Resenha: Ira! - IRA


Tal qual o início da história de "Shaft", dá para dizer que o Ira! é uma banda complicada. De "Invisível DJ" (2007) até o lançamento de "IRA" nos últimos dias, muita coisa aconteceu no grupo que fez bastante sucesso nos anos 1980 e, assim como muito de seus contemporâneos, conseguiu atingir um novo público com a própria edição do Acústico MTV. Entre esses acontecimentos, uma briga envolvendo o vocalista Nasi, o empresário e irmão Aírton Valadão e o guitarrista Edgar Scandurra que paralisou as atividades do grupo por sete anos.

No período, cada um seguiu seu caminho e dedicou tempo a outros projetos, mas a pergunta sobre um possível retorno sempre estava no ar. Pedidos de desculpas e retiradas de ações judiciais abriram caminho para uma reconciliação e o recomeço de uma nova jornada para Nasi e Edgar, únicos membros remanescentes da formação original. Depois do projeto "Ira! Folk" (2017), eles retornam com o primeiro álbum de inéditas em mais de uma década e contam com Evaristo Pádua na bateria e Johnny Boy no baixo.

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O importante desse novo disco é salientar logo de cara que é o Ira! puro, na essência do tipo de som construído ao longo de quase de 40 anos de carreira. E começar um álbum com "O Amor Também Faz Errar" é para poucos. A abertura do novo trabalho é a melhor música apresentada em anos por eles por conseguir sintetizar logo de cara o que é o Ira! e até soar como uma autobiografia dos acontecimentos que levaram à separação e a quase autodestruição de Nasi, que ressurgiu de um fundo de poço quase sem fim. Provavelmente, é uma das melhores músicas escritas em português neste ano. É dessas para ser tema de novela da Globo.

As outras músicas ajudam a compor bem a história dividida em lados A e B, segundo a própria banda contou em entrevista ao jornal 'Folha de S. Paulo'. Há boas músicas como "Mulheres à Frente da Tropa" e "O Homem Cordial Morreu", também com bom potencial futuro nas apresentações e em outros materiais, mostrando como Ira!, ao não abrir mão de si mesmo, ainda consegue mostrar uma boa qualidade.

O único defeito desse álbum é a duração. Pouco mais de 45 minutos é muito tempo e, depois de ouvir algumas vezes, fica a sensação que dava para ter encurtado um pouco mais algumas canções. Mas isso não atrapalha a qualidade final do material.

"IRA" aponta um futuro para um grupo que parecia vencido por seus próprios problemas. Em pleno 2020, lançar um trabalho com essa qualidade é como o caso da pessoa que passa anos sem andar de bicicleta e consegue fazer os movimentos suaves sem o menor problema. Quem sabe, sabe.


Tracklist:

1 - "O Amor Também Faz Errar"
2 - "A Nossa Amizade"
3 - "Respostas"
4 - "Mulheres à Frente da Tropa"
5 - "Você Me Toca"
6 - "Efeito Dominó" (part. Virginie)
7 - "Chuto Pedras e Assobio"
8 - "Eu Desconfio de Mim"
9 - "O Homem Cordial Morreu"
10 - "A Torre"

Avaliação: muito bom



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