Resenha: Shaun Martin – 7 Summers


Por Gabriel Carvalho 

Shaun Martin, pianista/tecladista/organista nascido em Dallas, já trabalhou com artistas do naipe de Chaka Khan, Erykah Badu e um dos principais cantores da música gospel norte-americana, Kirk Franklin – com quem ganhou três Grammys.

Mas o rosto de Martin só ficou mesmo conhecido pelo público após os discos gravados com o Snarky Puppy, quando ele pôde não apenas ser ouvido, mas também foi visto, já que a banda se utilizou justamente dos vídeos das performances gravadas para os álbuns para se promover nas redes sociais. Com o grupo, Martin conquistou o quarto Grammy da carreira.

Com tantas credenciais, só faltava lançar um disco solo. Faltava. Martin finalmente lança o primeiro álbum da carreira, 7 Summers. O porquê do nome já aparece na faixa de abertura do registro, “Intro” – que, sim, é isso mesmo: uma introdução com um trecho instrumental que mistura de hip-hop com jazz, enquanto Martin explica a história do disco e, no final, mostra as credenciais em um solo de piano. Entre falta de tempo, dinheiro e confiança, passaram-se sete anos até que, no sétimo verão (do hemisfério norte) o álbum ganhou vida.

As três faixas seguintes, instrumentais, formam um conjunto coeso e interessante, começando pelo clima de celebração que toma conta de “One Big Party”. No fundo, as palmas e aquele burburinho típico de festas; no plano principal, uma melodia animada e contagiante, que lembra a atmosfera de New Orleans e das Big Bands. Aqui, Martin ataca no órgão e o resultado é muito bom. “The Yellow Jacket” pende para o fusion e é deveras interessante, enquanto “Lotus” é cheia de influências latinas – a parte central da canção é um convite para o ouvinte arriscar alguns passos – e retoma elementos do fusion no terço final.

Na sequência, Martin traz uma trinca de composições com letras, que são cantadas por artistas convidados. A primeira aparição é a de Nikki Ross, em “Have Your Chance at Love”, balada R&B na qual o músico buscou inspiração na própria história – ele terminara um relacionamento quando conheceu a mulher com quem ele acabou se casando. A letra é bonita, mas a melodia peca um pouco pelo desejo de ser grandiosa.

“Love, Don't Let Me Down”, com a participação de Claudia Melton, segue no clima R&B, mas tem um toque moderno, cheia de efeitos eletrônicos ao fundo. “Long Gone”, com os vocais de Adrian Hulet e as guitarras de Mark Lettieri, é uma (curta) balada inspirada na música gospel, que conta a história de alguém que levava uma vida triste até que encontrou (em outra pessoa) uma razão para viver.

O instrumental volta com tudo em “The Torrent”, um bebop com ritmos quebrados que impressiona – destaque para o solo de bateria que começa pouco depois da metade da faixa. Em seguida surge “Madiba Monologue”, em Martin conta que ele chegou à África do Sul no mesmo dia em que Nelson Mandela morreu e o que mais impressionou o músico foi o fato de que as pessoas, ao invés de lamentar a morte do líder da luta contra o Apartheid, celebravam a vida dele. Essa foi a ‘faísca’ que gerou “Madiba”, a melhor faixa do disco. Clima lá no alto, muitos metais, muita percussão e influência dos ritmos africanos. E Martin, claro aparece inspiradíssimo em um solo de piano.

“All In A Days’ Work”, com as participações de Geno Young nos vocais e RC Williams no piano Rhodes, mantém o alto nível: um hip-hop com refrão que gruda na cabeça e letra de tom motivacional. “Closing Credits (A Requiem for Carolyn)”, que flerta com a música clássica, é delicada e dá o encerramento na medida certa para  7 Summers.

A estreia de Shaun Martin como artista solo demorou sete anos desde a concepção, mas quando finalmente ganhou vida, chegou tal qual o verão quando entra em nossas vidas: com positividade e brilho.

Tracklist:

1 – “Intro”
2 – “One Big Party”
3 – “The Yellow Jacket”
4 – “Lotus”
5 – “Have Your Chance at Love” (feat. Nikki Ross)
6 – “Love, Don't Let Me Down” (feat. Claudia Melton)
7 – “Long Gone” (feat. Adrian Hulet and Mark Lettieri)
8 – “The Torrent”
9 – “Madiba Monologue”
10 – “Madiba”
11 – “All In A Days' Work” (feat. Geno Young and RC Williams)
12 – “Closing Credits (A Requiem for Carolyn)”

Nota: 4/5

Clique aqui para ouvir o disco.

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