Discos para história: Wish You Were Here, do Pink Floyd (1975)


A 89ª edição do Discos para história fala sobre Wish You Were Here, disco lançado pelo Pink Floyd em 1975, sucessor de The Dark Side of the Moon, o maior clássico do grupo. Só que o sétimo álbum deles não ficou muito atrás disso.

História do disco

Ao longo de 1973 e 1974, o Pink Floyd ficou fazendo a divulgação de The Dark Side of the Moon, um grande sucesso entre público e crítica, fazendo Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright adquirirem fama e fortuna muito rapidamente. De um ano para outro, eles assumiram uma posição de protagonismo até então desconhecida pelos quatro. Isso gerou uma renovação por parte da Columbia, gravadora deles nos Estados Unidos, que pagou a eles US$ 1 milhão de dólares para assinar um novo contrato.

Depois do fim da maior turnê feita pela banda até então, eles retornaram aos estúdios de Abbey Road para começarem as gravações do futuro disco. Sem Alan Parsons, fundamental para moldar o álbum anterior graças ao seu inegável talento como engenheiro de som (agora ele estava tocando o incrível Alan Parsons Project), Brian Humphries foi convidado para ajudá-los desta vez. Mas havia um problema grave dentro do Pink Floyd.

O esgotamento físico e mental de todos após um processo de composição difícil de Dark Side... e da longa turnê impediram um bom início de trabalho nos primeiros dias. Além disso, problemas pessoais de Mason e os inícios do início da guerra entre Waters (desejando em fazer algo ainda maior) e Gilmour (queria melhorar o que eles haviam feito ao longo dos últimos anos) também interferiram muito no andamento das gravações. Semanas depois, os dois se acertaram e partiram de um ponto iniciado ainda na turnê – uma linha de guitarra composta por Gilmour e usada nos shows. Então, entrou a criatividade do baixista em trabalhar em cima de uma ideia ousada ao homenagear Syd Barrett, ex-membro do grupo que saiu do Pink Floyd por conta de seus problemas mentais e abuso de LSD, em "Shine On You Crazy Diamond".


Waters sugeriu uma peça dividida em partes e conseguiu colocá-la no disco, apesar do voto contra de Gilmour. Na mesma semana, eles também fizeram "Raving e Drooling" e "You Gotta Be Crazy", mas foram colocadas de lado até o disco seguinte, Animals (1977). As sessões seguiram boas e produtivas até 5 de julho de 1975, quando um fato histórico aconteceu e, definitivamente, mudou a relação do grupo com aquele disco.

Um homem gordo e com a cabeça raspada entrou no estúdio, não sendo reconhecido por ninguém de cara. David Gilmour foi perguntar quem era e, para espanto e surpresa, ele se apresentou como Syd Barrett, nem sombra do homem criativo e um dos gênios da música dos anos 1960. Todos ficaram espantados por seu estado físico e mental – ele só estava lá fisicamente, dando a entender que estava em mais um de seus surtos. Anos depois, Mason confessou que todos os presentes se emocionaram muito com o ocorrido. Era o dia do casamento de Gilmour, então Barrett se juntou ao pessoal da EMI na recepção, mas foi embora sem dizer tchau. Era a última vez que a banda o via – ele morreu em 2006 em consequência de um câncer no pâncreas.

Para a capa do álbum, Storm Thorgerson foi atrás da banda durante uma turnê nos Estados Unidos para entender o conceito do trabalho, envolvendo amizades, a indústria musical. A ideia era retratar o medo das pessoas em esconderem seus verdadeiros sentimentos com relação aos outros com receio de serem mal compreendidas ou ficarem queimadas. E assim foi feito, com a imagem sendo tirada no estúdio da Warner Bros, em Los Angeles.

Colocado no mercado em 12 de setembro de 1975 na Inglaterra e no dia seguinte nos Estados Unidos, Wish You Were Here já havia sido encomendado por 900 mil pessoas e pulou direto ao primeiro lugar – a Columbia teve dificuldade em cumprir prazos de entregas e reposição nas lojas, já que a procura era muito mais alta do que o imaginado. O álbum é a melhor estreia do Pink Floyd em todos os tempos, sendo aclamado pela crítica como um dos melhores discos da história da música.



Resenha de Wish You Were Here

O início de "Shine On You Crazy Diamond (Parts I–V)" serve como antecipação da chamada ambient music, conhecida e feita por Brian Eno nos anos 1970 e 1980. Mas ela vai mais além, graça à sua delicadeza, com todos os instrumentos bem pontuados e elegantemente apresentados ao público. Dividida em cinco partes, tecnicamente, pode ser chamada de canção perfeita por estar tudo em seu lugar.

