Foi possível entender um pouco melhor Elza Soares depois de assistir My Name Is Now, um dos muitos documentários escolhidos para nova edição do In-Edit Brasil. Em A Mulher do Fim do Mundo, ela, pela primeira vez, coloca no mercado um trabalho apenas de composições inéditas, o que diz muito sobre o momento atual dela – de redescoberta por uma geração – ainda que de outros compositores.
- Gravadora: Selo Circus/Natura Musical
- Lançamento: 1º de outubro
- Produção: Ernst von Bönninghausen
- Duração: 39 minutos
"Coração do Mar" é um poema de Oswald de Andrade musicado por José Miguel Wisnik e abre o disco, e tem uma Elza Soares cantando à capela, uma dessas coisas que ficam muito bonitas quando tudo se encaixa de maneira perfeita. Foi o caso aqui. O samba "A Mulher do Fim do Mundo" traz a cantora em uma de suas especialidades. E a melodia leve e um arranjo bem agrupado dão o tom.
A violência contra a mulher é quase dissecada em “Maria da Vila Matilde - Porque se a da Penha é Brava, Imagine a da Vila Matilde". Basicamente, a cantora ligará ao Disque-denúncia para denunciar o agressor e diz ‘cê vai se arrepender de levantar a mão para mim’ em outro samba muito bom – um alento e um incentivo a quem sofre diariamente qualquer tipo de agressão. A pesada, principalmente na melodia, "Luz Vermelha" coloca na mesa uma reflexão sobre a solidão, algo triste em uma cidade como São Paulo, o pano de fundo do disco.
O Bixiga 70, uma das ótimas bandas dessa nova geração paulista, participa no arranjo do samba "Pra Fuder", que coloca a cantora em uma ótima posição: a de soltar a voz sem dó. E isso ela faz como poucos. Celso Sim abre "Benedita", a canção mais mutante do disco inteiro – ela vai e volta em diversos temas, descrições, ritmos, gêneros e posições. Mas Elza mostra toda sua versatilidade no rap "Firmeza", dominada por um belo sax ao fundo, e "Dança", apesar de inferior às outras, consegue manter o prumo.
A descrição precisa de momentos de uma mulher brasileira faz de "O Canal" um retrato fiel em uma faixa quase de teor religioso. Já a delicada e de ótimo arranjo "Solto" é mais falada do que cantada, soando um desabafo de alguém que viveu muito, perdeu maridos e filhos, mas segue firme e forte. Outra pesada no quesito sentimental é "Comigo", que começa pesada até encerrar abruptamente para abrir espaço para Elza retornar ao início do disco: a capela.
Tracklist:
1 - "Coração do Mar"
2 - "A Mulher do Fim do Mundo"
3 – “Maria da Vila Matilde - Porque se a da Penha é Brava, Imagine a da Vila Matilde"
4 - "Luz Vermelha"
5 - "Pra Fuder"
6 - "Benedita" (com Celso Sim)
7 - "Firmeza" (com Rodrigo Campos)
8 - "Dança" (com Romulo Fróes)
9 - "O Canal"
10 - "Solto"
11 - "Comigo"
Nota: 4,5/5
Elza Soares: voz
Kiko Dinucci: guitarra
Marcelo Cabral: baixo
Rodrigo Campos: guitarra
Felipe Roseno: percussão
Celso Sim: direção artística e voz em "Benedita"
Rômulo Fróes: direção artística e participação em "Dança"
Thiago França e Bixiga 70: arranjo de Naipe
Marcelo Cabral: arranjo, violão de sete cordas e synth
Cuca Ferreira: flauta
Aramís Rocha: violino
Robson Rocha: violino
Edmur Mello: viola
Deni Rocha: cello
Edy Trombone: trombone
DJ Marco: pick ups
Felipe Roseno: percussões
Thomas Rohrer: rabeca
Cuca Ferreira: flauta
Rodrigo Campos: voz em "Firmeza"
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