Discos para história: Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, do Arctic Monkeys (2006)


A 104ª edição do Discos para história fala sobre o primeiro disco do Arctic Monkeys, Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, primeiro grande sucesso da chamada geração internet.

História do disco

Formado na periferia de Sheffield, na Inglaterra, o Arctic Monkeys fez seu primeiro show pouco mais de um ano da reunião entre os amigos Alex Turner, Jamie Cook, Andy Nicholson e Matt Helders. Depois disso, gravar uma demo no 2fly studios foi um pulo. A partir daí, a popularidade deles cresceu muito no circuito underground da cidade, principalmente quando as canções começaram a ser disponibilizadas na internet através de fãs que compraram o disco.

A banda não se importou com esse movimento. Ao contrário, incentivou ainda mais o compartilhamento das faixas pela internet, principalmente através do MySpace, rede social (sim, ainda existe) em que as bandas têm espaço para divulgar seu trabalho. Nesse caso do Arctic Monkeys, os fãs fizeram tudo, até mesmo uma página para divulgar shows pelo Reino Unido e possíveis novas canções. Esse movimento chamou atenção da imprensa inglesa, principalmente da musical e da BBC Radio 1.

Mas só em maio de 2005 eles lançaram o primeiro EP – “Fake Tales of San Francisco" no lado A e "From the Ritz to the Rubble" no lado B –, limitado a mil cópias em vinil e 500 em CDs. Acabou como água no deserto. A popularidade gerou um convite para tocar no Leeds and Reading Festival em um palco menor, porque eles não eram tão famosos aos olhos os organizadores, abarrotado de pessoas para vê-los. No mesmo ano, assinaram contrato com a gravadora Domino e lançaram "I Bet You Look Good on the Dancefloor" em outubro, atingindo o primeiro lugar das paradas no Reino Unido.


A chamada grande imprensa só foi perceber o fenômeno Arctic Monkeys depois de dois acontecimentos. O primeiro: a presença de uma banda até então desconhecida na capa da NME; o segundo: o single "When the Sun Goes Down", colocado no mercado em janeiro de 2006, vendeu quase 40 mil cópias em sua semana de estreia. Nesse momento, ao olhar a popularidade do grupo, perceberam que a força da internet estava mexendo em um vespeiro intocável até então.

Gravado em 2005, Whatever People Say I Am, That's What I'm Not foi segurado até 23 de janeiro de 2006, foi feito de maneira muito simples e mostrando bem a vida do jovem inglês do século 21. A propaganda em não ter propaganda gerou uma procura imensa pelo álbum, e isso gerou a antecipação o lançamento em uma semana – falam também que aconteceu para evitar o vazamento das canções para download em serviços ilegais.

Nem precisa dizer que foi um estouro. Colocado no mercado, mais de 120 mil cópias foram vendidas só no primeiro dia, sendo quase 365 mil ao final da semana (superou o total de vendas do top-20 junto). Acabou virando o álbum que vendeu mais rápido na história da música britânica. Nos Estados Unidos, é o segundo trabalho indie que mais vendeu no dia de lançamento.

Hoje, quase dez anos depois, é possível dizer que o Arctic Monkeys acabou sendo a primeira banda a ganhar popularidade na internet e só depois ser descoberta pela grande mídia. O aclamado trabalho pela crítica é um dos grandes discos da primeira década do século 21.



Resenha de Whatever People Say I Am, That's What I'm Not

Falando sobre a vida noturna em boa parte da Inglaterra, "The View from the Afternoon" é uma canção forte que abre muito bem o disco. Como a letra é recheada de ironias e jogos de palavras, muitos acreditam que é uma crítica a imprensa inglesa em geral, o que nunca foi confirmado por Alex Turner. Por ser rápida e cheia de guitarras, quase uma versão indie do Clash, a canção caiu no gosto da molecada rapidamente.

Tão legal e empolgante quanto a anterior, "I Bet You Look Good on the Dancefloor" é ainda mais cheia de instrumentos altos e feita para o pessoal pular e gritar durante as apresentações, e ela acabou virando um dos clássicos do grupo, assim como "Fake Tales of San Francisco" – de ótimo refrão. Três canções fortes e apaixonantes, de cara, mostraram toda força da banda em seu primeiro álbum.



