Discos para história: Ramones, dos Ramones (1976)


A 68ª edição do Discos para história fala sobre a estreia dos Ramones em estúdio. Reconhecidos apenas anos depois, esse álbum foi o marco por ser um dos mais importantes da história da música – Sex Pistols e The Clash, bandas mais famosas, viriam apenas no ano seguinte, inspirados por Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy Ramone.

História do disco

Johnny e Tommy começaram uma banda no fim dos anos 1960 que durou até o início da década seguinte. Depois eles chamaram Joey e Dee Dee para fazer parte do grupo, mas foi o tempo que Tommy caiu fora. Como trio, o futuro vocalista começou como baterista, o baixista também acumulava a função de vocalista e o guitarrista era o guitarrista mesmo.

Aliás, além de mente criativa por trás de alguns sucessos, Dee Dee também foi responsável pelo nome da banda. A inspiração veio de Paul McCartney, que se hospedava em hotéis como Paul Ramon no auge da beatlemania – tudo para escapar dos fãs, claro. Tommy continuou na banda, mas apenas ajudando, e acabou incentivando Joey a assumir o vocal porque Dee Dee não conseguia tocar e cantar ao mesmo tempo. E quem seria o baterista? Johnny o convenceu a retornar ao grupo para assumir a função. Pronto, os Ramones estavam formados em definitivo, diria o poeta. E a revolução estava perto de começar.

O primeiro show deles foi em abril de 1974 e era impressionante a velocidade que os quatro tocavam. Naquela época, o CBGB estava nascendo e foi um ótimo local em Nova York para não só desenvolver a cena punk, mas também o que viria a ser a new wave. Além dos Ramones, Television, Blondie e o Talking Heads fizeram muitos shows na histórica casa.


A oportunidade de gravar o primeiro disco apareceu em 1976, quando Lisa Robinson convenceu o empresário Danny Fields, primeiro a administrar a carreita do Stooges, a dar uma olhada neles. Encantado com o potencial dos Ramones, Fields pediu uma fita demo. E ele fez mais: convenceu o presidente da gravadora Sire a assistir uma apresentação antes de contratá-los. Craig Leon acabou sendo o escolhido para ser o produtor do primeiro disco do grupo, que levaria o nome deles.

Para a gravação, o produtor, pelo baixo orçamento, precisou lançar técnicas usadas nos anos 1960 – gravação em quatro canais, guitarras separadas e muitos overdubs para compensar os defeitos. Por US$ 6.500, custos totais dos dias em estúdio, era o máximo que a banda poderia ter. Mesmo assim, a gravadora pediu para Leon acelerar ao máximo para evitar mais gastos.

Lançado em abril de 1976, Ramones teve críticas variadas e chegou apenas ao 111º lugar das paradas. Muitos chamaram o som de nonsense e chamaram atenção para a pouca técnica vocal, ou nenhuma, de Joey. Claro que o amadorismo da banda foi um ponto contra. Mas alguns elogiaram, afirmando que eles estavam levando o rock de volta ao básico, um movimento necessário depois de quase 15 anos dos veteranos dominando as paradas. Obviamente, hoje, esse álbum é um marco e consta em dez de dez listas dos discos mais importantes dos anos 1970, além de ter influenciado as gerações seguintes a criar suas próprias bandas.



Resenha de Ramones

O início com "Blitzkrieg Bop" é um marco por ser uma canção reconhecidamente dos Ramones. Muito difícil alguém que não tenha ouvido e não saiba de quem é. Primeiro pelo “hey, oh, let’s Go”, segundo pela voz inconfundível de Joey Ramone. Ela foi inspirada na tática usada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial, chamada blitzkrieg, e acabou virando uma das mais famosas dos 22 anos de atividade do grupo.

Já "Beat on the Brat" é a primeira de muitas em que Joey colocou para fora alguma história pessoal. Essa, no caso, é sobre um moleque muito chato que estava correndo igual um maluco em um parque enquanto o futuro vocalista era uma criança. É uma das muitas histórias dele que viraram música. Na mesma linha veio "Judy Is a Punk", uma história ficcional com alguns pontos reais, como as duas primeiras linhas. É inspirado na troca de histórias entre Joey e Dee Dee, um adolescente que nunca havia saído de seu bairro com outro que havia voltado da Alemanha recentemente. Com pouco mais de um minuto e meio de duração é faixa a mais curta do álbum.



