Discos para história: Help!, dos Beatles (1965)


Depois de uma semana em que os problemas pessoais precisaram ser colocados à frente, o Discos para história retorna em sua 79ª edição para falar sobre Help!, quinto disco de estúdio dos Beatles, que também foi trilha sonora do filme de mesmo nome estrelado pela banda.

História do disco

O ano de 1965 foi muito agitado para os Beatles. No auge de ‘beatlemania’, eles foram convidados a gravar um segundo filme, que viria a se chamar Help!. Sem muito tempo de fazer muitas coisas, a banda optou por lançar seu quinto trabalho unindo o útil ao agradável: o novo álbum levaria o nome do filme e seria lançado também como parte da trilha sonora.

Mesmo com todo trabalho extra, John Lennon, George Harrison, Ringo Starr e Paul McCartney tiveram tempo para conhecer o LSD. Se McCartney relutou o quanto pôde para usar, os três primeiros caíram na onda e começaram a usar quase constantemente. E o ano também reservaria a nomeação do quarteto como Membros da Ordem do Império Britânico (MBE), apesar dos inúmeros protestos. Essa manobra da Rainha Elisabeth em dar esse tipo de honraria aos jovens famosos se tornaria uma marca de seu longo reinado.

Gravado ao longo de quatro meses, Help! foi o início da virada e do crescimento dos Beatles como banda. Em Beatles For Sale havia muito da banda do passado em um disco recheado de covers e canções pop, aqui havia um flerte com o uso de teclados, canções com menos apelo pop e uma clara evolução nos arranjos. Overdubs, uso de violões e letras mais profundas marcaram esse LP. Um exemplo disso é ver Lennon e McCartney dividindo os créditos com George Martin no uso do piano, sendo que o produtor tomou conta da função nos primeiros anos.


A história da capa é uma das grandes coisas da indústria musical. A ideia do fotógrafo Robert Freeman era colocar os quatro fazendo os sinais usados com bandeiras na marinha e aeronáutica para formar a palavra Help, título do disco. Mas o posicionamento não ficou esteticamente bonito na foto e Freeman modificou a pose dos quatro, que acabaram formando a sigla NUJV no lançamento do Reino Unido e NVUJ nos Estados Unidos com a mão esquerda de McCartney apontando para o logo da gravadora Capitol – havia uma preocupação pelo lado gravadora da banda na América do Norte em fazer coisas diferentes da matriz para atrair fãs para comprar todas as edições lançadas.

Help! foi lançado em 6 de agosto no Reino Unido, com as sete faixas do lado A fazendo parte da trilha sonora oficial do filme de mesmo nome, e uma semana depois nos EUA, lugar em que vendeu um milhão de cópias antecipadamente e que havia canções instrumentais no lado B e com várias fotos do longa, o disco foi um estouro de vendas.

Poucos dias depois, viria a coroação máxima do sucesso dos Beatles: o show no Shea Stadium, em Nova York, para 55 mil pessoas, então o maior público de uma banda na história da música.



Resenha de Help!

Já é sabido que “Help!” é um grito de desespero de John Lennon, então aos 24 anos, entrando em uma fase da vida que ele tinha tudo, menos liberdade. Estava engordando, ficando mais velho e menos hábil com sua guitarra, pois os Beatles tocavam, basicamente, o mesmo repertório há anos. Gravada em 12 tentativas, graças à dificuldade de acerto no riff entre os versos, a canção foi trabalhada em duas seções – 13 de abril e 24 de maio –, sendo a última apenas para finalizar os vocais. Ela é rápida e acabou casando muito bem com a proposta do filme de mesmo nome.

Segunda canção, "The Night Before" tem Lennon e Paul McCartney se revezando, e George Harrison ficou nos vocais de apoio, sendo os dois últimos responsáveis pela guitarra, e Ringo Starr na percussão. Por ser uma típica balada dos Beatles, não deu muito trabalho, enquanto a acústica "You've Got to Hide Your Love Away" é claramente inspirada no trabalho de Bob Dylan. Tocada por John Scott, a conhecida flauta entrou apenas no último dia de gravação da faixa.



"I Need You" é a primeira de duas canções de George Harrison no álbum, algo até então inédito, e era o retorno do guitarrista aos créditos depois de dois álbuns sem emplacar nada. Apesar de ser bobinha, bem romântica e inspirada na relação com Patty Boyd, já era melhor que “Don’t Bother Me”. Claramente inspirada no country rock americano, uma das referências do grupo, "Another Girl" usa recursos como o refrão instrumental, vocais de apoio e simplicidade nas letras, clássicas formas de trabalhar de McCartney ao longo de sua carreira.