"Dancing Shoes" vem na sequência para, em um EP, consagrar o Arctic Monkeys. São canções jovens, colocam o pessoal para agitar durante as apresentações e tem um refrão ótimo (Get on your dancing shoes/You sexy little swine/Hoping they're looking for you/Sure you'll be rummaging through), já "You Probably Couldn't See for the Lights But You Were Staring Straight at Me" é aquela letra bobinha feita por um hoje chamado de jovem adulto apaixonado, mas é tímido para confessar. Dessas duas, o que impressiona é a velocidade quase punk da execução.

A ótima "Still Take You Home" descreve uma situação que qualquer um poderia ter passado e ainda traz o famoso refrão instrumental – o solo de guitarra e depois do ‘daradaradra’ na sequência consegue fazer qualquer um cantar junto. Refletindo a vida dos criminosos juvenis, "Riot Van" é uma balada muito boa porque soa um relato de algo real (visto ou vivido) pelo cantor. E ela emenda com a seguinte, "Red Light Indicates Doors Are Secured", mais uma que traz a vida noturna de alguma cidade inglesa.



O protagonista sai de encrencas pela rua para passar pela famosa DR em "Mardy Bum", a canção que nunca foi lançada como single de forma oficial, mas ganhou o coração dos fãs por refletir pensamentos ou situações que muitos passaram naquela época ou tempos atuais. Por conta da temática, é uma letra que nunca ficará velha. E "Perhaps Vampires is a Bit Strong But..." serve para mostrar o potencial instrumental do Arctic Monkeys como conjunto ao usar um jogo de palavras para falar das relações entre as pessoas.

Outro clássico, "When the Sun Goes Down" começa acústica e tranquila, até que a guitarra aparece pesada e a canção muda completamente. Ao falar sobre a vida noturna, incluindo a prostituição local, a banda não só conseguiu fazer um disco bom, mas que refletia toda uma visão de sociedade que o jovem inglês tinha naquela época. Mais uma vez usando potencia máxima, eles apresentam "From the Ritz to the Rubble", essa sobre como as coisas mudam rapidamente. De maior duração, mais de cinco minutos, "A Certain Romance" é uma história contada em terceira pessoa sobre um amor que não existe mais (And there's the truth that they can't see/They'd probably like to throw a punch at me/And if you could only see them, then you would agree/Agree that there ain't no romance around there) transformada em uma ótima balada.

Logo após o lançamento do disco, o baixista Andy Nicholson não fez a turnê americana e deixou o grupo pouco tempo depois. Nick O'Malley o substituiu de maneira informal até ser efetivado em definitivo no cargo até hoje, quando o Arctic Monkeys virou uma das grandes bandas inglesas da atualidade. E tudo começou neste álbum simples, mas que refletia visões e anseios de muitos adolescentes britânicos daquela época. Quase dez anos é muito tempo para um disco, só que Whatever People Say I Am, That's What I'm Not não envelheceu e ainda desce bem para quem era jovem naquela época e hoje beira os 30 anos.



Ficha técnica:

Tracklist:

1 - "The View from the Afternoon" (3:38)
2 - "I Bet You Look Good on the Dancefloor" (2:53)
3 - "Fake Tales of San Francisco" (2:57)
4 - "Dancing Shoes" (2:21)
5 - "You Probably Couldn't See for the Lights But You Were Staring Straight at Me" (2:10)
6 - "Still Take You Home" (Turner e Jamie Cook) (2:53)
7 - "Riot Van" (2:14)
8 - "Red Light Indicates Doors Are Secured" (2:23)
9 - "Mardy Bum" (2:55)
10 - "Perhaps Vampires is a Bit Strong But..." (4:28)
11 - "When the Sun Goes Down" (3:20)
12 - "From the Ritz to the Rubble" (3:13)
13 - "A Certain Romance" (5:31)

Todas as músicas foram escritas por Alex Turner, exceto a marcada.

Gravadora: Domino
Produção: Jim Abbiss e Alan Smyth
Duração: 40min56s

Alex Turner: vocal e guitarra
Jamie Cook: guitarra e vocais de apoio
Andy Nicholson: baixo e vocais de apoio
Matt Helders: bateria, percussão, covocal em "You Probably Couldn't See for the Lights But You Were Staring Straight at Me" e vocal de apoio



Veja também:
Discos para história: Crosby, Stills & Nash, de Crosby, Stills & Nash (1969)
Discos para história: Purple Rain, de Prince and The Revolution (1984)
Discos para história: Time Out of Mind, de Bob Dylan (1997)
Discos para história: Elvis Presley, de Elvis Presley (1956)
Discos para história: Transformer, de Lou Reed (1972)
Discos para história: Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, do Sex Pistols (1977)
Discos para história: Born to Run, de Bruce Springsteen (1975)

Me siga no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!