Resenha: Morrissey - I Am Not a Dog on a Chain


Morrissey não tem tido bons momentos musicais recentemente. Desde o ótimo e subestimado "World Peace Is None of Your Business" (2014), o cantor tem apenas disparados tiros n'água nos último discos. Se "Low in High School" (2017) é preguiçoso e com poucos bons momentos, o álbum de covers "California Son" (2019) soou como alguém desesperado por atenção ao cantar algumas de suas músicas favoritas.

Em uma das apresentações na TV para divulgar o trabalho, ele apareceu com um broche do partido de extrema-direta britânico. E é exatamente por isso que ele tem se destacado mais por suas polêmicas entrevistas do que por sua música. Tudo piora com dois trabalhos mais recentes não sendo nada inspirados. "I Am Not a Dog on a Chain", 13º álbum de estúdio, é a nova tentativa do cantor em entregar alguma coisa boa.

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Uma das coisas que vivo dizendo quando vejo alguma coisa do Morrissey é que ele não seria nada sem a parceria com Johnny Marr nos Smiths. Em parte sim, mas eu admito que ele é um bom letrista e tem uma carreira solo das mais sólidas entre todos os cantores que deixaram suas bandas de origem nos anos 1980. Com uma fina ironia que só os britânicos tem, ele aborda todos os problemas em que se envolveu nos últimos anos nesse trabalho. A faixa de abertura "Jim Jim Falls" traz o refrão "If you're gonna sing, then sing/ Just don't talk about it/ If you're gonna live, then live/ Don't talk about it/ If you're gonna kill yourself/ Then for God's sake/ Just kill yourself".

Claro que existem altos e baixos ao longo de quase 50 minutos de duração, mas Morrissey dá um salto se comparado aos últimos trabalhos -- e, não, não é um salto em direção ao precipício. Algumas canções funcionam muito bem, é bom admitir, como a faixa-título, "What Kind of People Live in These Houses?" (sobre política e pessoas que votam errado por seguir a mesma linha dos pais) e "Darling, I Hug a Pillow".

Como disse o crítico de música do El País Espanha: o artista Morrissey venceu a pessoa Morrissey mais uma vez. Não tem jeito: uma boa obra sempre vencerá a opinião de qualquer artista. Pode ser difícil dissociar a pessoa física da jurídica em certos casos, mas a obra fica pelo resto da vida. E o cantor mostra que ainda pode fazer bons discos. E seria bom se ele ficasse de boca fechada e não dar opiniões não solicitadas (leia-se racistas muitas vezes)? Seria, mas nem tudo é perfeito.


Tracklist:

1 - "Jim Jim Falls"
2 - "Love Is on Its Way Out"
3 - "Bobby, Don't You Think They Know?"
4 - "I Am Not a Dog on a Chain"
5 - "What Kind of People Live in These Houses?"
6 - "Knockabout World"
7 - "Darling, I Hug a Pillow"
8 - "Once I Saw the River Clean"
9 - "The Truth About Ruth"
10 - "The Secret of Music"
11 - "My Hurling Days Are Done"

Avaliação: bom



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