Discos para história: Turn on the Bright Lights, do Interpol (2002)


A 96ª edição do Discos para história falará sobre Turn on the Bright Lights, estreia do então quarteto Interpol pela Matador. O álbum foi uma das surpresas de 2002, figurando nas listas dos melhores do ano e é considerado uma das ótimas estreias da década passada.

História do disco

O Interpol é mais um desses casos de bandas formadas na universidade. O baterista Greg Drudy e o guitarrista Daniel Kessler se conheceram na New York University em um encontro casual, pois Kessler estava louco para montar uma banda e esbarrava na dificuldade em encontrar músicos competentes para iniciar o projeto. Logo depois, ele encontrou com Paul Banks, amigo que conheceu em férias na França, e perguntou se ele gostaria de participar.

Depois de iniciado, a banda começou a tocar em alguns lugares e fez relativo sucesso. Mas eles ainda não tinham um nome, então era sempre complicado achá-los depois das apresentações. Eles pensaram em nomes ruins como Las Armas e The French Letters, até que chegaram a um acordo pelo nome Interpol (não confundir com a organização que ajuda no combate ao crime em diversos países).

Antes mesmo de conseguir qualquer coisa, Drudy deixou o grupo para se dedicar à gravadora Level Plane. Foi aí que o baterista Samuel ‘Sam’ Fogarino entrou na parada e ajudou a mudar um pouco a história dessa banda de Nova York.


Uma coisa interessante que aconteceu na cidade foi a cena musical, que ganhou nomes como The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, The National e outras bandas que tinham como inspiração a Nova York do fim dos anos 1960, com Stooges e Velvet Underground, e bandas inglesas do calibre de Echo and the Bunnymen, The Smiths, Joy Division e muito do pós-punk inglês do fim dos anos 1970 e meados dos anos 1980. Então, a sonoridade era o que diferenciava todos eles. No caso do Interpol, era algo mais pesado e sombrio, e a voz de Paul Banks era o diferencial para cantar as letras melancólicas recheadas de teclados, guitarras, baixo alto e efeitos.

Depois de alguns discos amadores, eles assinaram com a gravadora Matador para um trabalho curto melhor produzido, e foi aí que saiu um EP em junho. Dois meses depois, seria colocado no mercado o primeiro álbum cheio, chamado Turn on the Bright Lights. O repertório era feito das músicas tocadas ao vivo, então não deu muito trabalho na hora de gravar. Lançado em 20 de agosto de 2002, chegou ao 101º na parada inglesa e no 158º na americana, mas foi um desses que boa parte dos críticos gostou muito e entrou em muitas listas de Melhores do Ano e da Década.



Resenha de Turn on the Bright Lights

O clima soturno de "Untitled" já vale o disco. Principalmente por ter sido feita em um período em que boys e girls band dominavam as paradas de sucesso. A voz de Paul Banks, o baixo insistente nos ouvidos, a bateria segura... A canção em si é muito boa e se ajuda ao manter o clima do início ao fim, sem reviravoltas ou qualquer tipo de artifício tacanho para virar algo mais palatável.

Em "Obstacle 1" temos a guitarra alta dominando e um vocal muito inspirado para cantar sobre uma garota má, no pior sentido possível da palavra, rancorosa e que só pensa em dinheiro. Cantar esse tipo de música sem soar piegas é um trabalho e tanto, mas o Interpol conseguiu isso muito bem, e "NYC" temos uma espécie de ode à Nova York, quando o personagem principal destaca os piores momentos da cidade. Para quem mora fora pode parecer estranho, mas, para quem mora em uma grande cidade, é possível amar o caos.



"PDA" trata de um amor mal resolvido e de como o personagem principal perdeu a mulher que amava. Aqui, pode não parecer, mas temos o auge do álbum. É tão difícil emplacar quatro canções seguidas muito boas, e o Interpol fez isso muito bem neste álbum. E o peso do baixo faz dessa canção em especial algo muito bonito e melancólico ao mesmo tempo. A guitarra potente coloca o público para dançar e cantar junto na ótima "Say Hello to the Angels", a mais pop de todas as 11 canções.

A obscuridade volta com tudo em "Hands Away", que conta com um teclado mantendo a base da melodia e ajudando guitarra e bateria no trabalho de seguir a melodia em uma faixa meio cantada, meio instrumental. E "Obstacle 2" traz um relato sobre um dia de um cara que, enfim, encontra o amor de sua vida – a canção é pesada na melodia e carregada na percussão. Particularmente, gosto muito de "Stella Was a Diver and She Was Always Down" por ser dessas letras adultas que dialogam com adultos ao usar o fato de Stella ser uma mergulhadora e brincar com alguns termos na letra.



Caprichada, "Roland" serve para mostrar o lado mais rápido e pesado do Interpol, sendo a única assim em todo álbum – essa parece ter sido inspirada em algum momento do punk, não do pós-punk. Pode não parecer, mas "The New" tem uma dos versos mais tocantes e emocionantes da música (But I can't pretend/ I need to defend some part of me from you/ I know I've spent some time lying/ I can't pretend I don't need to defend some part of me from you/ I know I've spent some time lying), e isso ajuda muito a carregá-la de sentimentalismo. E o solo de guitarra no início da segunda metade também ajuda.

Para encerrar, "Leif Erikson" celebra o amor e serve para colocar o Interpol entre uma das boas bandas que surgiram no início da década passada. E o legal é que eles seguem por aí, fazendo esse tipo de música melancólica e incrivelmente boa.



Ficha técnica:

Tracklist:

1 - "Untitled"
2 - "Obstacle 1"
3 - "NYC"
4 - "PDA"
5 - "Say Hello to the Angels"
6 - "Hands Away"
7 - "Obstacle 2"
8 - "Stella Was a Diver and She Was Always Down"
9 - "Roland"
10 - "The New"
11 - "Leif Erikson"

Todas as canções são creditadas ao Interpol.

Gravadora: Matador
Produção: Peter Katis e Gareth Jones
Duração: 49min02s

Paul Banks: vocais e guitarra
Daniel Kessler: guitarra e vocais de apoio
Carlos D: baixo e teclado
Samuel Fogarino: bateria e percussão


Veja também:
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