Resenha: Kiko Dinucci – Cortes Curtos


Disco solo do cantor chega seis anos depois de nascimento da ideia

Passo Torto e Metá Metá têm uma coisa em comum: uma das cabeças pensantes nessas duas bandas é Kiko Dinucci, compositor e arranjador que vem conquistando grande espaço na cena musical brasileira – recentemente, ele trabalhou no em A Mulher do Fim do Mundo, excelente disco de Elza Soares. Prometido ao mundo desde 2011, Cortes Curtos chega com um justificado atraso de quem só agora arrumou um tempo para cuidar de si.

Pode assustar um pouco, mas o começo quase teatral de "No Escuro" é um bom motivo para prestar atenção no restante do álbum. No caso dessa faixa em especial, depois da entrada do vocal, a coisa parece voltar ao normal. Só parece. Depois tudo se mistura em algo entrelaçado de maneira a transformar tudo em uma bagunça musical organizada. Mais "normal", "Desmonto Sua Cabeça" tem um ar conceitual misturado com algo psicodélico – é bem divertido.

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Sem parar para respirar, aparece a instrumental "Fear of Pop", que beira o punk de tão veloz e furiosa. O ritmo do trabalho é suavizado em "Chorei", em uma espécie de choro com tons de rock alternativo dos anos 1990 com a participação da cantora Juçara Marçal. E "Terra de Um Beijo Só" é quase um tratado sobre São Paulo sem a pretensão de sê-lo, então a faixa acaba servindo como uma boa reflexão sobre a cidade e tudo que a permeia.

"Uma Hora da Manhã" é uma pequena mostra do que acontece na cidade durante a madrugada, já "Seus Olhos" tem um arranjo melancólico ao embalar uma frase seca e triste. Tulipa Ruiz aparece na dançante "O Inferno Tem Sede", mas "A Morena do Facebook" acaba chamando mais a atenção por brincar com uma coisa muito comum do cotidiano desses primeiros anos dos anos 2000. E "Quem Te Come", de ritmo bem agradável, faz uma revelação que muitos homens vão ficar incrédulos.

A voz de Ná Ozzetti aparece na ótima "Inferno Particular", em que o destaque vai para o ritmo de marchinha bem divertido para ouvir. Uma das coisas mais legais do disco é a forma como as canções foram gravada, muitas soam jams de estúdio. É o caso da instrumental "Chorinho", mais uma de ar experimental que entrou no registro. A sombria "Vazio da Morte" engana pelo ritmo bom, enquanto "Crack Para Ninar" traz a melancolia necessária para entendermos um pouco mais o mundo. Mas a animada "A Gente Se Fode Bem Pra Caramba", de mensagem bem realista e verdadeira, encerra o disco muito bem.

Dentre os lançamentos deste início de ano no Brasil, o trabalho de Kiko Dinucci deve figurar facilmente nas listas de melhores do ano. Experimental, coeso à sua maneira e único, esse álbum vem no momento certo. A demora valeu a pena.

Tracklist:

1 - "No Escuro"
2 - "Desmonto Sua Cabeça"
3 - "Fear of Pop"
4 - "Chorei" feat. Juçara Marçal
5 - "Terra de Um Beijo Só"
6 - "Uma Hora da Manhã"
7 - "Seus Olhos"
8 - "O Inferno Tem Sede" feat. Tulipa Ruiz
9 - "A Morena do Facebook"
10 - "Quem Te Come" feat. Suzana Salles
11 - "Inferno Particular" feat. Ná Ozzetti
12 - "Chorinho"
13 - "Vazio da Morte"
14 - "Crack Para Ninar"
15 - "A Gente Se Fode Bem Pra Caramba"

Nota: 4,5/5



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