Crítica: Clairo - Charm

Impressionar Rostam Batmanglij, ex-Vampire Weekend, e o produtor Jack Antonoff, conhecido recentemente por trabalhar com Taylor Swift, colocou duas coisas péssimas em cima do início de carreira da jovem Claire Elizabeth Cottrill: pressão e expectativa em cima de alguém com isso desde muito cedo, sendo filha de Geoff Cottrill, famoso gerente de marketing de diversas empresas ao longo de quatro décadas de carreira. As críticas em cima dela vieram com tudo.

Do privilégio em nascer em uma família rica até não precisar de música para viver, tudo era motivo para criticar alguém que conseguiu entrar no Billboard Hot 100 com o primeiro single e explodiu de vez em “Sling”, segundo trabalho da carreira. Mas ela não só continuou o projeto musical Clairo, como abriu mão do contrato com a Fader e partiu para a independência em “Charm”.

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Logo na abertura, “Nomad” explora a solidão e a dificuldade em criar qualquer conexão emocional em um relato muito bonito e comovente, com o vocal delicado funcionando muito bem. A sequência com as faixas “Sexy to Someone” e “Second Nature” misturam o desejo de ser sexy para alguém com a fé de que o amor certo está destinado a acontecer a qualquer custo. É importante observar, nesse início de trabalho, como ela e o produtor Leon Michels exploram o pop mais simples com elementos mais alternativos em uma união muito proveitosa ao conseguir destacar os melhores aspectos da cantora.

A melancólica “Slow Dance” tem andamento mais lento e um arranjo que flerta com o jazz e misturado com pop (“And, too, when candles burn out/ And the record is faded down/ I know you've got people to turn to/ And, too, when candles burn out/ And the record is faded down/ I know you've got people to turn to”), já “Thank You” é certeiro na simplicidade. Ambas apostam no refrão grudento e certeiro, desses de ficar dias na cabeça (“I really hate to admit it/ I put my pride on the line/ 'Cause when I met you, I knew it/ I'd thank you for your time/ I'd thank you for your time/ Thank you for the time”).

Ao explorar elementos antigos nos instrumentos e no vocal em “Terrapin” e “Juna”, ela mostra que também sabe usar bem as influências adquiridas ao longo dos anos em assuntos como liberdade em um relacionamento nada complicado e com ambos se conectando muito bem. E vulnerabilidade aparece mais uma em “Add Up My Love”, faixa que lembra os momentos do R&B do início dos anos 2000.

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“Echo” abre os momentos finais do trabalho de maneira suave e, mais uma vez, os elementos colocados na música fazem toda diferença no andamento mais experimental do que as anteriores, enquanto a balada tristonha “Glory of the Snow” e a profunda “Pier 4”, só no violão, encerram o trabalho.

Clairo conseguiu entrar no grupo, cada vez mais amplo, de mulheres que fazem música indie e triste com um trabalho muito atento aos mínimos detalhes na composição de cada música. “Charm” abre o caminho para independência de maneira segura em um desabafo pessoal praticamente retirado do diário da cantora.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Nomad”   
2 - “Sexy to Someone”
3 - “Second Nature”
4 - “Slow Dance”
5 - “Thank You”
6 - “Terrapin”
7 - “Juna”
8 - “Add Up My Love”
9 - “Echo”
10 - “Glory of the Snow”
11 - “Pier 4”

Gravadora: Clairo
Produção: Claire Cottrill & Leon Michels
Duração: 38min02

Avaliação: muito bom

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