Discos para história: Yoshimi Battles The Pink Robots, do Flaming Lips (2002)


A 105ª edição do Discos para história fala sobre um dos clássicos do início dos anos 2000: Yoshimi Battles The Pink Robots, disco que consolidou a posição do Flaming Lips no mainstream.

História do disco

O Flaming Lips passava por uma reformulação interna em 1997, e isso passou pela saída do guitarrista Ronald Jones. A banda aproveitou para mudar suas diretrizes ao lançar Zaireeka (1997), um dos trabalhos mais experimentais do grupo, agora com apenas três integrantes. Nesse período, Steven Drozd quase morreu depois de consumir altas doses de heroína, Michael Ivins ficou preso no carro por várias horas depois de um acidente e o pai de Wayne Coyne morreu.

Eles superaram tudo isso graças ao sucesso comercial de The Soft Bulletin (esse vale outro Discos para história, então melhor parar por aqui), de 1999. A ideia de usar a música eletrônica e elementos incomuns chamou a atenção deles, que ficaram quase obcecados com a ideia de poder fazer o que desejassem ao misturar coisas até então não feitas anteriormente.

Para Yoshimi Battles The Pink Robots, o Flaming Lips usou um pano de fundo (a história de Yoshimi) para falar de amor, decepções, pacifismo e, sobretudo, humanidade. Apesar de as canções fazerem muito sentido como uma coisa só, Coyne desmentiu que a intenção fosse fazer um disco conceitual à la Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, dos Beatles.


"Muitas vezes, quando os grupos estão fazendo discos, você apenas faz sem saber o que está fazendo. E se você tiver sorte, se depara com algo que você diz 'Hey, este é um fio que une essas coisas'", falou. "Mas às vezes é uma história, ou é um pouco mais de um conceito. Quando fizemos Yoshimi and the Pink Robots, e você tem que lembrar: é apenas música, não estamos pensando nisso como qualquer outra coisa, nós não pensamos em qualquer conceito. A primeira canção foi baseada em torno da morte de uma mulher japonesa (do grupo Boredoms)”, completou.

"Logo depois, nós escrevemos a música 'Yoshimi Battles The Pink Robots' e conectamos três ou quatro dessas coisas, quase que imediatamente. E então eu pintei a capa do álbum, e nós o chamamos Yoshimi Battles The Pink Robots. E, antes que você perceba, você está dizendo às pessoas: 'Esta é uma história'. Parece uma história em quadrinhos ou algo assim, por isso não me admira que as pessoas pensam que é um álbum conceitual. Porque, sem querer, fiz as pessoas pensarem que fosse", explicou.

Lançado em 16 de junho de 2002, o trabalho foi bem recebido por público e crítica. Aclamado como um dos grandes discos da primeira década dos anos 2000, o disco é a continuação do experimentalismo do anterior, agora focado em contar uma história com ares pop. Devido ao sucesso, Aaron Sorkin, criador de West Wing, a adaptou ao teatro em 2012. Para finalizar a aclamação, "Approaching Pavonis Mons by Balloon (Utopia Planitia)" levou o Grammy em 2003 de Melhor Performance Instrumental de Rock.



Resenha de Yoshimi Battles The Pink Robots

O início até dá a impressão de "Fight Test" será cheia de efeitos, mas nada mais é que uma canção acústica sobre como um homem precisa decidir sua vida em certos momentos. Algum tempo depois, Cat Stevens começou a receber direitos por conta da semelhança com "Father and Son". Bem leve, "One More Robot/Sympathy 3000-21" traz a ideia de como seria se os robôs pudessem ter sentimentos, mesmo com as imensas dificuldades em administrá-los.

Em quase três canções, é possível observar o trabalho de colagem feito. Por isso, foi complemente natural quando falaram em disco conceitual – soa um mesmo. Talvez a canção mais legal do Flaming Lips, "Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 1" começa a história de Yoshimi de fato. Aqui, o trabalho melódico entre acústico e um tom futurístico dá o tom de uma canção leve de letra pesada (Oh Yoshimi/They don't believe me/But you won't let those/Robots defeat me/Oh Yoshimi/They don't believe me/But you won't let those/Robots eat me). A continuação é "Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 2", essa totalmente instrumental e experimental.



