Resenha: Curumin – Boca


É o quinto trabalho da carreira solo do cantor

Pela repercussão do trabalho nas últimas semanas, Boca soa como estreia de Curumin em estúdio. Porém não deve ser encarado assim, já que ele mesmo, aos 40 anos, não se considera mais um estreante. E nem deve. Com experiência de ter tocado com alguns dos grandes nomes da MPB nos últimos anos, ele está na estrada há tempo suficiente para saber que o quinto álbum de estúdio aponta para outras coisas – entre elas, a chance de experimentar mais.

O disco começa com "Bora Passear", de início cheio de suingue para falar sobre a relação entre parceiros e de como a intimidade gera momentos cheios de sensualidade entre duas pessoas. A parte final ganha em ritmo e rimas, suficiente para um bom início e instigar as pessoas a seguir na audição. "O Burguês Que Deu Errado" vai ao encontro do momento político no Brasil em que posições históricas são cada vez mais questionadas.

Veja também:
Resenha: Oumou Sangaré – Mogoya
Resenha: Blondie – Pollinator
Resenha: Paul Weller – A Kind Revolution
Resenha: Gorillaz – Humanz
Resenha: Mark Lanegan Band – Gargoyle
Resenha: The Afghan Whigs – In Spaces
Resenha: Feist – Pleasure


Dividida em duas partes, "Boca Pequena" segue na temática política até encontrar com a segunda parte em que Russo Passapusso brilha com suas rimas – faixa fica com cara de ser uma gravação do BaianaSystem, a grande banda brasileira do último ano e meio. Em uma das boas canções lançadas no Brasil neste 2017, "Prata, Ferro, Barro" tem um quê de reggae bem leve – o baixo domina a faixa por completo.

Outra boa faixa é "Terrível", um samba com um quê moderno dos melhores. Difícil ficar parado enquanto ela toca, já "O Atrito" é estranha, mas acaba servindo de ponte para a boa "Boca de Groselha" – cheia de um lento suingue para ser apreciada com cuidado e atenção. Curumin disse que a ideia do disco está aqui. E ele não está errado, não. O cantor ainda emenda duas boas faixas com "Tramela", que contou com a participação do rapper Rico Dalassam.

O ar psicodélico cheio de percussão de "Cabeça" também traz muito do BaianaSystem ao disco e é outra que funciona bem. O terceiro interlúdio ("Descendo") emenda com o delicioso soul "Boca Cheia" – a melhor canção do álbum. Para encerrar, o samba "Paçoca" soa uma bela festa em homenagem a Tom Zé, o rei dos trocadilhos sacanas em canções dos últimos 50 anos na música brasileira.

Esse novo trabalho solo de Curumin pode não agradar uma parte das pessoas por não ter uma direção certa. Ele simplesmente vai acontecendo como uma conversa de bar ou uma festa cheia de gente com muita intimidade entre si. À medida em que o ouvinte vai criando essa intimidade, é possível que a audição melhore ao longo das tentativas. É um bom trabalho em linhas gerais, mas não é dos mais fáceis para digerir.

Tracklist:

1 - "Bora Passear"
2 - "O Burguês Que Deu Errado"
3 - "Boca Pequena Parte 1"
4 - "Boca Pequena Parte 2"
5 - "Prata, Ferro, Barro"
6 - "Terrível"
7 - "O Atrito"
8 - "Boca de Groselha"
9 - "Tramela"
10 - "Cabeça"
11 - "Descendo"
12 - "Boca Cheia"
13 - "Paçoca"

Nota: 3,5/5



Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!