O baú de músicas de Neil Young é recheado com um material muito fascinante, ainda mais se pensarmos que muitos dos clássicos da carreira dele foram escritos antes dos 30 anos. Um exemplo disso está em mais um álbum retirado diretamente de lá: “Early Daze”. Nessa nova amostra de músicas e versões alternativas, podemos ouvir a força a potência a união dele com a Crazy Horse poucos meses depois do lançamento de “Everybody Knows This Is Nowhere”, o primeiro de 15 álbuns de estúdio da parceria.
A cada novo lançamento dos arquivos, é possível compreender de onde vem cada letra e arranjos iniciais de muitos desses clássicos das últimas seis décadas. Neste álbum em especial, Young dá um grande presente aos fãs ao liberar versões nunca disponibilizadas antes e mostrar como funcionava o processo criativo ainda na juventude. A já conhecida “Dance Dance Dance”, colocada no primeiro volume dos arquivos, mostra a força de uma banda que começava a explorar o rock puro e misturá-lo com country e folk.
Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos
Um dos grandes nomes dessa gravação é do guitarrista e vocalista Danny Whitten, morto em 1972, devido ao vício em drogas e remédios. Ele e Young funcionam como dois ponteiros de um relógio, sempre um completando o outro o tempo inteiro com maestria. A versão nunca lançada de “Come On Baby Let’s Go Downtown”, gravada pelo canadense apenas em “Tonight's the Night”, de 1975, mostra essa potência — a faixa também aparece em “Crazy Horse”, LP de banda estreia da banda sem Young.
Reflexo do final dos anos 1960, quando o movimento hippie estava no final da curva de acensão, “Winterlong” tem um arranjo completamente diferente de quando apareceu em “Decade”, quase uma década mais tarde. A combinação dos vocais, aliada com a bateria de Ralph Molina e o baixo afiado de Billy Talbot, dão a ela um tratamento especial e, honestamente, é minha versão favorita. A gravação original de “Everybody’s Alone” traz um andamento mais suave e condizente com o trabalho solo de Young, enquanto o então futuro single “Cinnamon Girl” ganha força pelo tom cru da guitarra poderosa e um vocal conjunto cheio de energia.
Uma das mais atrasadas, “Wonderin’” só ganhou vida 24 anos depois, nos terríveis anos 1980 de Neil Young, quando passou a experimentar além da conta e recebeu um processo de David Geffen, dono da gravadora Geffen, por “não soar Neil Young o suficiente”. E também presente no disco de estreia da Crazy Horse, “Look At All The Things” tem uma das letras mais comoventes do trabalho (“Just give me time, oh, precious time and I'll come home/ But right now I gotta go and I gotta go alone/ So I'll be leaving before I turn to stone”).
Com o passar dos anos, “Helpless”, presente em “Déjà Vu”, segundo álbum do quarteto Crosby, Stills, Nash & Young, virou um desses clássicos absolutos. Em “Early Daze”, a letra ganha ainda mais pela crueza do registro. Sem reverbs, efeitos ou qualquer alegoria de estúdio, a banda consegue destacar cada trecho com um cuidado que só a simplicidade dos gênios consegue fazer.
Veja também:
Crítica: Waxahatchee - Tigers Blood
Duas críticas: Justice e MGMT
Crítica: Pet Shop Boys - Nonetheless
Crítica: Beth Gibbons - Lives Outgrown
Crítica: Billie Eilish - Hit Me Hard and Soft
Crítica: Kamasi Washington - Fearless Movement
Gravada por Linda Ronstadt no álbum de estreia e por Young no clássico “After the Gold Rush”, “Birds” ganha um ar mais comovente na “nova” mixagem, como esse um velho amigo soasse jovial por um lado e mais sábio pelo outro. A sensação de não ser a mesma música lançada três anos depois não passa despercebida. Por fim, os mais de nove minutos “Down By The River”, com uma gravação diferente do vocal, são ditos por Young como “a melhor versão dessa música”. Tendo a concordar, principalmente pelo frescor da gravação feita há quase 60 anos.
“Early Daze” é como ler a biografia de um artista que vem se mostrando gradualmente para fãs e críticos através da própria obra, muito melhor do que aquele “suposto” livro lançado por Young uns anos atrás. Ainda procurando encontrar o melhor tom para si e a carreira, ele teve na Crazy Horse a ajuda crucial para chegar lá. E como mostra bem essa nova leva de músicas, ele sempre foi um gênio.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “Dance Dance Dance” (Included on Neil Youngs Archives Vol. I.)2 - “Come On Baby Let’s Go Downtown” (Unreleased version)
3 - “Winterlong” (Unreleased version)
4 - “Everybody’s Alone” (Different mix was included on Archives Vol. I)
5 - “Wonderin’” (Unreleased version)
6 - “Cinnamon Girl” (Original 7” Mono mix. Released April 20, 1970. Includes guitar outro not on LP version)
7 - “Look At All The Things” (Unreleased version)
8 - “Helpless” (Unreleased version)
9 - “Birds” (Unreleased stereo mix. Mono mix was released as B-side to “Only Love Can Break Your Heart”)
10 - “Down By The River” (Unreleased version with alternate vocals)
Gravadora: Reprise
Produção: Neil Young, David Briggs & Jack Nitzsche
Duração: 38min24
Avaliação: muito bom
Comentários
Postar um comentário
Usem os comentários com parcimônia. Qualquer manifestação preconceituosa, ofensas e xingamentos são excluídos sem aviso prévio. Obrigado!