A longa introdução de "In the Morning of the Magicians" coloca o ouvinte quase dentro de uma animação Disney. A voz cheia de efeito ganha o complemento do violão, criando uma atmosfera leve ao questionar ‘ o que é amar e o que é odiar?’, enquanto "Ego Tripping at the Gates of Hell" fala sobre o egoísmo de amar alguém que nunca te amará.

"Are You a Hypnotist??" tem um trecho muito interessante: Eu tive que te perdoar para me enganar novamente/Mas eu tenho sido enganado novamente/Dentro perdoo você/O que é isso? Você é uma espécie de hipnotizador? Em uma faixa bem experimental, esse tipo de questionamento pode reverberar na cabeça de muitas pessoas em uma ótima letra. E "It's Summertime" é aquele momento em que estamos tristes e solitários, mas ainda é possível pensar que há luz (o verão, no caso). Duas ótimas canções que deveriam ter mais reconhecimento.



Uma das mais populares do repertório do grupo, "Do You Realize??" é inspirada na visita ao hospital por parte de Coyne ao ver Drozd em coma. Logo que chegou em casa, ele escreveu a letra inteira, falando sobre morte (o trecho You realize that life goes fast/It's hard to make the good things last/You realize the sun doesn't go down/It's just an illusion caused by the world spinning round é lindo). Eles questionam o futuro na melancólica "All We Have Is Now". E a instrumental "Approaching Pavonis Mons by Balloon (Utopia Planitia)" amarra tudo e encerra com imensa maestria o disco.

Se a intenção do Flaming Lips era causa reflexão, conseguiu. Yoshimi Battles The Pink Robots não é apenas um disco, mas uma ótima descrição de nós e usa um belo pano de fundo para isso. Esse disco expõe nossas fragilidades, dores e sentimentos. Talvez esse seja o grande trabalho do Flaming Lips, que aperfeiçoou o experimentalismo do álbum anterior e colocou alma nele.



Ficha técnica:

Tracklist:

1 - "Fight Test" (The Flaming Lips, Dave Fridmann, Cat Stevens) (4:14)
2 - "One More Robot/Sympathy 3000-21" (4:59)
3 - "Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 1" (4:45)
4 - "Yoshimi Battles the Pink Robots Pt. 2" (2:57)
5 - "In the Morning of the Magicians" (6:18)
6 - "Ego Tripping at the Gates of Hell" (4:34)
7 - "Are You a Hypnotist??" (4:44)
8 - "It's Summertime" (4:20)
9 - "Do You Realize??" (The Flaming Lips, Dave Fridmann) (3:33)
10 - "All We Have Is Now" (3:53)
11 - "Approaching Pavonis Mons by Balloon (Utopia Planitia)" (3:09)

Todas as músicas foram escritas pelo The Flaming Lips, exceto as marcadas.

Gravadora: Warner Bros.
Produção: The Flaming Lips, Dave Fridmann, Scott Booker
Duração: 47min25s

Wayne Coyne: guitarra e vocais
Steven Drozd: guitarra, teclados, efeitos, bateria e vocais
Michael Ivins: baixo, teclado e vocais

Convidados:
Yoshimi P-We: vocalização



Veja também:
Discos para história: Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, do Arctic Monkeys (2006)
Discos para história: Crosby, Stills & Nash, de Crosby, Stills & Nash (1969)
Discos para história: Purple Rain, de Prince and The Revolution (1984)
Discos para história: Time Out of Mind, de Bob Dylan (1997)
Discos para história: Elvis Presley, de Elvis Presley (1956)
Discos para história: Transformer, de Lou Reed (1972)
Discos para história: Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, do Sex Pistols (1977)

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