Resenha: Roger Waters – Is This The Life We Really Want?


É o primeiro trabalho de estúdio em 25 anos

Dentre os músicos veteranos, Roger Waters é o que mais tem se manifestado contra Donald Trump e os novos tempos da política no mundo. Até pouco tempo atrás, ele tinha apenas o material do Pink Floyd e uma ou outra coisa de sua carreira solo. A coisa mudou no lançamento de Is This The Life We Really Want?, primeiro disco solo do cantor em 25 anos. E ele não se furta ao usar de suas principais características musicais para vociferar contra tudo isso.

O disco começa com uns pensamentos soltos traduzidos em palavras de Waters em "When We Were Young", mas o disco começa mesmo na seguinte: a balada "Déjà Vu", que beira o gospel, em que Waters questiona o papel de Deus nos acontecimentos atuais do mundo, cheio de miséria e ganância, e como ele teria feito um trabalho melhor do que Ele. E "The Last Refugee" é a história de como o último homem da terra sobrevive ao rescaldo da última grande guerra mundial.

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Essas três faixas mostram bem o tom político do trabalho de Waters, que sempre usou momentos de crises para desenvolver seus números no palco. A mensagem é reforçada na distópica "Picture That", faixa em que podemos perceber o trabalho de Nigel Godrich na produção – os efeitos eletrônicos é uma característica muito forte de suas produções –, além de parte instrumental na metade final ser das mais chamativas. E o cantor deseja que o pessoal aprenda com erros do passado (guerras, fome) em "Broken Bones".

A faixa título aparece no disco como o auge do discurso feroz de Waters contra Trump e sua maneira peculiar de fazer política. Talvez seja a faixa mais agressiva do cantor contra algo ou alguém desde a época do Pink Floyd, quando seus trabalhos conceituais ficaram conhecidos mundialmente. Essa canção tem um ar muito tenso e crítico, e tem uma coisa em que gosto muito em discos conceituais: canções conectadas uma com as outras. É o caso de "Is This the Life We Really Want?" com a futurista "Bird in a Gale" em que o ar poético mescla esperança e desespero pelo início de um próximo ano.

"The Most Beautiful Girl" é uma balada sobre um casal que morre após uma explosão de uma bomba. O tema é bem atual, mas a faixa não é das melhores desse disco, não. Se as outras faixas misturam bem as experiências de Waters com ópera e outros gêneros, "Smell the Roses" não esconde seu passado no Pink Floyd, porque é a mais 'pinkfloydiana' de todas.

Famoso poema do poeta palestino Mahmoud Darwish (1941-2008), "Wait for Her" também traz muito do passado de Waters, principalmente no arranjo. A seguinte, "Oceans Apart", funciona como refrão da anterior e da seguinte – "Part of Me Died", uma sessão terapêutica em que Waters conta todos os seus medos que, coincidentemente, é a atual situação de uma parte considerável do planeta.

Esse novo trabalho de Roger Waters nasceu de um momento peculiar na nossa história. Se ele já viu coisas o suficientes para uma vida inteira, minha geração (nascidos no fim dos anos 1980) ainda não tinham visto tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Ele entrega um disco bom, mas nada além disso. Longe de qualquer um de seus melhores momentos, esse novo álbum soou uma forma de desabafo de alguém cansado de martelar anos nos mesmos assuntos. Mas é o suficiente para uma turnê que lotará estádios pelo mundo.

Tracklist:

1 - "When We Were Young"
2 - "Déjà Vu"
3 - "The Last Refugee"
4 - "Picture That"
5 - "Broken Bones"
6 - "Is This the Life We Really Want?"
7 - "Bird in a Gale"
8 - "The Most Beautiful Girl"
9 - "Smell the Roses"
10 - "Wait for Her"
11 - "Oceans Apart"
12 - "Part of Me Died"

Nota: 3/5



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