Resenha: Buddy Guy – Born To Play Guitar


Por Gabriel Carvalho

Esta resenha começa de um jeito um pouco diferente. O motivo é o artista da vez, Buddy Guy. Uma das últimas lendas vivas do blues, o cantor e guitarrista dispensa qualquer tipo de introdução ou apresentação. O músico, aos 79 anos, continua em plena atividade e lançando discos. Após Rhythm & Blues, de 2013, Buddy Guy voltou aos estúdios e o resultado é Born To Play Guitar, novo disco do guitarrista.

O time escalado para o disco - produzido por Tom Hambridge, parceiro de Buddy Guy em empreitadas anteriores – inclui participações especiais, como as de Billy Gibbons, do ZZ Top, do cantor e gaitista Kim Wilson, Joss Stone e Van Morrison. Sem falar em músicos do naipe de Doyle Bramhall II (Arc Angels, três bons discos solo e diversas participações em discos ou turnês de gente do naipe de Roger Waters e Eric Clapton – se você não conhece, fica aqui a dica).

O disco tem momentos altos e outros nem tanto, mas o principal está ali: Buddy Guy, com aquelas interpretações características e os solos de guitarra que queremos ouvir. Os trabalhos são abertos com a faixa-título, um slow blues interessante cuja letra é praticamente um resumo da história do músico. Billy Gibbons dá o tom roqueiro na ótima “Wear You Out”, que deve proporcionar um grande momento em um possível show em que Guy e Gibbons dividam o palco.

“Back Up Mama” é outro slow blues. Agradável aos ouvidos, com bons licks e solos de guitarra, mas nada que mude a rotação da Terra. A primeira participação de Kim Wilson acontece na dançante “Too Late”, enquanto em “Whiskey, Beer & Wine” é possível notar o quanto a guitarra de Bramhall II incrementa o groove. Em seguida, Wilson retorna no vigoroso e divertido blues de “Kiss Me Quick” e a primeira metade do disco chega ao fim com “Crying Out Of One Eye”, que exibe doses significativas de soul e (não por isso) não empolga.

A segunda parte do álbum chega com a participação da talentosa Joss Stone em “(Baby) You Got What It Takes”. Stone, sem os excessos às vezes vistos em algumas canções dos discos dela, se encaixa muito bem no dueto com o guitarrista. “Turn Me Wild” traz o guitarrista usando o Wah-Wah e a letra é uma ode ao gênero que o consagrou não muito mais do que isso, apesar de não ser uma faixa ruim. “Crazy World” começa com muitos efeitos e retoma o soul no disco – a letra é uma crítica à sociedade atual.

“Smarter Than I Was” é recheada com os licks característicos do guitarrista e só por isso já valeria a audição, mas ele não se dá por satisfeito e executa solos vigorosos, cheios de distorção – outra marca registrada de Buddy Guy. “Thick Like Mississippi Mud” segue praticamente a mesma receita, com o acréscimo de metais e piano.

A dobradinha final do disco ficou reservada às homenagens para os amigos que já se foram. Na belíssima “Flesh & Bone”, dedicada a B.B. King – morto em maio deste ano – Buddy Guy divide os vocais com Van Morrison. “Come Back Muddy”, como o leitor deve imaginar, é dedicada a Muddy Waters, morto em 1983. Empunhando um violão de cordas de aço, Buddy Guy continua soando como Buddy Guy – isso é ótimo, diga-se – e celebra a vida de uma das lendas do blues.

Buddy Guy poderia pendurar a guitarra e descansar num canto qualquer dos Estados Unidos, o homem é uma lenda não só do blues, mas da música. No entanto, ele prefere – para a nossa sorte – continuar gravando discos e a representar com tanta dedicação o gênero que o consagrou.

Tracklist:

1 – “Born To Play Guitar”
2 – “Wear You Out” feat. Billy Gibbons
3 – “Back Up Mama”
4 – “Too Late” feat. Kim Wilson
5 – “Whiskey, Beer & Wine”
6 – “Kiss Me Quick” feat. Kim Wilson
7 – “Crying Out Of One Eye”
8 – “(Baby) You Got What It Takes” feat. Joss Stone
9 – “Turn Me Wild”
10 – “Crazy World”
11 – “Smarter Than I Was”
12 – “Thick Like Mississippi Mud”
13 – “Flesh & Bone (Dedicated to B.B. King)” with Van Morrison
14 – “Come Back Muddy”

Nota: 4/5



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