Minha relação com o Smashing Pumpkins é muito estranha. Não é uma das favoritas e confesso que só ouvi os clássicos na íntegra há coisa de 15 anos, quando percebi o atropelo sofrido pela banda graças aos outros artistas do mesmo período — eu realmente prefiro Nirvana, Pearl Jam e até mesmo Stone Temple Pilots. Pelo trabalho por aqui, ouvi “Oceania” (2012) e não fiquei nada empolgado. Tenho amigos e conhecidos que idolatram Billy Corgan e realmente o acham o grande compositor daquele período.
O retorno de 3/4 da formação original gerou um burburinho nada esperado por mim, ainda mais após alguns álbuns megalomaníacos lançados nos últimos anos. O pé atrás com “Aghori Mhori Mei”, 13º álbum de estúdio, era praticamente inevitável. Afinal, o histórico recente não ajuda muito. Mas é aquilo: o disco está aí e o acesso é fácil, vai que alguma coisa acontece no meu coração. E aconteceu.
Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos. Siga o canal no WhatsApp!
Estou ouvindo sem parar desde o lançamento e consigo compreender melhor a empolgação dos fãs com esse trabalho. Depois de toda turbulência e inconstância, finalmente a banda encontrou o tom certo entre o Novo e Velho Testamento. Por exemplo, as melodias do Smashing Pumpkins são imbatíveis quando bem trabalhadas e aparecem pelo bem da música, não uma exibição sonora de minutos intermináveis como em muitas vezes recentes. Quando um álbum começa com duas faixas com mais de 13 minutos de duração juntas, “Edin” “Pentagrams”, e a vontade é de continuar ouvindo, alguma coisa tem de bom.
Para quem gosta de guitarras, o trabalho é um deleite do início ao fim, com a combinação feita por James Iha e Corgan funcionando ao melhor estilo Romário e Bebeto em 1994 — só faltou o “eu te amo, cara”. E com as outras funcionando como aquecimento, “War Dreams of Itself” chega para mostrar a qualidade do grupo em uma grande canção (“I've never been to Katmandu/ I've never had the mien to choose/ What they want from me/ I'm hanging 'round on tender hooks/ If only we had more than time”).
Veja também:
Crítica: Jack White - No Name
Crítica: Cassandra Jenkins - My Light, My Destroyer
Crítica: Clairo - Charm
Cinco discos #1: Amaro Freitas, Dandy Warhols, Folk Implosion, Guided by Voices e Diego Xavier Trio
Crítica: Neil Young & Crazy Horse - Early Daze
Crítica: Waxahatchee - Tigers Blood
Como se retirada diretamente de algum lugar dos anos 1990, “Goeth the Fall” é outra ótima faixa do álbum. Dentre as dez selecionadas para o trabalho, existem tecnicamente melhores, mas, na imensa maioria das vezes, música é sobre tocar o coração de alguma maneira, não sobre técnica, notas ou habilidades. Outro destaque, também da parte final, é “Sicarus”.
Em tempos de saudades dos Jogos Olímpicos, o Smashing Pumpkins crava uma espécie de retorno aos melhores momentos, agora mais experiente e (espero) menos afobado para mostrar as coisas. O nome difícil do disco não o impede de ser bom do início ao fim, com destaques enormes e cheios de potencial. “Aghori Mhori Mei” é aquele momento de relembrar como eles são bons juntos. Tomara que dure.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “Edin”2 - “Pentagrams”
3 - “Sighommi”
4 - “Pentecost”
5 - “War Dreams of Itself”
6 - “Who Goes There”
7 - “999”
8 - “Goeth the Fall”
10 - “Murnau”
Gravadora: Martha's Music/ Thirty Tigers
Produção: Billy Corgan
Duração: 44min41
Avaliação: muito bom
Comentários
Postar um comentário
Usem os comentários com parcimônia. Qualquer manifestação preconceituosa, ofensas e xingamentos são excluídos sem aviso prévio. Obrigado!