O Titus Andronicus é uma banda esquisita. Com várias formações no currículo, eles são liderados pelo quase maluco Patrick Stickles, vocalista, compositor e guitarrista. Sem fazer sucesso, no sentido de ficar realmente famoso, o grupo resolveu sair um pouco da zona de conforto e partir para algo mais audacioso: uma ópera-punk-experimental-indie (o nome pode parecer mais difícil do que realmente é) de mais de 90 minutos em The Most Lamentable Tragedy, o quarto disco de estúdio deles.
- Gravadora: Merge
- Lançamento: 28 de julho
- Produção: Kevin McMahon & Adam Reich
- Duração: 92min36s
Conhecida pelos fãs por estar em um compacto lançado em 2007, "Stranded (On My Own)" ganhou uma versão mais visceral e, até por isso, a letra ganhou uma nova interpretação, agora mais raivosa. Na quarta música, é possível perceber o quê de ópera rock do disco ao emendar a anterior e "Lonely Boy", essa de início bem lento, mas ganha um pouco de The Who nessa quase balada punk sobre um menino irritado, acordado contra sua vontade e que está andando por aí – a parte final, dançante, consegue aliar vários instrumentos diferentes em uma salada sonora deliciosa. Emendar uma sequência de seis músicas ótimas não é para qualquer um, mas eles conseguiram isso quando começa "I Lost My Mind (+@ )" e "Look Alive", essa um punk de pouco mais de 30 segundos mais veloz do que muita coisa que ouvimos por aí.
Outra instrumental, "The Magic Morning" abre o segundo ato do disco, que tem início de verdade em “Lookalike”, de pouco mais de um minuto e de potencial suficiente para derrubar um quarteirão inteiro, e "I Lost My Mind (DJ)", de Daniel Johnston, uma das canções mais depressivas escritas ganhou uma versão rápida, com vocais de apoio forte e um refrão refeito para grudar na cabeça e no coração. Sem tempo para pausas, "Mr. E. Mann" aparece para confortar o personagem principal ao falar ‘olhando o lado positivo, está tudo bem’.
Sobre sonhos, "Fired Up" traz uma pequena mostra de como acreditar, enquanto "Dimed Out" traz a confirmação de que a história não é sobre um cara, mas uma cópia ou algo parecido com o personagem citado no primeiro ato. Perdido e cheio de dúvidas, ele segue na busca por respostas nessa outra faixa punk e cheia de energia adolescente. Colocando o punk de lado por quase dez minutos, a triste "More Perfect Union" é sobre abandono e um momento de reflexão do protagonista, e é quase uma ópera rock dentro de uma ópera rock maior (são subatos dentro de um ato maior que faz parte do disco). E a silenciosa "[ intermission ]" fecha o segundo ato.
"Sun Salutation" abre o terceiro ato de forma quase religiosa ao saudar Ra, o Deus do sol no antigo Egito, e "(S)HE SAID / (S)HE SAID" trata de uma relação entre um homem e uma mulher e seus detalhes e consequências em quase dez minutos, variando entre momentos de realismo e de puro delírio da mente do personagem principal. Se "Funny Feeling" mostra que o personagem tem algo dentro de si ainda não identificável, mas culpado por toda sua loucura e delírios pessoais, "Fatal Flaw" expõe ao mostrar seu mais terrível defeito em uma canção confessional e cheia de referências, mas o erro mesmo é mostrado em "Please", momento em que ele confessa que Siobhan, seu grande amor, é realmente seu ponto fraco.
"Come On, Siobhán" coloca a menina/mulher no centro das atenções ao ser pedida para acompanhá-lo pelo mundo, apesar de ela relutar ao relembrar as decepções amorosas que sofreu ao longo dos anos, enquanto "A Pair of Brown Eyes" é aquele canção romântica que os Ramones ficariam orgulhosos de terem tocado em algum momento de sua carreira. "Auld Lang Syne" (uma ópera no mais puro sentido musical) e "I’m Going Insane (Finish Him)" (um punk de um vero só) fecham o penúltimo ato.
Usando o mesmo artifício dos outros atos, "The Fall" é instrumental e abre os trabalhos da última parte, essa é bem mais focada nos sintetizadores e efeitos do que em outra coisas, porque "Into the Void (Filler)" coloca o personagem principal no modo de vingança depois de ver vários acontecimentos, e "No Future Part V: In Endless Dreaming" coloca a desesperança e sofrimento à frente, o que não deixa de ser tocante depois de tudo que ocorreu. Depois de sete segundos de silêncio, "Stable Boy" surge e nos lembra de que ‘nascemos para morrer’ na, talvez, melhor canção do disco por ser crua, dura, realista, sincera e bonita. Por fim, a instrumental "A Moral" amarra tudo e fecha esse brilhante disco.
Sim, brilhante mesmo. Focado em contar uma história sem perder a essência da banda, o Titus Andronicus conseguiu fazer um dos melhores discos do ano que não tocará em nenhum lugar. Apesar de um tanto excêntrico e estranho em algumas partes, faz muito sentido ao final da audição. Verdadeiro e atemporal, ele merece sua atenção do início ao fim ao propor uma reflexão sobre nós mesmos. É um dos grandes álbuns do ano. E digo isso sem medo de errar.
Tracklist:
Act I: Set Aside or Miserable and Water-Buried
1 - "The Angry Hour"
2 - "No Future Part IV: No Future Triumphant"
3 - "Stranded (On My Own)"
4 - "Lonely Boy"
5 - "I Lost My Mind (+@ )"
6 - "Look Alive"
Act II: Beside Himself
7 - "The Magic Morning"
8 - "Lookalike"
9 - "I Lost My Mind (DJ)"
10 - "Mr. E. Mann"
11 - "Fired Up"
12 - "Dimed Out"
13 - "More Perfect Union"
14 - "[ intermission ]"
Act III: Down by the Seaside
15 - "Sun Salutation"
16 - "(S)HE SAID / (S)HE SAID"
17 - "Funny Feeling"
18 - "Fatal Flaw"
19 - "Please"
Act IV: The Other Side or A Midsummer Night's Dream
20 - "Come On, Siobhán"
21 - "A Pair of Brown Eyes"
22 - "Auld Lang Syne"
23 - "I’m Going Insane (Finish Him)"
Act V: Decide
24 - "The Fall"
25 - "Into the Void (Filler)"
26 - "No Future Part V: In Endless Dreaming"
27 - "[ seven seconds ]"
28 - "Stable Boy"
29 - "A Moral"
Nota: 5/5
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