Discos para história: A Night at the Opera, do Queen (1975)


A 90ª edição do Discos para história continua em 1975. Depois de falar de Pink Floyd, agora é a vez de A Night at the Opera, quarto disco de estúdio do Queen – o melhor da discografia da banda inglesa.

História do disco

O Queen vinha em uma crescente na carreira, sendo coroado com o sucesso de Sheer Heart Attack, lançado em 1974. O disco foi o primeiro sucesso internacional do grupo, sendo o single "Killer Queen" o carro-chefe. Foi o primeiro registro a ganhar o disco de ouro nos Estados Unidos, os colocando em outro patamar, além de ter vendido muito bem em toda Europa, agradando ambos os lados do Atlântico – algo raro de acontecer até os dias atuais.

Graças ao sucesso do registro, a banda foi até os Estados Unidos para uma turnê como headliner pela primeira vez no início de 1975, com uma curta passagem pelo Canadá – também como atração principal. Como as vendagens fora muito altas, a gravadora e os membros do grupo decidiram incrementar um pouco o palco com um jogo de luzes e uma roupa mais apresentável.

Em setembro do mesmo ano, o Queen rompeu contrato com a gravadora Trident após várias recusas de liberação de um dinheiro que eles tinham direito para coisas simples, como a compra de instrumentos e pagamento de aluguel, deixando todos em sérias dificuldades financeiras. Depois de toda confusão, eles cogitaram até mesmo contratação de Peter Grant, que gerenciava a mão de ferro a carreira do Led Zeppelin, mas o acordo não rolou e eles fecharam com John Reid, então empresário de Elton John – Reid os acompanhou até o fim da banda, quando Freddie Mercury morreu. Sem a pressão da gravadora, puderam trabalhar em paz.


Com um punhado de canções nas mãos, os membros do Queen tiveram bastante trabalho no processo de finalização do que viria a ser A Night at the Opera, porque eles tiveram a ideia de usarem estúdios diferentes (Roundhouse, Sarm East, Rockfield, Scorpio, Lansdowne e Olympic) para cada um dos membros. Para que tudo isso? Se cada um trouxesse sua parte pronta e finalizada, seria mais fácil descartar ou colocar no disco. Foram quatro meses nesse esquema, deixando todos esgotados física e psicologicamente – o disco é tratado por Brian May como o “Sgt Peppers do Queen”. Falando da capa, o desenho era um projeto antigo de Mercury que acabou sendo atualizado para ser a apresentação do novo álbum, ganhando “um tratamento luxuoso” em cores. Dentro, havia uma série de imagens das últimas turnês do grupo.

Lançado em 21 de novembro de 1975, A Night at the Opera, disco mais caro feito pelo Queen até então, foi um sucesso estrondoso no Reino Unido, chegando ao primeiro lugar das paradas no dia de sua estreia – ficou em quarto no mercado americano – e quatro semanas não consecutivas no topo. Em revisões antigas e novas, o disco é colocado como a grande obra-prima do Queen e um dos grandes da história, já que serviu para colocar para fora todo potencial criativo e musical deles.



Resenha de A Night at the Opera

O disco começa como uma espécie de trilha de filme em "Death on Two Legs (Dedicated to...)", dedicada ao ex-empresário da banda, acusado de, junto da gravadora, desviar os ganhos do Queen para uso pessoal. Pesada, recheada de riffs e uma guitarra bem alta, ela mostrou muito da versatilidade da banda em cantar qualquer tipo de música – desde que bem feita, claro. Reza a lenda que, irritado com Brian May, Freddie Mercury tocou no piano o jeito certo que ele queria ouvir da guitarra.

Com um microfone dentro de um balde e a voz sendo reproduzida dentro de outro balde em diversos lugares do estúdio, "Lazing on a Sunday Afternoon" chegou praticamente pronta ao estúdio principal, pois Mercury gravou piano e voz em outro lugar, dando um tom diferente a algo pendente a comédia. Já "I'm in Love with My Car” é a mais conhecida com Roger Taylor nos vocais. Aliás, a canção em si é tão diferente do catálogo do Queen, que May, na primeira audição, achou que era uma piada do amigo. Taylor fez vocal e as guitarras com o resto do grupo colocando o que faltava depois.

Casado há pouco tempo, John Deacon escreveu "You're My Best Friend" para sua mulher. E além de escrever e tocar baixo, ele também tocou um piano Wurlitzer. Não muito diferente de qualquer balada romântica, a letra não tem muitos segredos ou artifícios, mas chama atenção exatamente por sua simplicidade e recado direto (You're the best friend that I ever had/ I've been with you such a long time/ You're my sunshine and I want you to know/ That my feelings are true/ I really love you/ Oh you're my best friend).



