Resenha: Ray Davies – Americana


Ex-membro do Kinks lança primeiro disco de inéditas em dez anos

Menos reconhecido que alguns de seus contemporâneos mais famosos, Ray Davies foi uma das mentes por trás do sucesso do Kinks em meados dos anos 1960. Ele, ao lado de seu irmão Dave, fez alguns trabalhos espetaculares entre o fim da década e o final dos anos 1970, mas, diferente de Mick Jagger e Paul McCartney – para ficar em alguns de idade próxima –, não conseguiu mostrar isso ao mundo por uma série de coisas que vão desde brigas com pessoas importantes da indústria do entretenimento à época até delírios mentais causados pelo excesso de drogas e álcool.

O último disco da carreira solo de Davies foi Working Man's Café (2007), mas o tempo sem gravar serviu para ele escrever uma autobiografia enquanto e virar cavaleiro do Império Britânico, algo inimaginável há 50 anos. O anúncio novo álbum chamou a atenção da imprensa especializada, porque, além de ser o retorno de um gênio da música uma década depois, também leva o nome do livro em que conta suas histórias.

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Por ser um disco autobiográfico, começar com "Americana" faz todo sentido. De cara, ele faz várias referências a músicas e momentos das turnês do Kinks nos Estados Unidos e, pela primeira em anos, consegue ter algum tipo de carinho com o irmão Dave ao chamá-lo de "meu irmãozinho". A segunda, "The Deal", é sobre um momento da banda em Los Angeles dividido em três atos. Uma coisa a destacar das duas primeiras faixas é a construção das melodias, algo que Davies consegue fazer com extrema maestria.

O momento Neil Young de Davies no disco aparece em "Poetry", quando o cantor se pergunta onde foi parar a poesia da vida. A melancolia aparece na simples e bonita "Message From The Road", em que a letra fala da tristeza em estar longa da família durante as turnês, e depois vem a balada country para lá de animada "A Place In Your Heart". O country segue ditando o ritmo em "The Mystery Room", e vemos toda tristeza da perda de um amigo em "Silent Movie" – Davies declama a letra em homenagem a Alex Chilton, membro das bandas Box Tops e Big Star, morto aos 59 anos em 2010 –, que o cantor emenda com a seguinte, outra bonita balada chamada "Rock 'N' Roll Cowboys".

A experimental "Change For Change" foge do estilo apresentado até aqui no álbum, apesar de ser das mais interessantes. "The Man Upstairs" abre com o verso Girl I want to be with you all of the time, da faixa "All Day And All Of The Night", porém, mais à frente, mostra-se uma faixa extremamente melancólica sobre desgaste na relação e problemas emocionais. E "I’ve Heard That Beat Before" não tem muita coisa de especial, e ninguém notaria se tivesse ficado de fora.

"A Long Drive Home To Tarzana" (uma balada de letra tocante), "The Great Highway" (uma 'song road' sobre os Estados Unidos, terra em que o sucesso garante muitas coisas na carreira), "The Invaders" (outra balada, agora sobre a péssima passagem do Kinks pelos Estados Unidos) e "Wings Of Fantasy" (faixa com referências aos anos 1970, período de altos e baixos do Kinks e de seus membros principais).

Sincero ao contar a própria história, Ray Davies não apenas consegue fazer letras bonitas, mas envolve o ouvinte ao ter cuidado com todos os detalhes do trabalho. Mesmo com quase uma hora de duração, o tempo passa bem rápido. Davies mostra que ainda está em forma para fazer um bom disco e mostra vontade de contar seus causos ao mundo.

Tracklist:

1 - "Americana"
2 - "The Deal"
3 - "Poetry"
4 - "Message From The Road"
5 - "A Place In Your Heart"
6 - "The Mystery Room"
7 - "Silent Movie"
8 - "Rock 'N' Roll Cowboys"
9 - "Change For Change"
10 - "The Man Upstairs"
11 - "I’ve Heard That Beat Before"
12 - "A Long Drive Home To Tarzana"
13 - "The Great Highway"
14 - "The Invaders"
15 - "Wings Of Fantasy"

Nota: 4/5



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