Crítica: Father John Misty - Mahashmashana

Em 31 de julho, Father John Misty lançou “Greatish Hits: I Followed My Dreams and My Dreams Said to Crawl”, trabalho com uma cuidadosa seleção das melhores músicas lançadas por ele nos últimos 12 anos. Disponibilizar coletâneas é normal na indústria da música e é ainda mais natural para um artista bem conhecido em um nicho, uma rememoração dos grandes momentos da carreira. Pois menos de quatro meses depois, ele solta o álbum de inéditas “Mahashmashana”, o sexto da carreira. Ninguém entendeu nada, porque é um movimento muito estranho não esperar ao menos um ano para fazer isso.

Ao começar o novo disco com a faixa-título, dá para entender a pressa do lançamento: Josh Tillman é outro homem. O passado o levou a chegar até aqui, com fama e a incrível capacidade de viver de música, mas ele é outra pessoa no presente e “Mahashmashana”, palavra em sânscrito para “grande local de cremação para elevação espiritual”, reflete esse novo momento em um grande ensaio sobre a vida moderna, como se para viver uma nova vida fosse necessário morrer para renascer.

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A empolgante e igualmente arrogante “She Cleans Up” mostra um compositor também pronto para trabalhar a guitarra e distorcer o vocal para mostrar um ponto de vista diferente sobre fazer ou não no contexto atual das coisas, enquanto o blues elétrico de “Josh Tillman and the Accidental Dose” é a história de como o próprio cantor precisou mudar de atitude ao perceber que passava do ponto várias vezes — a própria existência dele estava em jogo (“I saw something I shouldn't see/ The awful truth, bare reality/ That I'd forfeit my existence/ If someone let me just play with them”).

A saúde mental é tema de várias músicas ao longo dos últimos anos, mas nenhuma é tão direta, lúdica e precisa como “Mental Health”, outra canção do álbum que ganha muito com o capricho da produção em fazer o melhor possível para encorpar a sonoridade. E a manutenção da esperança e do espírito jovem aparece em “Screamland”, uma pancada sonora em forma de música (“Love must find a way, love must find a way/ After every desperate measure, just a miracle will take”).

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Em mais uma música autobiográfica, “Being You” traz um Tillman completamente longe dos outros, quase uma paródia de si que existia apenas por existir. É uma importante reflexão de como é estar perdido em um período difícil da vida e sem saber para onde ir física e mentalmente. Ao colocar o ouvinte para dançar em “I Guess Time Just Makes Fools of Us All”, ele mostra outra faceta enquanto brinca com palavras para falar em como ele chega para tornar as coisas mais interessantes e encerrar com a deliciosa “Summer's Gone”, com clara inspiração nos filmes românticos dos anos 1950.

É um álbum com uma produção impecável, que lembra o capricho das produções nos anos 1960. São canções longas, com instrumentos diversos compondo os arranjos, em uma bonita melancolia reflexiva sobre como estamos vivendo enquanto sociedade moderna — a individualização se impondo contra todo conceito de coletividade. Falando um pouco de si para falar dos outros e um pouco dos outros para falar de si, Father John Misty renasce como um contador de histórias mais centrado, lúdico e menos cínico ao apontar os problemas, mas salienta que viver é maravilhoso.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Mahashmashana”
2 - “She Cleans Up”
3 - “Josh Tillman and the Accidental Dose”
4 - “Mental Health”
5 - “Screamland”
6 - “Being You”
7 - “I Guess Time Just Makes Fools of Us All”
8 - “Summer's Gone”

Gravadora: Bella Union/ Sub Pop
Produção: Drew Erickson, Josh Tillman & Jonathan Wilson
Duração: 50min

Avaliação: ótimo

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