Ela deu muito trabalho ao grupo, pois precisou ser refeita algumas vezes antes de estar boa para entrar na mixagem final, quando Mason pôde gravar a bateria definitiva. Nessa faixa, o vocal aparece apenas a partir de 8min42s, início da quarta parte, com a bela participação de Venetta Fields e Carlena Williams nos vocais de apoio. Na última parte ainda há um solo de saxofone muito bonito para arrematar o final da canção.



Depois de ganhar US$ 1 milhão de dólares para renovar o contrato com a Columbia, o que o Pink Floyd fez? Criticou a indústria musical em "Welcome to the Machine", canção em que os músicos usaram muito eco, reverb, sintetizadores e uma escala musical para construir a melodia do início ao fim em uma das letras mais vorazes escritas por Roger Waters (Welcome my son, welcome to the machine/ What did you dream?/ It's alright we told you what to dream/ You dreamed of a big star/ He played a mean guitar/ He always ate in the steak bar/ He loved to drive in his jaguar/ So welcome to the machine).

Para abrir o lado B do disco, eles optaram por "Have a Cigar", outra em que Waters não poupa a indústria musical. O início é diferente das outras, dando a entender uma direção menos progressiva ao usar muitos solos de guitarra. Isso é confirmado quando o vocal aparece e, para surpresa de todos, é de Roy Harper. Ele estava gravando em um dos estúdios de Abbey Road, enquanto Waters e Gilmour estavam lutando com a canção, que havia ficado péssima em três tentativas de gravação (uma de cada e uma com os dois). Ao ouvir Harper cantar, eles não tiveram dúvidas em chamá-lo para gravar.



Usando um efeito para parecer uma estação de rádio, a canção anterior emenda com "Wish You Were Here", o maior sucesso comercial do disco, única faixa que ultrapassou os limites do álbum e é uma das mais ouvidas da história do Pink Floyd. Gravada com um violão de 12 cordas de Gilmour como base, é a única acústica de todo álbum, sendo outra homenagem a Barrett por parte da banda (Did they get you to trade/ Your heroes for ghosts?/ Hot ashes for trees?/ Hot air for a cool breeze?/ Cold comfort for change?/ Did you exchange/ A walk on part in the war/ For a lead role in a cage?).

Um vento é o fim e o início de "Shine On You Crazy Diamond (Parts VI–IX)", última música do álbum. No mesmo esquema da primeira, dividida em partes, ela apresenta um Pink Floyd focado nas experimentações e no conceito do trabalho de Waters, então retornam os efeitos e todo resto do início do trabalho nas duas primeiras partes. No início da oitava parte, ela ganha ares mais densos, lembrando muito o período do disco anterior. Para arrematar, há um trecho de "See Emily Play", composta por Barrett, o segundo single do Pink Floyd.

É um álbum espetacular até mesmo para quem não gosta de progressivo. Do início ao fim, é perfeito em tudo, mostrando que a banda estava pronta para chegar a lugares inimagináveis na música.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Shine On You Crazy Diamond (Parts I–V)"
2 - "Welcome to the Machine"

Lado B

1 - "Have a Cigar"
2 - "Wish You Were Here"
3 - "Shine On You Crazy Diamond (Parts VI–IX)"

Todas as músicas foram escritas por Roger Waters.

Gravadora: Harvest
Produção: Pink Floyd
Duração: 44min28s

David Gilmour: vocais, vocais de apoio, guitarra, sintetizadores, teclados, sequenciador, efeitos, guitarra havaiana e violão de seis e 12 cordas
Nick Mason: bateria, percussão e efeitos
Roger Waters: vocais, vocais de apoio, baixo, guitarra, sequenciador e efeitos
Richard Wright: teclado, sequenciador, vocais de apoio e clavinete

Convidados:

Dick Parry: saxofone em "Shine On You Crazy Diamond"
Roy Harper: vocais em "Have a Cigar"
The Blackberries (Venetta Fields e Carlena Williams): vocais de apoio
Stéphane Grappelli: violino em "Wish You Were Here" (não creditada inicialmente)


Veja também:
Discos para história: Loveless, do My Bloody Valentine (1991)
Discos para história: Indianola Mississippi Seeds, de B.B King (1970)
Discos para história: Sticky Fingers, dos Rolling Stones (1971)
Discos para história: Music from Big Pink, da The Band (1968)
Discos para história: The Joshua Tree, do U2 (1987)
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