"
7 - "Mother of Muses"
8 - "Crossing the Rubicon"
9 - "Key West (Philosopher Pirate)"
10- "Murder Most Foul"

Avaliação: excelente



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