Discos para história: Purple Rain, de Prince and The Revolution (1984)


A 102ª edição do Discos para história falara sobre um dos grandes álbuns dos anos 1980: Purple Rain, de Prince, colocando o cantor entre as mentes mais criativas da música.

História do disco

Do início dos anos 1980, Prince já vinha fazendo sucesso como cantor e com seus discos, mas o surgimento de Thriller, de Michael Jackson, colocou a música pop em outro patamar. O mundo mudou para antes e depois desse registro histórico, e Jackson virou, não só um cantor de sucesso, também um ícone da cultura pop depois do disco lançado em 1982. Então, Prince precisava agir para chegar em patamar semelhante.

É sempre bom lembrar que a indústria estava ganhando rios de dinheiro com a rivalidade Prince x Michael Jackson, e o segundo estava levando vantagem depois de colocar no mercado um álbum que revolucionou a música, a TV, o mercado, o nível de exigência do consumidor, enfim, um disco que ampliou horizontes de todos os envolvidos. Prince vinha na luta para fazer alguma coisa, ser relevante, e conseguiu com o LP 1999. Porém é possível dizer que Purple Rain (disco e filme são dois ícones daquela época) só surgiu por causa de Thriller.

Ao abrir um espaço inédito para a inovação, algo que não se via desde os Beatles nos anos 1960, Jackson iluminou a todos quando mostrou o caminho da inventividade, isso sem ter medo de arriscar algumas centenas de dólares. Nesse período, Prince convidou Lisa Coleman e Doctor Fink (teclados), Bobby Z. (bateria), Brown Mark (baixo) e Dez Dickerson (guitarra) para formar sua banda de estúdio, que levaria o nome Revolution meses depois. De início, era para ser apenas trabalho de gravação, mas o entrosamento foi tão bom que rolou um convite para fazer uma turnê. Então nasceu Prince and the Revolution.


O grupo nasceu quebrando um paradigma importante: há quase 40 anos, o mundo ainda era dividido entre pop, rock, R&B, sendo fora de cogitação uma mistura. Se Michael Jackson conseguiu invadir os lares ao dançar com zumbis, Prince uniu todos os gêneros no combinado disco e filme Purple Rain. E o cantor, genial e genioso, trabalhou duro na concepção de seu trabalho mais épico até os dias atuais.

"Prince foi um dos grandes gênios de sua época, mas se você olhar para o momento em que isso aconteceu, quando ele foi até seus empresários e disse: 'Vocês têm que me dar um contrato para um longa-metragem ou estão demitidos'. E o que saiu foi um filme com um diretor e produtor estreantes. Prince era um ator que nunca havia atuado, assim como sua banda", disse Alan Light, autor de Let's Go Crazy - Prince And The Making Of Purple Rain (importado, Atria Books, 305 págs, R$ 111,40), em entrevista à rádio NPR em 2014.

Light também explica, entre outras coisas, o processo de composição da faixa-título. “E o que é realmente surpreendente é que a gravação de ‘Purple Rain’ que nós conhecemos tão bem, que sabemos que cada segundo, é 98% do conteúdo do primeiro show de Wendy Melvoin na banda. Essa é a primeira vez que eles tocaram ‘Purple Rain’. Agora, se há alguma coisa que mostra a disciplina de Prince é o fato de que eles tocaram a música uma vez e é a mesma versão 30 anos depois. Isso é incrível. Há um pouco de edição no solo de guitarra e um pouco de eco, mas só. Essencialmente, é a mesma coisa. E isso é alucinante. Como eles fizeram isso? Então, é uma coisa incrível”, contou.

Lançado em 25 de junho de 1984, Purple Rain atingiu marcas histórias ao longo dos anos. Na semana de estreia, o disco chegou ao primeiro lugar nos Estados Unidos e em sétimo no Reino Unido, foi considerado o segundo melhor disco dos anos 1980 e 76º na famosa lista de 500 discos da Rolling Stone, levou os Grammys de Melhor Performance Vocal de Rock por um Duo ou Grupo e Melhor Álbum de Trilha Sonora Original escrita para um filme ou TV e o Oscar de Melhor Canção Original e está na Biblioteca do Congresso Americano porque é considerado um “disco histórico, relevante e culturalmente importante para divulgação dos Estados Unidos no mundo”.



Resenha de Purple Rain

Abertura do filme e do disco, "Let's Go Crazy" virou uma das canções mais famosas de Prince por conseguir aliar hard rock, R&B, dance music – basicamente uma mistura de tudo que fazia sucesso naquele pedaço dos anos 1980. Outros fatores determinantes são o refrão e o fato de ela ser bem dançante, e isso a colocou na liderança em três paradas diferentes (Hot R&B/Hip-Hop Songs e Hot Dance Club Play). Com ajuda da atriz Apollonia Kotero, que atua no filme, "Take Me with U" tem uma potencia impressionante e uma parte instrumental que espanta pela qualidade.

