História do disco
O Terno é uma dessas bandas que tem uma gama de influências de diversos artistas brasileiros e, por isso, conseguiu chamar bastante atenção no primeiro álbum, “66”. Mas a explosão veio com o segundo, que leva o nome do trio, com eles fazendo parte de dezenas de listas de melhores de 2014. Aliás, os dez anos ajudaram muito a fazer de Tim Bernardes um dos melhores e mais requisitados compositores do período, com uma carreira solo consolidada e sem percalços.
Se a estreia foi feita em poucos dias e traduzia bem como eles eram naquele momento, “O Terno” foi sendo concebido gradualmente, com a tranquilidade de quem sabia muito bem o que queria em cada faixa. Só a gravação das bases levou 20 dias, tempo muito longo para um trabalho do tipo. Depois eles testaram vários elementos nas músicas até chegar ao ponto desejado em um novo momento da carreira.
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“Tínhamos vontade de explorar muita coisa sonoramente desde que gravamos o ‘66’, neste disco tivemos o tempo e cuidado para experimentar tudo como quisemos. E gravar no Estúdio Canoa, do nosso amigo e produtor Gui Jesus Toledo, deu essa liberdade que estávamos atrás para o álbum”, disse Tim Bernardes, em entrevista ao site “Monkey Buzz”.
O segundo álbum só nasceu graças ao crescimento da banda dentro e fora do estúdio, com a estrada sendo um elemento importante de amadurecimento musical. Eles aprenderam mais e mais com as belezas e dificuldades de estar longe do conforto do lar, ainda mais com a vontade em fazer algo duradouro.
“Acho que hoje em dia, em que tudo é super rápido e efêmero, a vontade de fazer algo realmente legal e caprichado foi motivador pra fazer um disco que espero que daqui a 40 anos ainda esteja sendo baixado por molecadas do futuro (risos)”, explicou o cantor, agora em entrevista ao “Música Pavê”.
Para completar o cuidado com o trabalho, eles ainda quiseram lançá-lo em uma edição caprichada em vinil para dar aos fãs algo a mais além da versão digital.
“Achamos que é importante ter a música online, ainda mais para uma banda independente, ter isso liberado leva sua música para muita gente. Das mídias físicas, o CD ainda é a mais consumida, por mais que em crise, e agora estamos lançando em vinil também que é um formato lindo que quem gosta mesmo e quer ter o discão cada vez mais consome. É legal lançar físico também, além do digital. O número de cópias não é mais gigante como foi outra época, mas, acompanhando o consumo, sempre temos nossos discos debaixo do braço e sempre tem gente querendo comprar”, explicou Bernardes também ao “Monkeybuzz”.
Veja também:
Discos para história: Nadadenovo, do Mombojó (2004)
Discos para história: Samba Esquema Noise, do Mundo Livre S/A (1994)
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A “NOIZE” falou que o disco “foge do rock clássico anterior e se aventura em outras musicalidades, surpreendendo positivamente os antigos fãs da banda”, já o “Tenho Mais Discos que Amigos!” disse que eles souberam “construir novas canções e narrativas” em “O Terno”. E todos os elogios foram merecidos porque era uma banda em construção que conseguia se firmar em um cenário de transição e cada vez mais complicado para a música independente.
“O Terno” foi o passo definitivo para colocá-los como uma das melhores e mais importantes do cenário independente da última década. Firmes e com uma base de fãs sólida, eles estavam prontos para voos mais altos, exatamente o previsto. De lá para cá, se consolidaram, lotam shows e sobrevivem de música, algo cada vez mais difícil para quem trabalha no ramo.
Crítica de “O Terno”
Quem trabalha com cultura há muito tempo sabe como revisitar um álbum ou um filme é a grande chance de fazer uma reavaliação daquela obra. E não é compará-la com qualquer coisa atual ou tentar encaixá-la a moda do dia, mas entender se esse trabalho conseguiu passar no teste do tempo ou se é apenas o reflexo daquele momento. Serve também para quem analisa, porque se um dia parece muito tempo, dez anos é quase a eternidade para os meros mortais.
Relendo minha crítica de “O Terno”, eu gostei do disco, mas, claramente, não era o tipo de música que estava gostando de ouvir na época e acabei colocando defeitos demais em um trabalho que não tem tantos problemas assim. Dez anos depois, o álbum soa muito melhor aos meus ouvidos.
A intenção deles era criar algo duradouro para as próximas gerações e, olhando hoje, as letras ainda ressoam muito bem. Na época, talvez pela pressa em entregar, não me atentei ao fato de essas músicas serem crônicas do cotidiano preenchidas por explorações musicais bem elaboradas. Na faixa “Cinza”, o momento melancólico traz Tim Bernardes acompanhado por pouca coisa, mas a segunda metade é mais agressiva e mais pesada, uma reflexão sobre viver em São Paulo, entre suas belezas e crueldade do dia a dia.
Chamada de “simples e honesta” em 2014, “Ai, Ai, Como eu Me Iludo” é uma das melhores músicas d’O Terno até hoje por conseguir reunir elementos pop com um lado um tanto mais experimental em letras espertas ao longo de todo trabalho (“Quando Estamos Todos Dormindo”, “Eu Confesso”, “Pela Metade” e “Quando Eu Me Aposentar”). Mas “Brazil” ainda soa ruim e deslocada do resto no álbum, opinião que tinha em 2014 e mantenho, diferentemente de “Medo do Medo”, com participação de Tom Zé, uma ótima música mal julgada.
O grande momento do trabalho ainda é “Desaparecido”, faixa de encerramento. Do arranjo até a letra, é uma dessas músicas maravilhosas que muda qualquer artista de patamar pelo resto da vida (“Criar um filho/ Igual aquele filho/ Que criou igual a um filho seu/ No desespero doentio/ De quem não sabe/ Enfrentar o vazio”).
“O Terno” ainda é um álbum com seus altos e baixos, mas muito menores do que os julgados há dez anos. É um ótimo disco e cheio de boas canções, desses com potencial para marcar uma geração. Eles lançaram álbuns melhores no futuro? Possivelmente, mas o amadurecimento musical apareceu nesse aqui, fundamental para o futuro brilhante do presente atual.
Clique aqui para ler a crítica da época
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “Bote ao Contrário” (Tim Bernardes/ Victor Chaves)2 - “O Cinza”
3 - “Ai, Ai, Como eu Me Iludo”
4 - “Quando Estamos Todos Dormindo”
5 - “Eu Confesso”
6 - “Brazil”
7 - “Pela Metade”
8 - “Vanguarda?”
9 - “Quando Eu Me Aposentar”
10 - “Medo do Medo”
11 - “Eu Vou Ter Saudades”
12 - “Desaparecido”
Todas as músicas foram escritas por Tim Bernardes, exceto as marcadas.
Gravadora: Independente
Produção: Gui Jesus Toledo & O Terno
Duração: 42min32
Guilherme D'Almeida: baixo e efeitos
Victor Chaves: bateria, pandeiro e efeitos
Tim Bernardes: vocal, guitarra, efeitos, piano e órgão
Tom Zé: vocal na faixa 10
Gabriel Basile: sons na faixa 6
Gabriel Milliet: saxofone e flauta na faixa 12
Marcelo Jeneci: órgão na faixa 4
Pedro Pelotas: órgão nas faixas 3 e 11
Luiz Chagas: guitarra steel na faixa 11
André Vac: fiddle na faixa 12
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