Katie Crutchfield é dessas artistas que quase ninguém escuta, mas quem ouviu se apaixonou instantaneamente pelo projeto musical Waxahatchee, nome da cidade onde nasceu e cresceu no Alabama. Por aí há mais de uma década, ela é conhecida por fazer uma música econômica, com poucos instrumentos e palavras, e muito potente emocionalmente. Por isso, é sempre legal ouvir um novo lançamento dela. O novo é “Tigers Blood”, sexto trabalho de estúdio da carreira.
A delicadeza da abertura chamada “3 Sisters” mostra como Crutchfield é uma compositora que consegue colocar muito sentimento nas composições, usando pouca coisa para transformá-la em algo bom para ser compartilhado com o público. Uma boa letra, guitarra, violão, baixo e bateria são capazes de maravilhas quando bem usados. E, diferentemente da primeira, “Evil Spawn” traz uma faixa grudenta e um refrão inesquecível por alguns dias (“But there ain't nothing to it, babe/ We can roll around in the disarray/ In the final act of the good old days”).
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“Ice Cold” traz o country de vez para mistura com uma música melancólica sobre a sensação de nunca mais amar novamente, já a balada romântica “Right Back to It” parece realmente vir direto do Alabama para os ouvidos pelo clima de cidade pequena e do silêncio rompido pelos pássaros ou pelos veículos que passam quase de hora em hora.
“We go another round, I got nothing to say/ It don't make a difference/ Might be good on my own, but I ain't running away/ I wanna chase it to the end/ When I'm seeing a vision” é o refrão de “Burns Out at Midnight”, quando Crutchfield divide o vocal com MJ Lenderman e ambos transformam a canção em uma das mais deliciosas do ano. Em pouco mais de três minutos, eles mostram o poder de uma ótima canção pop que merece ecoar por aí.
A guitarra é plugada e surge logo na abertura de “Bored”, essa um country rock de dar orgulho aos precursores do gênero, com mais um ótimo grande momento no refrão — esse gritado, um desabafo sobre tentar até conseguir fazer o necessário para algo acontecer. E o clima melancólico retorna em “Lone Star Lake”, uma das muitas do álbum com o banjo extremamente presente do início ao fim, em “Crimes of the Heart”, um emaranhado de clichês que as pessoas não admitem, mas gostam de ver, ler, ouvir e vivê-los, e em “Crowbar”, outra com refrão certeiro.
“365” é o desabafo que abre a parte final com Crutchfield praticamente declamando a música ao invés de cantá-la, enquanto “The Wolves” traz uma história sobre um relacionamento conturbado, em uma linha muito fina entre paixão e desistência o tempo inteiro. Por fim, a faixa-título termina de maneira sombria em uma história triste e solitária.
Na música atual, pela contaminação pelas redes sociais e outras coisas, é difícil um artista manter-se firme e fazendo o que gosta. Waxahatchee consegue manter uma consistência admirável em uma década sem álbuns ruins, ainda que uns melhores e outros menos bons. “Tigers Blood” é simples e delicado na medida certa para ouvir diariamente, pela identificação fácil e arranjos simples.
Ficha técnica
Tracklist:
1 - “3 Sisters”2 - “Evil Spawn”
3 - “Ice Cold”
4 - “Right Back to It”
5 - “Burns Out at Midnight”
6 - “Bored”
7 - “Lone Star Lake”
8 - “Crimes of the Heart”
9 - “Crowbar”
10 - “365”
11 - “The Wolves”
12 - “Tigers Blood”
Gravadora: ANTI-
Produção: Brad Cook
Duração: 42min46
Avaliação: ótimo
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