Discos para história: Horses, de Patti Smith (1975)


Inspirado pelo texto sobre o show que Patti Smith fará na Praça São Pedro, no Vaticano, em dezembro, a 70ª edição do Discos para história fala sobre Horses, a estreia da cantora em estúdio. Depois de assistir Blondie e Ramones por algum tempo, Smith formou a Patti Smith Band e foi gravar um álbum.

História do disco

Patti Smith nasceu em Chicago e foi criada em uma família em que a mãe era uma feroz testemunha de Jeová. Pouco tempo depois, ela refutou qualquer ideia de ter uma religião para si e chegou a adotar o budismo tibetano como uma filosofia de vida durante algum período entre a adolescência e a fase adulta. A partir dos 11 anos, Smith começou a ouvir música por conta própria, chegando em álbuns como Shrimp Boats, Patience and Prudence e Another Side of Bob Dylan. Aos 21 anos, ela ficou grávida e optou por dar a menina, que nasceu em 21 de abril de 1967, à adoção, e isso mudou sua vida para sempre.

Muito antes de gravar seu primeiro disco, decidir ser uma mulher independente era dureza nos anos 1960, mas foi isso que ela fez. Criativa na escrita e no desenho, decidiu ir embora para Nova York para tentar sua vida. Sem amigos, encontrou emprego em uma livraria e um abrigo, ambos indicados por hippies que passavam seus dias por ali. Nesse período difícil, a futura cantora conheceu Robert Mapplethorpe, um dos melhores fotógrafos dos anos 1970, com quem dividiu um apartamento no Brooklyn no período de pouca comida e dinheiro.


Trabalhando duro, Smith chegou a ir até Paris tentar a sorte, porém logo retornou à cidade para trabalhar duro, seja escrevendo, pintando ou atuando. Demonstrando muito interesse no mundo musical, virou uma frequentadora assídua do CBGB, bar que ficaria extremamente conhecido por ser o principal revelador de nomes como Television, Talking Heads, Ramones e Blondie, bandas que fizeram parte do punk e da new wave – movimentos que mudaram os rumos da música e da indústria entre o fim dos anos 1970 e início dos anos 1980. Por mais incrível que possa parecer, a artista plástica chegou a fazer parte do Blue Öyster Cult e contribuiu compondo "Debbie Denise", "Baby Ice Dog", "Career of Evil", "Fire of Unknown Origin", "The Revenge of Vera Gemini" e "Shooting Shark".

Em 1974, com o guitarrista Lenny Kaye, Ivan Kral na guitarra e baixo, Jay Dee Daugherty na bateria e Richard Sohl no piano, Patti fundou a Patti Smith Band. Financiados pelo curador e colecionador de arte Sam Wagstaff, a banda gravou o primeiro single, com "Hey Joe” no lado A e “Piss Factory" no lado B. Nesse mesmo ano, o grupo foi convidado para participar de The Whole Thing Started with Rock & Roll Now It's Out of Control, de Ray Manzarek, do Doors.

Clive Davis se interessou pela banda liderada por Smith e os convidou para assinar com a gravadora Arista. Tudo certo, eles entraram em estúdio para gravar o que seria Horses, primeiro disco de Patti Smith, aos 29 anos, produzido por John Cale, ex-guitarrista do Velvet Underground.. Nessa época, o grupo já era um dos mais requisitados da nova cena musical da cidade para tocar, juntamente com os Ramones e o Blondie. Falando das gravações em si, não houve muito segredo, já que eles executavam o que tocavam ao vivo. Mesmo com alguma tensão entre Cale e a banda, tudo saiu exatamente como ambos queriam, com o resultado sendo bem interessante quando Horses ficou pronto.

Smith posou para Robert Mapplethorpe no Greenwich Village, local de reunião dos esquerdistas folks nos anos 1960 e dos punks nos anos 1970, para uma foto simples, mas que ficou para sempre marcada na história do rock. Até hoje, a capa desse disco é considerada uma das mais icônicas da música mundial, sendo reconhecida em qualquer canto do mundo. assim como a capa, Horses é considerado um dos grandes álbuns do século 20, sendo um dos trabalhos reconhecidos pela Biblioteca Nacional dos Estados Unidos como “culturalmente significante na história musical americana”.



