Discos para história: Master of Puppets, do Metallica (1986)


A 118ª edição da seção falará sobre o terceiro disco do Metallica, lançado há 30 anos. Master of Puppets, enfim, consagrava a banda dentro do cenário do metal, além de abrir as fronteiras do thrash metal para mais pessoas

História do disco

A coisa estava caminhando bem para o Metallica. Tão bem, que a Q Prime ficou interessada em tê-los. Fundada por Peter Mensch, ex-empresário do AC/DC que havia colaborado com o início do sucesso deles nos Estados Unidos – acabou sendo demitido por uma trapalhada que o durão Malcolm Young nunca esqueceu –, a empresa queria sangue novo depois se conseguir se consagrar e conquistar a confiança necessária no meio.

De bom papo, Mensch levou o Def Leppard e o Queensrÿche ao estrelado em pouco tempo – ele nunca mais cometeria os mesmos erros dos tempos em que administrou a carreira do grupo formado pelos irmãos Young nos anos 1970. Em 1984, o Metallica era empresariado pelo casal Jon e Marsha Zazula, fundadores da gravadora Megaforce só para lançar os primeiros discos da banda. Uma aposta que mudou a vida de todos os envolvidos.

Quando Lars Ulrich e Mensch se conheceram, ficou claro que haviam nascido um para o outro. Ambos determinados, talentosos em suas áreas e trabalhadores natos, não abaixavam a cabeça e não mudariam nada, mas estavam dispostos a trabalhar um para o outro por um objetivo em comum: o primeiro lugar. O Metallica sairia de uma estrutura arcaica e bem pobre para algo melhor e diferente. Q Prime era a chave necessária para fazê-los decolar.

Um dos objetivos também era uma gravadora maior, possível ao assinarem com a empresa. Elektra, Q Prime e o casal Zazula fizeram um acordo, e o Metallica se desligou da Megaforce. Jonny não ficou nada feliz (“perdê-los acabou comigo por anos”, disse ele ao biógrafo Mick Wall), mas sentia que Lars queria algo a mais. Em pouco tempo, a banda estaria tocando para multidões, principal meta depois dos dois primeiros álbuns. E a gravadora estaria com dois novos nomes da cena do thrash metal em casa: Antrhax e Raven. Na Inglaterra, onde o Metallica estava perto de conseguir o mesmo sucesso que havia atingido em boa parte da Europa, o acordo entre a Elektra e a Music For Nations foi melhor. Como eles já tinham pagado pelo trabalho anterior, ficaram com os direitos de Master of Puppets, então disco de inéditas do Metallica. Um acordo muito interessante para todos os envolvidos.

Depois de uma turnê, Lars e James Hetfield se reuniram em Los Angeles para começar o processo de composição de algumas letras. Era a primeira vez em três anos que eles não aproveitariam algum material de Dave Mustaine ou ideias antigas. Era tudo novo. Cliff Burton e Kirk Hammett foram convidados a entrar depois de as demos estarem quase finalizadas, faltando só a parte deles.

Com as canções incompletas, começou a busca por um estúdio de gravação em Los Angeles. Como não eles encontraram, a solução foi retornar ao Sweet Silence, na Dinamarca, local de gravação de Ride the Lightning, para o novo álbum. Em setembro de 1985, começaram as gravações do disco que mudaria o patamar do Metallica de vez. Mesmo com uma vida de bebidas, maconha e zoeira no hotel, o grupo se concentrava muito quando estava trabalhando. Queriam mudar a imagem deles. Lars teve aulas de bateria, James estava mais confiante, Cliff... Bem, era o Cliff, fazia tudo no seu ritmo. E Kirk parecia estar melhor do que nunca. Queriam subir o padrão, queria ser melhores do que antes, uma clara evolução deles em todos os aspectos que envolviam a gravação de um álbum.

Todo trabalho duro entre início de setembro e final de dezembro não foi suficiente para entregar as mixagens do material em nível bom o suficiente. Com orientação de Lars e James, o produtor Michael Wagener, conhecido por trabalhar com Mötley Crüe, Dokken e Accept, finalizou a produção do disco.

Lançado em 3 de março de 1986, Master of Puppets foi aclamado pelos especialistas em heavy metal como ‘a obra-prima do thrash metal’, ficando 72 semanas nas paradas. Os fãs de metal já conheciam o Metallica, mas ainda não era a hora de o mainstream conhecê-los. Para uma banda de garagem em seu primeiro disco com uma grande gravadora por trás, os números eram ótimos. E, enfim, eles fizeram sucesso. Enfim, eles eram grandes.


Resenha de Master of Puppets

No violão, o início de "Battery" traz uma calmaria inesperada, um tipo de canção beirando o clássico – uma influencia de Cliff Burton na banda. A faixa explode quando todos os instrumentos começam a tocar ao mesmo tempo, reforçados por três gravações de guitarra sobrepostas. O riff surge para dar o tom e velocidade, tão necessária e importante na discografia do Metallica até ali. Típica canção para ser executada ao vivo e agitar o público, e única com participação de todos os membros do grupo na composição da melodia.

"Master of Puppets" é a melhor do álbum, e ninguém contesta isso, por isso deu nome ao terceiro trabalho deles. Ela tem todos os elementos de uma boa canção: início forte, um riff insistente, refrão grudento, melodia marcante e era exatamente o tipo de letra que os fãs da banda se acostumariam a ver James cantando. Um clássico que ultrapassaria a barreira do tempo e seria dito por muitos como ‘o último momento do Metallica no thrash metal’.



"The Thing That Should Not Be" é dominada pela guitarra e não tem muita coisa diferente do apresentado anteriormente, funcionando como uma evolução nítida deles como compositores. Um claro amadurecimento de Hetfield como letrista é em "Welcome Home (Sanitarium)". Ao falar sobre a loucura, ele dá a deixa do que viria a ser no próximo disco: um compositor do mais alto nível. Bem lenta, a quarta canção encerra o lado A do disco de maneira primorosa.

Se tinha uma coisa que o Metallica valorizava quando tinha Cliff era a linha de baixo, feita absurdamente bem na veloz "Disposable Heroes". É outra que não tem muita coisa diferente, mas, por fazer parte do disco, acabou ganhando destaque com razão por ser melhor que a maioria das músicas lançadas pelo grupo anteriormente. Ainda mais simples e baseada na guitarra e James e na bateria de Lars, "Leper Messiah" pouco acrescenta na discografia do grupo.

A longa e boa instrumental "Orion" abre caminho para outro clássico do Metallica: "Damage, Inc.". A última do trabalho consegue amarrar a ideia de como o grupo estava pronto para voos maiores. E agora tinha um disco realmente bom para mostrar.



Ficha técnica:

Tracklist:

Lado A

1 - "Battery" (5:12)
2 - "Master of Puppets" (8:36)
3 - "The Thing That Should Not Be" (6:37)
4 - "Welcome Home (Sanitarium)" (6:27)

Lado B

5 - "Disposable Heroes" (8:17)
6 - "Leper Messiah" (5:40)
7 - "Orion" (Instrumental) (8:28)
8 - "Damage, Inc." (5:29)

Gravadora: Elektra
Produção: Metallica, Flemming Rasmussen
Duração: 54min46s

James Hetfield: vocais e guitarra
Kirk Hammett: guitarra
Cliff Burton: baixo e vocais de apoio
Lars Ulrich: bateria



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