Resenha: Mallu Magalhães – Vem


Quarto disco de estúdio da cantora é o primeiro em quatro anos

Mallu Magalhães é uma dessas cantoras da música brasileira que a maioria de nós não lembra de como ela surgiu, mas que está aí há tempo suficiente para nos fazer dizer frases do tipo "como assim ela só tem 24 anos?" ou "nossa, como eu estou ficando velho". Vem é o quarto disco de estúdio da cantora, o primeiro depois do bom Pitanga (2013) e do ótimo trabalho feito com a Banda do Mar em 2014. Por ser alguém com muita originalidade nas letras e em uma crescente musical, não tem como negar que a expectativa era bem alta nesse novo registro.

É inegável que os arranjos do álbum são muito bons do início ao fim. As escolhas de Marcelo Camelo para cada música foram bem pensadas e encaixam muito bom nessa proposta de disco: uma mistura de samba com bossa nova e várias influências espalhadas pelas faixas. A gostosinha "Você Não Presta" abre o disco, em seguida vem "Culpa do Amor". E se os arranjos são ótimos, o vocal está fraco e fica quase invisível se você não prestar bastante atenção. E isso é um problemão.

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"Casa Pronta" parece ter sido retirada de algum momento da música brasileira dos anos 1960 – do arranjo até a letra, nada soa moderno aqui. "Vai e Vem" e "Será Que Um Dia" são faixas completamente diferentes entre si em todos os aspectos e não funcionam, nem chamam atenção. De novo, o arranjo é muito melhor do que o vocal. Caso fosse um disco instrumental, seria um dos mais bonitos deste ano. Ainda bem que "Pelo Telefone" é outra gostosinha que funciona bem.

Depois vêm as sonolentas "Navegador" e "Guanabara". E aqui eu consegui identificar outro problema enorme nesse disco: não consigo acreditar no que a Mallu diz. Não que os relatos sejam falsos, mas alguém que está há tanto tempo longe da terra natal não é a melhor pessoa para descrever certas situações. Tudo soa muito lúdico e imaginativo – como em "São Paulo". Em "Gigi", homenagem à mãe, finalmente é possível ouvir uma cantora sincera e emocionada em cantar uma bonita história. Ela deveria ter investido em mais coisas assim nesse novo trabalho.

Em outra homenagem, desta vez da nova Mallu para a antiga, "Love You" lembra muito dos tempos do primeiro disco pela característica simples de letra e melodia, gerando mais uma das canções bonitinhas do repertório dela. O disco encerra com "Linha Verde", em que podemos perceber a influência da música portuguesa clássica no arranjo.

Mallu tentou fazer algo grandioso e contou com ajuda de Marcelo Camelo e vários amigos músicos. Se o trabalho de produção é excelente, e Camelo receberá vários elogios por isso, as letras e o vocal são muito abaixo do resto. São dois problemas, porque isso deveria ser um disco da Mallu Magalhães, não um trabalho de produção de Camelo. Se a cantora perdeu força na gravação, imaginem como não será ao vivo? O passo foi maior do que perna para quem vinha em uma crescente.

Tracklist:

1 - "Você Não Presta"
2 - "Culpa do Amor"
3 - "Casa Pronta"
4 - "Vai e Vem"
5 - "Será Que Um Dia"
6 - "Pelo Telefone"
7 - "Navegador"
8 - "Guanabara"
9 - "São Paulo"
10 - "Gigi"
11 - "Love You"
12 - "Linha Verde"

Nota: 1,5/5



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