Resenha de Horses

O trabalho abre com a clássica “Gloria”, escrita por Van Morrison para o Then, mas eternizada por Patti Smith em Horses. Com um clima bem punk, exatamente as influências de Smith de tanto que ia ao CBGB ver Ramones, a faixa ganhou um piano conduzindo a melodia, um riff de guitarra simples e o vocal de estilo semelhante ao de Lou Reed. Bem diferente da letra original, aqui é uma releitura com o famoso verso "Jesus died for somebody's sins/But not mine" no início.

Baseado em um poema de Smith chamado "Radando Beach", "Redondo Beach", também nome de uma cidade localizada na Califórnia, Estados Unidos, é sobre uma briga da cantora com sua irmã. Com uma melodia bem reggae, contagia, mesmo sendo sobre um momento ruim, por ser leve. Indo completamente ao lado oposto, está "Birdland", inspirada no livro A Book of Dreams, de 1973, a biografia de Wilhelm Reich escrita por seu filho Peter. A letra e o vocal são densos e cheios de melancolia, tudo isso nascido do improviso. E acabou sendo a escolhida por Patti Smith para homenagear a mãe. É pura arte a execução dessa canção.

Para encerrar o lado A, a balada punk "Free Money" é outra em que o improviso e a força da letra conseguem carregar a empolgante canção até o fim. No outro lado do vinil, "Kimberly", mais uma sobre a família de Smith, ganha vida com coisas opostas: a letra um tanto raivosa contrasta com a melodia tranquila, enquanto "Break It Up" parece um grito de libertação – ou declaração – direcionado a alguém (um ídolo? Um homem?).

Com seus quase dez minutos, "Land” é dividida em três partes. A primeira, “Horses”, é um poema escrito por Smith que, musicado, ganhou ar punk rebelde dos anos 1970. A segunda é uma adaptação de "Land of a Thousand Dances", conhecida na voz de Chris Kenner, mas composta pelo Fats Domino. Por fim, "La Mer(de)" completa os três pedaços que fizeram “Land” virar uma espécie de ópera rock com ar punk cheio de improvisos dos instrumentos e da vocalista. É uma canção que ninguém pode regravar, porque nunca conseguirão passar a mesma espontaneidade. Tudo isso para homenagear Arthur Rimbaud, ídolo da cantora. De extremo bom gosto, "Elegie" é um excelente encerramento.

Não é de graça que Horses é um dos álbuns mais influentes de todos os tempos. A maneira de como foi conduzido, entre produção e banda, é perfeito para qualquer banda iniciante ficar de olho. É espontâneo, cheio de energia rebelde e tem letras profundamente tocantes. É para ter em qualquer coleção.

Ficha técnica

Lado A

1 - "Gloria"
Part I: "In Excelsis Deo" (Patti Smith)
Part II: "Gloria" (Van Morrison)"
2 - "Redondo Beach" (Smith, Richard Sohl e Lenny Kaye)
3 - "Birdland" (Smith, Sohl, Kaye e Ivan Kral)
4 - "Free Money" (Smith e Kaye)

Lado B

1 - "Kimberly" (Smith, Allen Lanier e Kral)
2 - "Break It Up" (Smith e Tom Verlaine)
3 - "Land”
Part I: "Horses" (Smith)
Part II: "Land of a Thousand Dances" (Chris Kenner e Fats Domino)
Part III: "La Mer(de)" (Smith)"
4 - "Elegie"

Gravadora: Arista
Produção: John Cale
Tempo: 43min10s

Patti Smith: vocais e guitarra
Jay Dee Daugherty: bateria
Lenny Kaye: guitarra, baixo e vocais de apoio
Ivan Kral: baixo, guitarra e vocais de apoio
Richard Sohl: teclado

Convidado:
Tom Verlaine: guitarra

Veja também:
Discos para história: 461 Ocean Boulevard, de Eric Clapton (1974)
Discos para história: Ramones, dos Ramones (1976)
Discos para história: Trompe Le Monde, do Pixies (1991)
Discos para história: Badmotorfinger, do Soundgarden (1991)
Discos para história: Ten, do Pearl Jam (1991)
Discos para história: Nevermind, do Nirvana (1991)

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