Nobel de Literatura para Bob Dylan é uma bela homenagem ao folk


Cantor levou o prêmio nesta quinta-feira (13)

Para surpresa de quem cobre o setor e de todo mundo, Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura nesta quinta-feira (13). A comissão na Suécia afirmou que ele foi responsável por ter "criado novas expressões poéticas dentro da grande tradicional canção americana". É o primeiro músico a levar a honraria. Os Estados Unidos não venciam desde Toni Morrison em 1993.

Excluindo qualquer discussão sobre o que é literatura ou mérito, o prêmio soa uma bonita homenagem. Pegando discografia de Dylan entre 1962 e 1966, o primeiro auge, tem coisa muito boa ali – para citar algumas: "Blowin' in the Wind", "Masters of War", "Don't Think Twice, It's All Right", "The Times They Are a-Changin'", "Chimes of Freedom", "I Don't Believe You (She Acts Like We Never Have Met)", "Mr. Tambourine Man", "Gates of Eden", "It's All Over Now, Baby Blue", "Like a Rolling Stone", "Highway 61 Revisited", "Desolation Row" e "Just Like a Woman".

Veja também:
Bob Dylan, 75
Discos para história: Highway 61 Revisited, de Bob Dylan (1965)
Discos para história: Time Out of Mind, de Bob Dylan (1997)
Like a Rolling Stone, 50
Resenha: Bob Dylan - Shadows in the Night
Discos para história: Bringing It All Back Home, de Bob Dylan (1965)
Discos para história: Another Side of Bob Dylan, de Bob Dylan (1964)
Cohen, Dylan e Smith
Discos para história: The Freewheelin’ Bob Dylan, de Bob Dylan (1963)
Discos para história: The Times They Are a-Changin', de Bob Dylan (1964)


O prêmio acaba sendo também uma homenagem a todos os cantores folk que, de alguma maneira, ainda têm seu legado mostrado e comemorado. O mais famoso deles, a grande inspiração de Dylan, é Woody Guthrie. Viajando em trens de carga pelo país, ele exaltava as pessoas mais simples em "This Land Is Your Land" e carregava o slogan 'esta máquina mata fascistas' em seu violão.

Bob Dylan é filho direto da música de Guthrie, principalmente o período antes de eletrificar seu som com o acréscimo da guitarra e de ter a The Band no apoio. Ele escreveu sobre tudo: guerra, pessoas, amores, tristeza, volta para casa... Se alguém unir algumas dessas músicas, é possível ter um livro ou filme muito profundo sobre os anos 1960 nos Estados Unidos. Das passeatas lideradas pelo pastor Martin Luther King Jr., passando pelos protestos anti-Vietnã até o fim do sonho de mundo ideal, Dylan não foi apenas um participante, mas figura presencial em boa parte disso.



Se há alguma surpresa, foi não ter vindo antes. Porque estamos falando de alguém que conseguiu colocar em palavras alguns dos grandes momentos da história e tocou corações de pessoas dos mais diversos tipos e credos – do religioso líder dos Stapes Singles Pops Staples até Jimi Hendrix, passando pelos Beatles, Steve Jobs e outros nomes importantes. Dylan está longe de ser um cantor de alto nível, mas não precisa. Em suas letras, a mensagem é mais importante do que a forma em que ela é passada. E nisso ele está anos-luz à frente da maioria. A decisão abre um precedente para dar o Nobel de Literatura a outros nomes importantes da música pelos próximos anos.

Em 1963, aos 22 anos, ele cantou How many roads must a man walk down/ Before you can call him a man? (Quantas estradas um homem precisará andar/ Antes que possam chamá-lo de homem?). Aos 75, caminhou o suficiente por umas três vidas. Agora, ele ganha o Nobel de Literatura. Se tinha algum músico importante do século 20 que merecia ganhar essa honraria, esse era Bob Dylan. Porque poucos seres humanos tiveram tanto impacto na vida de outros como ele.



No dia 5 de junho de 2017, depois de muita espera, Bob Dylan fez o discurso de aceitação.

Veja abaixo:



Post atualizado dia 7/6/2017 às 10h44

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