"The Beautiful Ones" pode muito bem representar qualquer canção de amor feita há mais de 30 anos com tudo que tem direito, incluindo o discurso direto à amada, uma bateria eletrônica lenta, uma melodia baseada no piano bem lenta e uma parte falada no meio da letra (Paint a perfect Picture/Bring 2 life a vision in one's mind/The beautiful ones/Always smash the Picture/Always everytime).



O início de "Computer Blue" sugere uma relação ao melhor estilo dominatrix entre Wendy e Lisa, membros do Revolution, mas, no filme, trata da angústia de Prince com relação à amizade entre os personagens de Morris Day e Apollonia. Sobre a música em si, é possível afirmar que é um soul com base no hard rock e usa e abusa da parte instrumental do que da curta letra. Bem sexual e com uma clara referência à masturbação, "Darling Nikki" criou uma baita confusão nos Estados Unidos e, graças a isso, criou-se o Parents Music Resource Center. A sensação de ao vivo ao ouvir a faixa, única nesse estilo em todo trabalho, ainda é real depois de todo esse tempo, mostrando que ela envelheceu bem ao entrar no século 21. Prince estava em seu auge.

É muito difícil não conhecer "When Doves Cry" quando o solo de guitarra abre o lado B do álbum, na última gravação antes de fechar a trilha sonora. A bateria eletrônica entra e toma conta, e aparece a voz de Prince melhor e mais audível do que nunca. A melodia foi feita sem o baixo e tentativas foram feitas até o cantor decidir tirar o instrumento, algo incomum para canções dançantes. Mas funcionou lindamente, ainda mais no refrão (How can you just leave me standing?/Alone in a world that's so cold/Maybe I'm just 2 demanding/Maybe I'm just like my father 2 bold/Maybe you're just like my mother/She's never satisfied/Why do we scream at each other/This is what it sounds like when doves cry). Ela é um dos grandes sucessos da carreira de Prince, ficando cinco semanas no primeiro lugar nas paradas americanas.



Último single e top-10, "I Would Die 4 U" é um funk absurdamente acima da média. Estruturalmente, é pouco usual uma música assim usar R&B, dance, funk e soul dentro de uma linha sem cortes bruscos ou viradas abruptas, e o incrível é que ela é a mais curta do disco. E emenda "Baby I'm a Star", uma das muitas canções escritas entre 1980 e 1982, o chamado período mais criativo de Prince no quesito letras. Neste caso em especial, o sintetizador aparece mais, o baixo um pouco menos e é muito dançante. Dessas imensas coincidências, uma parte da música diz Baby, eu sou um (astro)/Posso não saber disto agora/Baby, mas eu sou, eu sou um (astro)/Eu não desejo parar até alcançar o topo, justamente quando o cantor chegou ao topo da música pop.

Não tinha como não encerrar com um dos maiores sucessos dos anos 1980: "Purple Rain". Gravada ao vivo e pouco modificada para entrar no disco, ela foi reduzida de 11 para pouco mais de oito minutos e encaixa muito bem no filme, até soando como um roteiro musicado. Outra combinação extravagante é juntar gospel, rock e uma orquestra na melodia. Não é de graça que Prince é chamado de gênio de sua geração, porque ele conseguiu escrever uma das melhores músicas de todos os tempos, mostrando ao mundo, naquela época, que a disputa pelo topo da música pop seria mais acirrada do que nunca.



Ficha técnica:

Tracklist:

Lado A

1 - "Let's Go Crazy" (4:39)
2 - "Take Me with U" (3:54)
3 - "The Beautiful Ones" (5:13)
4 - "Computer Blue" (3:59) (John L. Nelson, Wendy & Lisa and Dr. Fink.)
5 - "Darling Nikki" (4:14)

Lado B

1 - "When Doves Cry" (5:54)
2 - "I Would Die 4 U" (2:49)
3 - "Baby I'm a Star" (4:24)
4 - "Purple Rain" (8:41)

Todas as canções foram escritas por Prince, exceto a marcada.

Gravadora: Warner Bros.
Produção: Prince and The Revolution
Duração: 43min51s

Prince: vocais e instrumentos variados
Wendy Melvoin: guitarra e vocais (1, 2, 4, 7, 8, 9)
Lisa Coleman: teclados e vocais (1, 2, 4, 7, 8, 9)
Matt Fink: teclados (1, 2, 7, 8, 9)
Brown Mark: baixo (1, 2, 7, 8, 9)
Bobby Z.: bateria e percussão (1, 2, 7, 8, 9)
Novi Novog: violino e viola (2, 8, 9)
Suzie Katayama e David Coleman: violoncelo (2, 8, 9)
Apollonia: covocalista (2)
Jill Jones: vocais de apoio (2)



Veja também:
Discos para história: Time Out of Mind, de Bob Dylan (1997)
Discos para história: Elvis Presley, de Elvis Presley (1956)
Discos para história: Transformer, de Lou Reed (1972)
Discos para história: Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, do Sex Pistols (1977)
Discos para história: Born to Run, de Bruce Springsteen (1975)
Discos para história: Turn on the Bright Lights, do Interpol (2002)
Discos para história: Dirty, do Sonic Youth (1992)

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