"'39" é a primeira de May nos vocais neste álbum e, assim como Deacon na anterior, ele fez de tudo um pouco em uma faixa que conta a história de exploradores do espaço que, quando retornam à Terra, veem que todos os seus familiares estão muito velhos ou mortos, sendo a melodia claramente inspirada no folk tradicional. Ao soar mais crua, "Sweet Lady" dá a impressão de ter sido gravada ao vivo, enquanto "Seaside Rendezvous" soa muito como trilha de algum filme de comédia – May e Mercury fazem os barulhos (0min51s) com a boca. O vocalista o responsável pelo sapateado em um trecho ao usar dedais em seus dedos.

O lado B começa com a mais longa de todo álbum: "The Prophet's Song", uma ópera rock com tons de progressivo e um peso raramente visto em um grupo de teor tão pop como o Queen. May revelou logo depois ter composto a letra durante seu processo de recuperação que o afastou das gravações de Sheer Heart Attack por algumas semanas.

Depois dela vem "Love of My Life", uma das canções históricas do Queen, que Mercury nunca confirmou (nem negou) a homenagem a Mary Austin, sua antiga namorada. É uma balada de ar clássico absurdo, muito por conta de a melodia ser toda no piano – a guitarra está muito discreta no início, porém aparece com mais vivacidade na parte final. Essa canção virou uma das marcas do Queen ao vivo, quando o público cantou junto muitas vezes durante as apresentações.



Décima faixa, "Good Company" tem uma levada e narrativa simples, e é quase um standard sem a participação de Freddie Mercury. Outro clássico presente no álbum é "Bohemian Rhapsody", escrita por Mercury do início ao fim em sua casa. O cantor, segundo alguns relatos, foi ao estúdio com a letra pronta e o que queria do início ao fim, dirigindo os companheiros de banda no estúdio desde o primeiro acorde. O trabalho para transformá-la no que virou levou seis semanas, dividas em três de ensaio e três entre gravação, overdubs e correções.

Como a intenção era fazer uma ópera, com seções e tudo que tinha direito, May sugeriu que o solo de guitarra fosse algo único. Então, ele ouviu a faixa semipronta e decidiu fazer algo diferente. E ele foi tão decidido, que gravou o solo em apenas um take – o guitarrista foi o único que fez sua parte sozinho. O disco encerra com a versão instrumental de "God Save the Queen", hino nacional britânico, gravado por Brian May apenas com a guitarra.

É um trabalho impressionante por mostrar a versatilidade do Queen enquanto banda. Cada um a seu modo, os quatro mostraram que eram capazes de fazer muita coisa quando inspirados e vivendo grande fase. Só com isso, a banda estaria na história, mas suas apresentações ao vivo, muito graças ao repertório desse álbum, transformaram o grupo em uma lenda.



Ficha técnica:

Tracklist:

Lado A

1 - "Death on Two Legs (Dedicated to...)" (Freddie Mercury)
2 - "Lazing on a Sunday Afternoon" (Mercury)
3 - "I'm in Love with My Car" (Roger Taylor)
4 - "You're My Best Friend" (John Deacon)
5 - "'39" (Brian May)
6 - "Sweet Lady" (May)
7 - "Seaside Rendezvous" (Mercury)

Lado B

8 - "The Prophet's Song" (May)
9 - "Love of My Life" (Mercury)
10 - "Good Company" (May)
11 - "Bohemian Rhapsody" (Mercury)
12 - "God Save the Queen" (Instrumental)

Gravadora: EMI / Parlophone
Produção: Roy Thomas Baker e Queen
Duração: 43min10s

Freddie Mercury: vocal, vocais de apoio e piano
Brian May: guitarra, ukulele em "Good Company", vocais de apoio, vocais em "'39" e "Good Company", koto em "The Prophet's Song" e harpa em "Love of My Life"
Roger Taylor: bateria, percussão, vocais em "I'm in Love with My Car" e vocais de apoio
John Deacon: baixo, baixo duplo em "'39" e piano Wurlitzer em "You're My Best Friend"


Veja também:
Discos para história: Wish You Were Here, do Pink Floyd (1975)
Discos para história: Loveless, do My Bloody Valentine (1991)
Discos para história: Indianola Mississippi Seeds, de B.B King (1970)
Discos para história: Sticky Fingers, dos Rolling Stones (1971)
Discos para história: Music from Big Pink, da The Band (1968)
Discos para história: The Joshua Tree, do U2 (1987)
Discos para história: Siamese Dream, do Smashing Pumpkins (1993)

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