Discos para história: Nevermind, do Nirvana (1991)


O Nirvana transformou-se em um fenômeno nos anos 1990 graças ao lançamento de Nevermind e do single explosivo "Smells Like Teen Spirit", que apareceu quando a MTV americana estava em sua segunda geração de espectadores – a primeira acostumada com a emissora desde a infância. E é sobre esse álbum que a seção fala em sua 64ª edição.

História do disco

Talvez o trabalho tenha começado em 1990, quando o Nirvana estava sem baterista e Buzz Osborne apresentou Dave Grohl ao guitarrista e vocalista Kurt Cobain e ao baixista Krist Novoselic. Naquele momento, a banda, pela quarta vez, estava sem baterista. O trio viajou à Seattle e o candidato passou por uma audição e ficou em definitivo.

Com tudo certo, eles começaram a trabalhar nas demos do que viria a ser Nevermind. Bruce Pavitt, dono da gravadora Sub Pop, sugeriu Butch Vig como produtor do novo disco. Nesse processo, por sugestão de Kim Gordon, do Sonic Youth, o grupo mudou de gravadora e assinou com a DCG para distribuir o futuro álbum. E algumas pessoas da DCG sugeriram a troca de produtor, mas Kurt bateu o pé e Vig seguiu no posto.

Depois de alguns dias de trabalho no Smart Studios, em Madison, Wisconsin, o quarteto, graças a um aporte de US$ 65 mil, se mudou para o lendário Sound City Studios, na Califórnia, onde, de fato, gravou o disco do início ao fim. Mesmo com a maioria das canções fazendo parte do repertório, o número de tentativas de gravação era alto. E quando não ficava bom depois da terceira tentativa, eles simplesmente pulavam para outra faixa.


Cobain dedicou-se muito aos overdubs e aos vocais, principalmente os de apoio. Ele gravava e regravava várias vezes durante um dia, chegando a trabalhar dez horas no estúdio. Vig queria fazer um trabalho parecido com o de John Lennon nos vocais de apoio, principalmente em “In Bloom”. Com tudo pronto, eles foram mixar o trabalho, mas veio o problema.

Eles ficaram extremamente insatisfeitos com o resultado feito na mixagem por estar muito polido. Como solução, eles foram até à gravadora e pediram uma lista com nomes que poderia ajudar naquele momento. Scott Litt, produtor do R.E.M, e Ed Stasium foram alguns dos nomes citados, mas o escolhido foi Andy Wallace, conhecido pelo seu trabalho com o Mötley Crüe. Depois do lançamento, Kurt disse que a mixagem ficou péssima e que não parecia um disco punk. Mal sabia ele que esse trabalho seria fundamental para o sucesso de Nevermind.

Um dos motivos do sucesso do álbum é a icônica capa, famosa por ter a montagem de um menino olhando um dólar em um anzol. Como os valores cobrados nas primeiras tentativas chegaram a US$ 7.500, o fotógrafo conseguiu o filho de um amigo para posar. E a ideia de montagem de Kurt funcionou. Como o pênis do menino aparecia, a gravadora negociou com o Nirvana para que um adesivo fosse colocado para não ofender as pessoas. O cantor só aceitou se o adesivo contasse com os dizeres “se você se ofende com isso, então você é quase um pedófilo”.

Nevermind foi lançado em 24 de setembro de 1991 e, puxado pelo sucesso do single "Smells Like Teen Spirit", acabou sendo um estouro. A gravadora esperava vender algumas dezenas de cópias, mas venderam 250 mil cópias por semana, atingindo o pico de 300 mil na primeira semana de janeiro de 1992. E cada vez mais a popularidade do Nirvana aumentava. A crítica, em princípio ignorou o disco, mas o estouro foi tão grande, que era impossível não falar dele. Então, quase todas as publicações deram resenhas positivas, e isso puxou ainda mais a popularidade do álbum, e da banda, ainda mais para cima.

Esse acabou sendo um marco da juventude dos anos 1990, talvez a última do gênero no mundo. O Nirvana conseguiu unir as tribos com sua música feroz, os gritos de Kurt, o baixo pesado de Novoselic e a bateria forte de Grohl. O mundo não seria mais o mesmo depois disso.



Resenha de Nevermind

Melhor canção dos anos 1990, "Smells Like Teen Spirit" começa com a bateria marcante de Dave Grohl logo de saída, algo que seria elogiado por Butch Vig no documentário sobre a carreira do Foo Fighters. A canção, de acordo com Cobain, foi uma tentativa de emular o som do Pixies, banda que ele era fã incondicional. Acabou sendo um dos maiores sucessos de todos tempos por conseguir dialogar com uma juventude que não tinha mais a quem se espelhar como seus pais tiveram.

