Crítica: Jack White - No Name

Jack White é um desses artistas que nove entre dez pessoas que gostam de música morrem de inveja. Eu tenho inveja. Você tem inveja. Aquele seu amigo que coleciona vinil e pode passar horas falando sobre a new wave japonesa dos anos 1970 tem inveja. Ele, guitarrista, montou um duo no final dos anos 1990 (o White Stripes) e fez um enorme sucesso no início da década seguinte, partiu para carreira solo e manteve o ritmo. E ainda tem uma das gravadoras mais legais e descoladas do mundo, a Third Man. Como não invejá-lo?

Para aumentar ainda mais o sentimento, no último final de semana, as lojas da gravadora estavam dando um vinil de brinde para quem fizesse uma compra. Esse LP, sem nome e nenhuma informação, nada mais é que o novo trabalho de estúdio de White. Para tornar tudo mais legal, ele disse que as músicas só seriam disponibilizadas se quem comprou jogasse na internet de alguma maneira. Assim aconteceu.

Estou no Twitter e no Instagram. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog! Confira a agenda de lançamentos

“No Name” funciona como um retorno dele ao básico da carreira, colocando um pouco de lado o experimental dos dois discos anteriores de 2022, como “Old Scratch Blues” e “Bless Yourself”. Um relaxado guitarrista mostra que não perdeu o jeito em fazer a música simples e muito efetiva que o levou ao sucesso há mais de 20 anos. E com “Bless Yourself” e “It's Rough on Rats (If You're Asking)”, somos inegavelmente transportados aos melhores momentos do White Stripes, essa mistura de blues com rock tão forte na carreira dele.

Não sei se a vontade em voltar a fazer algo assim o motivou, mas a guitarra soa mais agressiva do que nunca, quase como se ele usasse o instrumento como forma de desabafo. A ligeira “Archbishop Harold Holmes”, em que ele quase não para de falar, e a potente “Bombing Out” são provas disso. Ele soa melhor e mais inspirado do que nunca nesses dois momentos particulares. E a primeira parte do álbum fecha com “What's the Rumpus?” e um dos melhores refrões dele dos últimos anos (“I’ve got a feeling that the truth’s become opinion these days/ That train has left the station but our love will grow/ It’s floor to ceiling, unappealing, but who cares what they say/ ‘Cause it doesn’t matter who it only matters what you know”).

Se você pensa que a segunda parte começa com uma balada ou algo mais leve, você pensou errado. “Tonight (Was a Long Time Ago)” emenda com a anterior tão bem e flui de um jeito, que, se entrar nos serviços de streaming, faz todo sentido organizar assim. O ouvinte não perde o fôlego, quase como se White quisesse prender você ao máximo com essas músicas. Mas, calma, ele entrega uma sequência mais leve (mais ou menos) em “Underground”. Parece que o mesmo acontece em “Number One With a Bullet”, mas logo a faixa acelera de um jeito que ele não fazia há uns 15 anos.

Veja também:
Crítica: Cassandra Jenkins - My Light, My Destroyer
Crítica: Clairo - Charm
Cinco discos #1: Amaro Freitas, Dandy Warhols, Folk Implosion, Guided by Voices e Diego Xavier Trio
Crítica: Neil Young & Crazy Horse - Early Daze
Crítica: Waxahatchee - Tigers Blood
Duas críticas: Justice e MGMT

“Morning at Midnight” tem um quê de rock de garagem que bandas novas dariam qualquer coisa para conseguir chegar perto de algo parecido - nem é o melhor momento da carreira do guitarrista. A menos boa “Missionary” encaminha o ouvinte para o final, encerrado com “Terminal Archenemy Endling” e um recado no refrão: “I thought I knew it all, I thought I knew everything/ Yeah, that I would never fall, fall for anything/ At all” (“Eu pensei que sabia de tudo, pensei que sabia de tudo/ Sim, que eu nunca iria cair, cair por nada/ De jeito nenhum” em tradução literal).

Jack White faz um retorno às raízes com “No Name”, ou seja lá qual for o nome do disco quando sair oficialmente nas plataformas digitais. Com a guitarra afiada em composições fáceis de sair cantando por aí, ele, perto de completar 50 anos, continua como um dos últimos heróis da guitarra de um tempo que não existe mais.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - “Old Scratch Blues”
2 - “Bless Yourself”
3 - “That's How I'm Feeling”
4 - “It's Rough on Rats (If You're Asking)”
5 - “Archbishop Harold Holmes”
6 - “Bombing Out”
7 - “What's the Rumpus?”
8 - “Tonight (Was a Long Time Ago)”
9 - “Underground”
10 - “Number One With a Bullet”
11 - “Morning at Midnight”
12 - “Missionary”
13 - “Terminal Archenemy Endling”

Gravadora: Third Man
Produção: Jack White
Duração: 42min22

Avaliação: ótimo

Comentários