Resenha: Kiko Dinucci - Rastilho


Dá para chamar quase de movimento o que vem acontecendo na música em São Paulo nos últimos anos. Lugar que abriga todo tipo de gente, dos ricos aos golpistas, a cidade sempre recebeu músicos de todos os lugares do mundo que acabam ficando por aqui mesmo para tocar a carreira. Um dos responsáveis por projetos, produções e por movimentar a cena é Kiko Dinucci.

Membro do Metá Metá e do Passo Torto, também passou a produzir músicos veteranos como Elza Soares e Jards Macalé, quase virando uma espécie de Rick Rubin da Rua Augusta com a Avenida São João. Ele ficou seis anos sem lançar nenhum disco de inéditas por conta do alto volume de trabalho com outros projetos e só voltou com o ótimo "Cortes Curtos" (2017). Dinucci retoma a carreira solo pouco menos de três anos depois com "Rastilho", o terceiro disco solo.

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O novo trabalho do músico soa muito essa nova São Paulo que está sendo vivida nesse exato momento por uma quantidade razoável de pessoas: muitas referências ao candomblé e sua musicalidade, nisso incluindo cantos e coisas do tipo. Ou seja, é praticamente impossível não pensar quase que no ato em "Os Afro-Sambas" (1966), de Baden Powell e Vinicius de Moraes, um dos maiores discos já feitos na música brasileira. A referência em tentar apresentar uma religião afro-brasileira mais universal é bem clara.

A parte instrumental do trabalho chama bastante atenção e toma uma parte considerável da audição. Ao fazer isso, Dinucci parece querer fazer o ouvinte prestar bastante atenção no que acontece no trabalho. Em tempos tão corridos, fazer algo assim é até certo ponto ousado. A força de canções como "Vida Mansa", "Foi Batendo o Pé na Terra" e "Tambú e Candogueiro" vêm disso, de prestar atenção em como a melodia entra nos ouvidos e te convidam a prestar atenção -- e até a dançar em alguns momentos.

Mas o disco também trata de assuntos bem reais, como em "Febre do Rato" e "Veneno". Na segunda, o rapper Rodrigo Ogi arredonda a história com sua participação especial. E o trabalho encerra com a faixa-título convidando o ouvinte a prestar atenção em mais um pouco de música afro-brasileira.

Ainda que menos genial do que o anterior, "Rastilho" mostra como Kiko Dinucci segue muito bem conectado com o que acontece em um determinado nicho de São Paulo que ele faz parte. Ao conseguir transformar isso em um trabalho consistente do início ao fim, ele consegue se firmar não apenas como produtor de músicos veteranos, mas como alguém que ainda tem fome de fazer coisas para si.

Tracklist:

1 - "Exu Odara"
2 - "Olodé"
3 - "Marquito"
4 - "Vida Mansa"
5 - "Foi Batendo o Pé Na Terra"
6 - "Febre do Rato"
7 - "Dadá" (feat. Ava Rocha)
8 - "Veneno" (feat. Rodrigo Ogi)
9 - "Tambú e Candongueiro"
10 - "Gaba" (feat. Juçara Marçal)
11 - "Rastilho"

Avaliação: muito bom



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