Primeira faixa a ser gravada pelo Nirvana para o novo trabalho, “In Bloom” ganhou muito com a mão da produção de Vig e dos desejos de Cobain para ela. Por exemplo, a bateria tinha que ser pesada do início ao fim, e Dave Grohl, recém-empregado como baterista, deu tudo de si na canção a pedido do produtor e com os incentivos do vocalista, já "Come as You Are", com ajuda de um pedal especial, tema guitarra com um dos pontos altos de uma das muitas letras em que Cobain colocou para fora todo seu sentimento sobre alguma coisa ou alguém. É uma canção muito pesada do ponto de vista emocional e acaba sendo bem triste.



"Breed" é um grito, com solo e tudo mais, sobre as regras que a sociedade te impõe para ficar bem com ela mesma – como casar, ter filhos e ter bom emprego. É esse tipo de letra que fez a cabeça de uma geração de pessoas que estavam entre seus 15 e 25 anos e se sentiam pressionadas a fazer o que os outros queriam. É um desses gritos de libertação que Kurt proporcionou aos fãs. Na sequência, "Lithium" é sobre um cara religioso que passa por problemas e pensa em se matar. A história por trás dessa canção, que é tranquila e praticamente dominada por um baixo melancólico, é que foi na primeira gravação que Chad Channing, então baterista, não estava agradando.

A acústica "Polly" foi escrita para entrar no primeiro disco do Nirvana, mas Cobain não achou uma boa ideia uma banda punk colocar uma faixa desse estilo no trabalho – ela nasceu como a continuação de “About a Girl”. Segundo Novoselic, a inspiração veio de uma nota de jornal sobre o caso Gerald Arthur Friend, que estuprou e torturou uma garota de 14 anos. É uma das mais reconhecíveis músicas da banda.

A excelente "Territorial Pissings" reflete muito o espírito do Nirvana: rapidez, força nos instrumentos e o vocal melancólico-gritado. Imagine como ela, quando eu tinha 14 anos, bateu? É incrivelmente boa. Mantendo o peso, "Drain You" é a que mais ganhou overdubs e a que mais é aberta para um momento de improviso, basicamente no minuto e meio final é feito de um clímax até que ela explode com o retorno do vocal. O peso do Nirvana, musicalmente falando, está na letra. Kurt não poupa esforços para esconder seus sentimentos, assim como seus companheiros não tiram o pé ao tocar cada vez mais alto. Isso resume "Lounge Act" e "Stay Away".



Em mais com cara de confessional, “On a Plain” tem o verso It is now time to make it unclear/ To write off lines that don't make sense/ I love myself better than you/ I know it's wrong, so what should I do?/ One more special message to go/ And then I'm done then I can go home/ I Love myself better than you/ I know it's wrong, so what should I do?. Olhando agora, já tinha uma cara de que Cobain tinha tendência a colocar coisas na cabeça e ficar remoendo isso por dias, anos. Escrita durante o tempo que Kurt saiu de casa, a sinistra e triste "Something in the Way", pela dificuldade da melodia, acabou sendo gravada primeiro só com vocal e violão. Depois as outras partes foram acrescentadas, como bateria, baixo e violoncelo. E assim o disco termina.

Bônus: "Endless, Nameless" é um punk absurdo, com distorção e com uma letra assustadora. Agora, sim, acabou.

Nevermind bateu em mim ainda aos 14 anos e mudou minha vida. Oito anos depois do fim do Nirvana, eu descobri a banda, uma das melhores coisas da minha vida. Talvez esse blog não existisse se não fosse essa descoberta, que me incentivou a ir atrás de outras bandas e ouvir mais e mais música todo dia. A típica fuga de adolescente valeu a pena.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Smells Like Teen Spirit" (Kurt Cobain, Dave Grohl e Krist Novoselic)
2 - "In Bloom"
3 - "Come as You Are"
4 - "Breed"
5 - "Lithium"
6 - "Polly"

Lado B

1 - "Territorial Pissings" (Cobain e Chet Powers)
2 - "Drain You"
3 - "Lounge Act"
4 - "Stay Away"
5 - "On a Plain"
6 - "Something in the Way" (com "Endless, Nameless" na sequência)

Todas as canções foram escritas por Kurt Cobain, exceto as marcadas.

Gravadora: DGC
Produção: Butch Vig
Tempo: 47min12s

Kurt Cobain: vocais, vocais de apoio, guitarra e violão
Krist Novoselic: baixo e introdução em "Territorial Pissings"
Dave Grohl: bateria e vocais de apoio

Convidados

Chad Channing: címbalos em "Polly"
Kirk Canning: violoncelo em "Something in the Way"



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