Resenha: Beck – Colors


Cantor lança primeiro disco de estúdio após polêmica no Grammy

Beck está há muito tempo na estrada para saber que a indústria da música é maluca. Basta lembrar o que aconteceu com ele no palco do Grammy. Ao receber o prêmio de Melhor Álbum em 2015 por Morning Phase (2014), Kanye West tomou o microfone da mão dele e fez um discurso imenso sobre Beyoncé merecer mais. Isso marcou a carreira do cantor do mundo indie, agora conhecido por milhões de pessoas ao redor do mundo.

Dois anos após o fato, e três depois do último disco, Beck disponibilizou nos serviços de streaming e em diversos formatos na mídia física, Colors, o 13º disco de estúdio de sua longa carreira – o primeiro trabalho cheio é Golden Feelings (1993). O novo trabalho começa com a animada faixa-título, que o cantor fala sobre ter todo o amor do mundo e sentir-se vivo por isso, mas dói saber que a amada não precisa dele.

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Para quem se surpreendeu com a abertura, vai entrar em choque e precisar de paramédicos em "Seventh Heaven", uma balada oitentista que – caso não soubesse antes – duvidaria de qualquer um que falasse que ela foi escrita, composta e cantada por Beck. Daí, ao saber que o produtor Greg Kurstin é cocompositor deu para entender algumas coisas (já falei sobre a influência dele na música atual aqui). Mantendo o ritmo da anterior, "I'm So Free" tem aquele refrão grudento que não sai da cabeça – cantei durante um banho, inclusive.

"Dear Life", levemente inspirada em qualquer peça de Magical Mystery Tour, dos Beatles, é um recado de Beck para vida do tipo "ok, você venceu, me guie nessa maluquice toda". Com certo humor britânico que só um americano poderia ter nesse momento, a faixa é outra que surpreenderá qualquer fã do cantor por estar no disco. Bem, depois dessa sequência de quatro faixas, nada mais será surpreendente daqui em diante. Por exemplo, em "No Distraction", o refrão grudento e a batida dançante reinam absoluto em uma canção feita para dançar o tempo inteiro.

Uma das modas na música atual é fazer remix de determinada faixa e disponibilizá-la para DJs. Beck não só fez isso, como incluiu uma no disco. "Dreams (Colors mix)" é completamente o oposto de qualquer coisa que o cantor fez na carreira. Funk, eletrônica e uma virada de um gênero para outro na parte final mostram que ele está mesmo disposto a entrar na vida de outras pessoas. Já "Wow" é uma tentativa estranha de fazer uma espécie de hip-hop estilo Chance The Rapper, mas passa bem longe de agradar.

Com a mesma fórmula da maioria das faixas deste trabalho, "Up All Night" e "Square One" são outras com o selo "sucesso na balada". Por mais incrível que possa parecer, a canção mais Beck do disco é justamente a última. Baseada no piano e bem melancólica, "Fix Me" é Beck raiz, Beck moleque, aquele especialista em ótimos arranjos que ajudam a entender o teor das boas letras.

Não dá para saber se foi intencional, mas Beck fazer um disco mais "solar" e convidar Kurstin para produzi-lo são duas dicas fundamentais para entender que o cantor deseja ser ouvido por um novo grupo de pessoas. O disco em si não é ruim como um todo, porém apela para fórmulas de bom apelo pop e fácil para entrar na vida das pessoas. Aos 47 anos, o cantor decidiu tentar algo novo. Vamos ver onde isso vai dar.

Tracklist:

1 - "Colors"
2 - "Seventh Heaven"
3 - "I'm So Free"
4 - "Dear Life"
5 - "No Distraction"
6 - "Dreams (Colors mix)"
7 - "Wow"
8 - "Up All Night"
9 - "Square One"
10 - "Fix Me"

Nota: 3/5



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