Apesar das jaquetas de couro e pose de mau, o Ramones pode muito bem ser considerada uma banda romântica. Um exemplo claro disso é "I Wanna Be Your Boyfriend". Quem nunca esteve apaixonado e parou para ouvir essa música por alguns instantes que jogue a primeira pedra. Qualquer adolescente fica, ou deve ficar, encantado com essa letra.

Lançado dois anos antes de Ramones, o filme o Massacre da Serra Elétrica inspirou "Chain Saw", outra faixa com ar romântico, mas essa é um pouco medonha. Aliás, a única coisa diferente que aparece fora os quatro tocando é o barulho de uma serra no início. Já "Now I Wanna Sniff Some Glue" é sobre jovens entediados que ficam o dia inteiro cheirando cola. O destaque vai para a parte instrumental cheia e energia e velocidade logo após o final da primeira estrofe. Finalizando o lado A do vinil, "I Don't Wanna Go Down to the Basement" é a mais longa, mas é a que tem a letra mais curta.

Abrindo o lado B, "Loudmouth" também tem uma letra bem curta e fica indo e voltando até o final – nos shows, ela chegou a ter menos de um minuto e meio de duração. “Havana Affair” é inspirada em história em quadrinho Spy vs. Spy do  ilustrador cubano Antonio Prohias, um sucesso nas mãos de Joey, um esquerdista convicto. Voltando ao lado pessimista dos romances, "Listen to My Heart" é um lamento de ter perdido aquela garota.



"53rd & 3rd" tem uma história polêmica e digna dos programas policiais brasileiros. Ela fala sobre um cara que era prostituto em Nova York e pegou um cara uma noite. Para provar que não era gay, ele matou o cliente. Perguntado diversas vezes sobre a letra, Dee Dee desconversava sobre o assunto, enquanto Johnny jogava ao vento que era verdade. Nunca nada ficou provado. Anos depois, descobriu-se que o baixista chegou a se prostituir para comprar drogas, mas ficou na lenda de ser verdade ou não.

Conhecida primeiramente na voz de Chris Montez, “Let’s Dance” ganhou uma versão agitada e ainda mais dançante com os Ramones. Nada mais justo. Mais uma das curtas, "I Don't Wanna Walk Around with You" segue a linha da anterior e coloca o pessoal para agitar. Encerrando, "Today Your Love, Tomorrow the World" começa como uma continuação das duas anteriores, mas tudo muda no refrão. A letra é sobre um garotinho nazista que deseja conquistar uma garota e o mundo – qualquer semelhança não é mera coincidência.

Para quem tem seus 40, 50 anos, esse disco é o ponto de partida para relembrar a rebeldia dos anos 1970 e 1980, com suas letras simples e inspiradíssimas em acontecimentos reais. As gerações seguintes beberam muito nessa estreia dos Ramones por ser simples e não precisar de toda técnica exigida, por exemplo, pelo rock progressivo. Um álbum histórico e, particularmente, um dos melhores já feitos na história da música.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Blitzkrieg Bop" (Tommy Ramone e Dee Dee Ramone)
2 - "Beat on the Brat" (Joey Ramone)
3 - "Judy Is a Punk" (Joey Ramone)
4 - "I Wanna Be Your Boyfriend" (Tommy Ramone)
5 - "Chain Saw" (Joey Ramone)
6 - "Now I Wanna Sniff Some Glue" (Dee Dee Ramone)
7 - "I Don't Wanna Go Down to the Basement" (Dee Dee Ramone e Johnny Ramone)

Lado B

8 - "Loudmouth" (Dee Dee Ramone e Johnny Ramone)
9 - "Havana Affair" (Dee Dee Ramone e Johnny Ramone)
10 - "Listen to My Heart" (Dee Dee Ramone)
11 - "53rd & 3rd" (Dee Dee Ramone)
12 - "Let's Dance" (Jim Lee)
13 - "I Don't Wanna Walk Around with You" (Dee Dee Ramone)
14 - "Today Your Love, Tomorrow the World" (Dee Dee Ramone)

Gravadora: Sire
Produção: Craig Leon
Tempo: 29min04s

Joey Ramone: vocal
Johnny Ramone: guitarra
Dee Dee Ramone: baixo, vocais de apoios e covocalista em "53rd & 3rd"
Tommy Ramone: baterista

Veja também:
Discos para história: Trompe Le Monde, do Pixies (1991)
Discos para história: Badmotorfinger, do Soundgarden (1991)
Discos para história: Ten, do Pearl Jam (1991)
Discos para história: Nevermind, do Nirvana (1991)
Discos para história: Another Side of Bob Dylan, de Bob Dylan (1964)
Discos para história: All Things Must Pass, de George Harrison (1970)

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