Outra canção que se encontra elementos da primeira fase dos Beatles é "You're Going to Lose That Girl", em que é impossível negar sua origem. Desde os conhecidos maneirismos de Lennon até os vocais, essa, no caso, ganhou Starr tocando bongôs para criar uma atmosfera diferente ao ouvinte. Um clássico deles, "Ticket to Ride" tem um dos andamentos mais interessantes desse ponto da carreira por ir lenta e suave até a parte final, em que acelera. Aqui encerra o lado A e também a trilha sonora do filme na versão lançada no Reino Unido.

Como parte da tradição até ali, Starr ganhou seu momento solo – trabalhoso momento, diga-se. Depois de 12 tentativas com arranjos diferentes, "Act Naturally" foi gravada no mesmo dia. Resumindo: foram 12 tentativas para gravar a parte instrumental e uma para os vocais para esse country bem animado e último cover gravado pelos Beatles em estúdio até 1969. Uma das canções que Lennon mais detestava, "It's Only Love" é outra típica balada que a dupla Lennon-McCartney desenvolveu em dez anos de parceria.



A introdução mostra uma banda que acenava com uma mudança, "You Like Me Too Much", cantada por Harrison, teve George Martin e McCartney tocando piano em sessões distintas para encaixar o trabalho na edição depois. É outra canção inspirada na discografia de Dylan, mas com um toque dos Beatles. Outra com influência do folk, "Tell Me What You See" tem um Starr trabalhando bem na percussão, e Lennon e McCartney dividindo os vocais.

Uma sessão foi o suficiente para gravar o country "I've Just Seen a Face", que antecedeu um dos maiores clássicos da música mundial: "Yesterday". Escrita por McCartney, rapidamente se tornou uma das canções mais reproduzidas no mundo e mais regravadas. Com o quarteto de cordas funcionando brilhantemente ao dar suavidade à melodia, o cantor conseguiu trabalhar bem sua parte no violão e dar emoção no vocal nessa canção sobre rompimento e solidão. Foi a primeira vez que apenas um membro dos Beatles participou da gravação e também foi a primeira faixa feita nesses moldes a entrar em um trabalho deles, e acabaria virando uma marca registrada de Paul nos anos seguintes. Uma tentativa de uma nova versão com os quatro foi feita, mas logo vetada porque a que entrou no disco era imbatível. Encerrando, "Dizzy Miss Lizzy" é bem anos 1950 e remete aos primeiros álbuns do grupo, principalmente pelo vocal gritado de Lennon.

Mudanças físicas, psicológicas e comportamentais já mostravam que os Beatles estavam prontos para o próximo passo. Em um disco que mescla country, folk, rock e pop, eles mostraram que não queria mais apenas tocar para menininhas que gritavam. Se a realidade nos shows era uma, em estúdio a coisa mudava de figura. E isso seria determinante no próximo álbum.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Help!"
2 - "The Night Before"
3 - "You've Got to Hide Your Love Away"
4 - "I Need You" (George Harrison)
5 - "Another Girl"
6 - "You're Going to Lose That Girl"
7 - "Ticket to Ride"

Lado B

1 - "Act Naturally" (Johnny Russell e Voni Morrison)
2 - "It's Only Love"
3 - "You Like Me Too Much" (George Harrison)
4 - "Tell Me What You See"
5 - "I've Just Seen a Face"
6 - "Yesterday"
7 - "Dizzy Miss Lizzy" (Larry Williams)

As canções não creditadas são da dupla Lennon-McCartney.

Gravadora: Parlophone
Produção: George Martin
Duração: 34min20s

John Lennon: vocais, vocais de apoio, violão, guitarra, piano e teclado
Paul McCartney: vocais, vocais de apoio, violão, baixo, piano e teclado e reco-reco
George Harrison: vocais, vocais de apoio, guitarra e violão
Ringo Starr: bateria, palmas, percussão e vocais em "Act Naturally"

Convidados:

George Martin: piano
John Scott: flauta em "You've Got to Hide Your Love Away"
Quarteto de cordas em "Yesterday", com arranjos de George Martin e Paul McCartney



Veja também:
Discos para história: Parallel Lines, do Blondie (1978)
Discos para história: On The Beach, de Neil Young (1974)
Discos para história: Led Zeppelin II, do Led Zeppelin (1969)
Discos para história: (What's the Story) Morning Glory?, do Oasis (1995)
Discos para história: Bringing It All Back Home, de Bob Dylan (1965)
Discos para história: The Stone Roses, do Stones Roses (1989)
Discos para história: The Smiths, dos Smiths (1984)

Me siga no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!